sexta-feira, 30 de março de 2012

Leitura útil

Fazendo uso de minha prerrogativa de não ser acometido pela enfermidade do "politicamente correto", posto que pareço ser um composto biológico repulsivo a tal vírus, aproveito para tecer algumas considerações sobre nossa capacidade de buscar um livro ou uma leitura aproveitável. Enfim...


Somos, de fato, uma sociedade paradoxal. Ao mesmo tempo que se registra que 75% dos brasileiros não frequentam bibliotecas ou centros de pesquisa. Por outro lado, a indústria de livros , notadamente os de auto-ajuda, comemoram record de vendas.

Stephenie Meyer (Saga dos Vampiros) , J.K Rowlings (Harry Potter), Gaparetto, Augusto Cury, Paulo Coelho e padres estão comemorando vendas altíssimas.




É pertinente dizer que todo e qualquer tipo de leitura é válida? Depende, se fôramos uma sociedade desenvolvida e não tivéssemos tantos problemas estruturais e conjunturais que nos ancoram, inexoravelmente, na desigualdade e violência urbana, seria uma assertiva válida.

Quando me deparo com dados dando conta uma média de 3% de aprovação de bacharéis em Direito em exames da OAB. Com os conselhos de toda ordem (Medicina, Enfermagem, Engenharia, etc) informando que seus testes apontam em torno de 60% de aprovação, em plena segunda década do século XXI, equivale dizer que o hábito de leitura não só não se consolidou mas, para os expoentes, orienta para o lado errado que a sociedade demanda.

Quando vejo uma enorme quantidade de posts em redes de relacionamento acusando de gestão corrupta problemas de uso de verbas (i.e IPVA) acusando políticos de desvios de recursos em enchentes, estimulando campanhas contra alvos inatingíveis legalmente, exposição de torturantes fotos de crianças com fome na África e alhures, expõe-se, desta forma, uma profunda dificuldade de se entender adequadamente os fenômenos sociais que nos cercam.





Entendo, claro está, que leitura é um hobby e cada um lê o que bem entende, todavia, se quisermos, de fato, nos preocupar com redução de desigualdade social, violência urbana e desenvolvimento social já urge uma modificação de hábitos de leitura.

Além de romances vampirescos, leituras de auto-ajuda, espirituais toda uma gama estimulativa de visão introspectiva, nossa sociedade para vencer seus complexos desafios cada vez mais precisa que o cidadão olhe para fora de seu umbigo e se preocupe em interagir com o "coletivo" em busca do bem "comum" e não seu exclusivo do resto. Está no momento do cidadão se interessar por saneamento público, saúde, energia, transporte, mobilidade urbana, gestão orçamentária pública, educação etc etc. Uma miríade de temas que clamam e anseiam pela compreensão do televisivo cidadão comum.

Solução que vejo para tanto?  Leitura útil. Não se abandone os hábitos conquistamos, mas que não sejam, sempre, prioritários e sim subsidiários. 

A cidadania se constrói de forma constante. Leitura útil, amigos, leitura útil.
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