sexta-feira, 23 de março de 2012

Considerações sobre o silêncio...dos bons e dos sumidos...

Existe tempo nesta  terra para orar, para falar e para calar...


Amigos, no ano de 1998 comecei a navegar pela internet. Comecei a coletar emails de amigos e enviar-lhes notícias lidas em jornais, via de regra artigos e editoriais. Digitava-os no intervalo do almoço por não ter acesso a muitos via webpage. Com o passar do tempo a quantidade de emails de amigos foi amentando. Quando encerrei a faculdade já havia cerca de trezentas pessoas para quem envia tais artigos. Com o tempo a quantidade foi aumentando, incluindo pessoas que jamais tinha visto pessoalmente mas que se diziam satisfeitas em receber os artigos selecionados.

Havia algo que me intrigava: Os comentários sobre os eventos enviados eram muito poucos. Contrapunha-se às conversas que tínhamos pessoalmente quando estes eu encontrava. Comentando tal fato com meu professor de informática este respondeu-me ser devido a baixa capacidade de acesso a informação que as pessoas tinham para fazer algum juízo de valor e comentar o que enviava.

O tempo foi passando e cheguei a ter mais de mil e duzentas pessoas para quem enviava o mesmo material, divididos em mais de dez mailling groups distintos. O que permanecia igual era, inexoravelmente, a baixa quantidade de pessoas que se dignavam a responder ou enviar algum material para ser difundido entre os demais.

Participava, também, de grupos de discussão. Começando com o abril groups que, depois, foi incorporado pelo yahoo. Nascia, mais adiante, o google groups. Por intermédio destes passei, também,  frequentar outros grupos de discussão nos EUA, França, Alemanha, Inglaterra e, brevemente, um na Espanha. A diferença de participação diária era notável. Os assuntos escolhidos, sempre economia, política, desenvolvimento, educação etc, dividiam-se em outros grupos. Havia dias em que não abria o email e no dia seguinte havia quase duzentos emails recebidos. Todos apresentando novos assuntos para debates ou respondendo os temas já propostos. Com o advento dos cursos de carreira e dos mestrados tive que abandonar estes grupos restringindo, ainda mais, a participação nos nacionais. Estes, por sua vez, sempre com poucos emails dos contumazes em trazer novos temas frente a abulia dos signatários, sempre invisíveis ou em cima dos muros.

Já em conversa com um professor argentino que nos deu uma aula, uma senhora aula, sobre crimes cibernéticos este me alertou para nossa latina idiossincrasia. Não fomos criados ou habituados a sermos de pensamento independente ou de sermos empreendedores como os europeus e americanos. Com o tempo constatei tal verdade. Mesmo nos grupos que participei em módulos do mestrado em Seg e Defesa, os que mais traziam assuntos novos eram os americanos, os canadenses e um de origem chinesa. Nossos amigos latinos tinham o mesmo perfil de aguardar alguém se manifestar para responder.

Talvez em um parco traçado comparativo, entendo a dificuldade de nossos continentes em progredir economicamente, além das enormes restrições de aspecto estrutural, conjuntural e, até, climatológico e topográficos (tornados, ciclones e terremotos são  muito comuns entre os amigos da América Central e Caribe.

Bem, porque trago isto a baila? Porque está me preocupando, inobstante a fácil e farta capacidade de acesso à internet e mídias sociais que meus contatos têm a sua disposição, os assuntos mais pujantes que nossa sociedade enfrenta e patina não são discutidos, a exceção, é claro, dos que sempre se encaixam na velha média. Entre três mil contatos tenho menos de dez contatos que lançam e debatem problemas maiúsculos sociais e econômicos. E o que isto tem a ver no contexto? Uma enorme dificuldade de se entender o que nos ocorre. Como exemplo cito a celeuma causada por eventos de gestão de prefeituras frente a intempéries climáticas e os alerdes feitos acerca de desvio de dinheiro.

