sábado, 17 de março de 2012

Uma escola do outro mundo

 ZUENIR VENTURA
O GLOBO


É tão fácil encontrar motivos para falar mal do ensino no Brasil - alunos desmotivados, professores insatisfeitos, pedagogia defasada - que quando se depara com o contrário, como aconteceu comigo essa semana, parece outro mundo. Vivi a experiência no Núcleo Avançado em Educação (Nave), da Escola Estadual José Leite Lopes, de nível médio profissionalizante, na Tijuca. Trata-se de um inovador centro de estudo e pesquisa que procura levar a escola a se conectar com a realidade contemporânea, aproximando os estudantes da linguagem digital e das novas tecnologias da comunicação. Contrariando a tendência que considera mídia e educação incompatíveis, atribuindo à primeira a culpa pelo enfraquecimento da segunda, o Nave acredita que elas são aliadas complementares. Em vez de inimizade, convergência. Em lugar de deixar do lado de fora a TV digital, o iPad, o iPod, os games, trazê-los para dentro das salas de aulas e colocá-los criativamente a serviço do aprendizado.

É difícil descrever a experiência, a começar pelo ambiente, cheio de estímulos visuais, sensoriais e mentais, onde não se sabe o que é lazer e o que é dever. Aqui, uma menina pula diante de uma tela de plasma onde o desenho reproduz seus movimentos. Ali, um retrato de Machado de Assis feito com palavras retiradas de sua obra, como se fosse um quadro de Vic Muniz. Ao lado, um estúdio de TV. As salas de aula não têm carteiras, mas mesas com computador. Os móveis desenhados especialmente, as instalações ultrafuncionais, os equipamentos eletrônicos moderníssimos - câmeras, mesas de montagem e edição - tudo isso me dá a sensação de que saí de um parque jurássico diretamente para o ano 3000.

Mas esse é apenas um dos aspectos, o instrumental, de uma nova concepção pedagógica. Segundo a pesquisadora dos meios de comunicação Silvana Gontijo, que participa do Nave desde sua origem em Recife (o projeto é apoiado pelo Oi futuro em convênio com a Secretaria estadual de Educação), o mais importante "é formar pessoas, que aprendem a ser, a conviver, a conhecer e a produzir conteúdos de maneira solidária". Os professores são um capítulo fundamental desse modelo. Nada de conhecimentos estanques, nada de arrogância do saber. Eles interagem entre si e estabelecem com os alunos uma relação de troca e de trabalho em equipe e em rede.

Pelo que pude ver nas quase três horas que lá estive, o resultado é uma garotada inquieta, curiosa, conectada, mas com os pés no chão, sabendo que é preciso também obter boas notas no Enem e passar no vestibular, porque a realidade os espera na esquina. Não por acaso, o Nave costuma atrair cinco mil candidatos para as cerca de 160 vagas disponíveis a cada ano letivo.

Diante da reação dos aliados da presidente - com chantagem, represália e pirraça - a melhor explicação é do advogado Marcelo Cerqueira: "A Dilma não tem base de apoio, tem placas tectônicas."
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