domingo, 14 de julho de 2013

Sobre Itararé e as esquinas brasileiras


Caros sobrinhos, nesta reflexiva, chuvosa e modorrenta tarde de domingo vitoriano...

Imaginem uma pitoresca situação onde TODOS cidadãos saíssem às ruas com certeza da solução para melhorar o país. Eu não veria uma Torre de Babel, pelo contrário, veria quase que um coro em torno do que a sociedade, hoje, é induzida a "perceber": A culpa é da corrupção.

Valho-me, sempre, da máxima do Barão de Itararé: "Negociata é todo o negócio no qual eu não estou ganhando." Ou seja, como posso esperar que a raiva contra a corrupção seja legítima sendo, apenas, culpa do OUTRO. Porque nossa sociedade SEMPRE foi leniente com pequenas faltas, pequenos deslizes. o próprio alto índice do mercado informal, em torno de 35% da economia nacional já, por si, é um seguro termômetro de elasticidade ética e moral, comum a nossa morena idiossincrasia.

Valho-me, também, das recentes, instantâneas e brevíssimas  revoltas do boato do fim do bolsa família e as profusas notícias de cidadãos comuns perpetrando roubos de carga em caminhões tombados, golpes de clonagem de celular, cartões de crétido, pirâmides de toda sorte, enfim, um considerável elenco de desvios e subtrações corriqueiras que são impossíveis de serem realizados pelos quase oito mil políticos em um universo de 200 milhões de habitantes.

Alguns poucos elementos subsidiam minha visão, certamente parcial, desses recentes fenômenos do "vem p´ra rua, vem".

O primeiro deles foi a irrisória quantidade de cidades onde as mobilizações tiveram lugar. Ainda que com população expressivamente maior em quantidade, a dos que foram às ruas, dentro deste mesmo universo, também são irrisórias. Ou seja, o que são os supostos um milhão de pessoas nas ruas de São Paulo versus sua população, incluindo cidades do entorno.

A segunda impressão deriva do "público pagante-atuante" da manifestação: Pessoas com poder aquisitivo suficiente para sentirem nos bolsos os impactos dos programas assistencialistas versus a ineficiência de serviços públicos sobre os quais a expressiva maioria não usa.

De sorte que, sob a ótica de um mestre em Segurança e Defesa (Interamerican Defense College e Universidad del Salvador), minha visão foi a da insegurança pública a principal mola propulsora da sensação do basta. O "sentir-se seguro" apesar de, aparentemente, monocromática percepção, é resultado de um considerável elenco de fatores que subjazem na perpcepção do dia a dia de qualquer cidadão. Alia-se a tal impressão, os preceitos da famosa pirâmide de Masllow acerca das necessidades básicas do cidadão onde a sensação de segurança é básica, perdendo, apenas, para a da alimentação (manter-de vivo)na prioridade. Não há conjecturas, análises, avaliações na mais pura, genuína e institiva resposta da integridade corpórea e biológica do ser humano.

Assim ante a minha, eventualmente insipiente, visão do que mobilizou os manifestantes às ruas -relembrando a expressiva quantidade de portadores de aparelhos de celular, acesso à internet, roupas bem confortáveis e absolutamente nenhuma noção ou mensão de indigência no porte e vestimentas- sugere pessoas cujas famílias tem a absoluta noção de altos impostos cobrados nos bens, nos serviços e no recolhimento salarial de emprego estável ainda que comerciantes fossem.

O jovem que foi para as ruas portou uma confusa sensação de a corrupção dos políticos é a causa básica de seu cagaço de andar seguro nas ruas, carros nos sinais de trânsito, ônibus, metrô etc. Aliado a isto, por ter acesso a informação e ver, eventualmente, vizinhos e amigos próximos chocados com assaltos e comiserados pela perda da vida de próximos, confunde a impunidade (alimentada pela própria anuência do perfil "politicamente correto" da própria sociedade) com desmandos de verbas, tendo-se as construções de estádios de futebol como um "laranja" oportuno para se descarregar a revolta.

A televisão, hoje em dia, propaga uma profunda sensação de caos social e insegurança pública. Crimes de toda sorte são os campeões de audiência televisiva, da manhã à noite, eventualmente permeada com a mais pura e genuína profusão de programas de pouca profundidade cultural e intelectual. A sensação de impunidade prevalece no inconsciente coletivo sem, todavia, condições de emergir com forma e alvo definidos.