Neste particular chama-me a atenção as campanhas no FB para se parar crimes, sob nosso ponto de vista, perpetrados em outros países, tais quais crianças abandonadas na China, meninas de tenra idade obrigadas a se casarem com truculentos, pequenos animais servindo de refeição. Campanhas com enorme quantidade de adesão para resultados improváveis por não se observar a auto-determinação cultural e administrativa das nações. Ou seja, aumentou-se o acesso a informação mas a capacidade de fazer bom uso dela não acompanhou tal evolução.

Enfim, aos que tiveram a paciência de até aqui chegar alerto que nosso país não está bem, estamos atravessando graves crises institucionais, membros do governo estão insistindo em focos de propagação ideológica no controle da mídia, desqualificando a autoridade paterna, materna, a importância da Escola e da Igreja (seja qual for)  na vida do cidadão. Aliás, o recente imbróglio entre denominações religiosas é muito crítico e lamentável.

Por outro lado nossa indústria está sendo sufocada a níveis da década de cinquenta por resultado de guerras fiscais entre estados cujos governadores atraem investimentos estrangeiros com isenções de toda ordem, priorizando insumos e produtos importados e subtraindo postos de trabalho no país. Vê-se uma enorme quantidade de pessoas antes empregadas  nas indústrias agora nas ruas vendendo chips de telefones, tickets de metro, transporte urbano, anotadores de jogo de bicho, anunciadores ambulantes de produtos de toda sorte além de uma explosão de comércio de camelôs disputando espaço com carros em um trânsito já caótico.

No campo da agricultura, nosso principal veio de excelência em uma sociedade de baixa literaturidade, enfrenta-se dificuldades notadamente por problemas de câmbio e de aprovação do Cód Florestal.

A área de Educação com seus contumazes índices de desempenho sofríveis, com vários e repetidos problemas de gestão por interferência autoritária e excludente dos conselhos de educação. Um dos resultados mais significativos é o apagão da mão de obra.

Enfim, os demais segmentos de saúde, saneamento, infra-estrutura, transportes etc são por demais longos para se considerar agora, porém de igual importância.

O que me leva a tal consideração é a enorme quantidade de assuntos banais e memes que frequentam os posts do Facebook e do twitter, dando conta de que os usuários, com presumível capacidade intelectual e financeira para transitar tem tais espaços, mostra-se, cada vez mais, alheio ao que ocorre a sua volta.


A violência urbana não recrudesce e o combate ao crack, às drogas e bebidas parece exaurir os meios públicos já depauperados por desvios e mau uso de usuários.

Eu não quero ser o arauto do apocalipse, mas não vejo um futuro tranquilo em poucos anos para nós. A crise institucional está se agravando e as demais instituições da chamada sociedade civil organizada se habituou aos fáceis recursos governamentais e não vem se pronunciando como deveria.

A anomia social está se intensificando por intermédio de um sutil controle midiático. Memes, futebol, UFC, BBB e outros são estimulados para cumprir este papel.

Usa-se, muito, uma imagem de Martin Luther King acerca de sua preocupação sobre o silêncio dos bons. Agora eu pergunto se nossos bons fazem alguma idéia do que está acontecendo para não silenciarem...duvido.

Enfim, vamos ver o que vai dar.  
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Um comentário:

  1. Isso tudo pela carência que temos hoje na educação. Hoje você sabe que um universitário tem dificuldade de escrever um português correto, isso para não falar de outras coisas. A falta de uma excelente educação faz com que as pessoas fiquem alienadas a tudo que esta acontecendo ao seu lado. Imaginas que um professor, aqui no Rio Grande do Sul, ganha menos que muitos profissionais que nem os bancos escolares freqüentaram. Não exerci a profissão de professora, mas, o que sou hoje só agradeço aos grandes mestres que tive e ao ensino que me foi dado nas escolas por onde passei. Nosso povo precisa lutar com unhas e dentes por educação de qualidade, pois POVO SEM SABER, não consegue lutar por dias melhores.

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