Outro parâmetro pelo qual meço a validade ou não de ter havido repentina consciência coletiva acerca da necessidade de uma reforma política em abstraio dos assuntos que vejo postados no Facebook dos meus mais de três mil contatos onde, no máximo cinco, dentre eles, postam assuntos de verdadeira importância e densidade para nosso desenvolvimento sócio-econômico sustentável e harmônico. Da mesma forma, as páginas de assuntos mais acessados encontrados nos sites de maior visita (msn, yahoo, uol, etc) dão conta de uma esmagadora quantidade de assuntos da mais solene e singela platitude e rasa profundidade cultural. Como é que, de repente, nada mais que de repente, demandas de profundo conhecimento politico e social emergiram das passeatas? Impossível.

Muitos me dizem que, apenas, aponto as falhas, sem indicar caminhos. O máximo que posso fazer, por não ser político, não ganhar para tal e ser, apenas, um cidadão interessado, é lhes falar a fórmula que uso para saber um pouco mais: Selecionar minha leitura. Leitura útil (repetida à exaustão) é o principal ingrediente. O segundo ingrediente é diminuir o tempo que se gasta na televisão e na internet e buscar informação útil, daí aumentar-se a capacidade de se conhecer e refletir para, então, começar a vislumbrar alguma saída. Sem este caminho considero impossível qualquer mudança positiva, ainda mais que o governo, por intermédio das mídias sociais e jornais por ele subvencionados, focam, evidenciam, estressam vários temas risíveis que, pela repetição, dá-se a impressão de serem fundamentais, quando não passam de mero varejo. Dentre eles cito a repetição exaustiva do "Fora Renan, Sarney etc", depois o affair do deputado-pastor ("não me representa" e por aí vai), uso indevido mordômico de aeronaves militares, altíssimo custo das obras dos estádios e os inexoráveis desvios de recursos públicos (impressionante como, repentinamente, todos passaram a ser especialistas em contas públicas e da Lei 8666...) enquanto os graves problemas sociais e econômicos se intensificam.

Há que se ler mais, há que se ler leitura útil. Buscar conhecimento nos problemas de saneamento público e seus catastróficos resultados, da mobilidade urbana e seus caóticos resultados, da questão do tratamento de resíduos sólidos e lixo urbano e seus danosos resultados, da insipiente educação básica, do apagão de mão-de-obra, da violência urbana, sua gênesis e resultados, da saúde pública dificuldades de gestão e seus resultados, da baixa qualidade da gestão pública de todos os agentes públicos municipais, estaduais e federais. Enfim, o elenco de sugestões é enorme. De minha parte venho contribuindo há anos. Aliás meu perfil e proposta nas mídias sociais, tanto no Face como no Linkedin é, somente, colocar artigos e elaborar textos que venham, real e definitivamente, agregar valor a quem se dê o trabalho de perder alguns minutos lendo. Eu não tenho conhecimento ou condições de mastigar e colocar o entendimento na goela do leitor interessado, seria um tipo de "bolsa cultural e intelectual" que aleijaria, ainda mais, a capacidade de discernimento, decisão e ação do leitor cidadão. Artigos e texto eu posto há mais de três anos, fora os anteriores, antes do Face, que enviava para emails dos interessados.

Neste mister, sinto-me no direito de ressaltar que o interesse é muito baixo, visto pela quantidade de acessos que acompanho. De sorte que eu não tenho alternativas, desconheço. Se acham inoportuno eu apontar erros achando que não dou as sugestões de saída resta-me parar e voltar minha atenção para meus mais próximos. Insisto que as mobilizações nas ruas, HISTORICAMENTE, no Brasil resultaram em pouquíssimos resultados concretos de mudanças, aliás, a própria ascenção de Lula e do PT, a partir da mobilização do Fora Collor, é o melhor e, por muito tempo será, referencial e argumento. Faz parte de nossa morena e fagueira idiossincrasia. Por fim, continuo insistindo, pela décima segunda vez, que a leitura de dois excelentes livros, dentre os vários que li e leio, "A cabeça do brasileiro" e "A cabeça do eleitor" do antropólogo Antônio Almeida (que não conheço pessoalmente, tampouco tenho ligação) ajudará, sobremaneira, aos interessados em entender o nosso Brasil, nossa sociedade e ajudar a vislumbrar o que é possível se mudar em nosso país a partir, e nunca dissociado, de sua peculiar e pitoresca idiossincrasia.

Agora...tem que ler, tem que ler...
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