Bernardo Mello Franco - O Globo
A esquerda venceu no México. Andrés Manuel López Obrador apresentou um programa nacionalista, declarou guerra à desigualdade e anunciou que governará “primeiro para os pobres”. Sua eleição já é histórica. Ao tomar posse, ele despejará os dois partidos que se revezam no poder há 89 anos.
O novo presidente imitou a guinada de Lula em 2002. Suavizou o discurso para conquistar a classe média e cortejou o mercado com a promessa de respeitar os contratos e manter o equilíbrio fiscal. Copiou até a ideia do “Lulinha paz e amor”, ao se reapresentar como “AMLOve”.
Ao festejar a vitória, ele chamou todos os mexicanos à “reconciliação”. Foi um gesto para distensionar o país e exorcizar o fantasma do autoritarismo. Na campanha, os adversários tentaram associá-lo aos regimes de Cuba e da Venezuela.
Nada indica que Obrador seguirá esses exemplos. Ele já atraiu um partido conservador para sua aliança e fechou parcerias com o empresariado ao governar a Cidade do México. Além disso, terá que negociar com os Estados Unidos, que consomem quase 80% das exportações do país.
Isso não significa que a relação com Donald Trump será um mar de rosas. O novo presidente prometeu rever concessões do petróleo e anunciou que retomará investimentos na estatal Pemex. Isso contraria os interesses das gigantes americanas, que aumentaram a presença no México.
A mensagem de Obrador foi capaz de mobilizar um eleitorado descrente com a política. Ele encerrou a campanha com um grande ato que lotou o estádio Azteca. A esquerda brasileira se animou com a vitória, mas há muitas diferenças em relação à política daqui. Obrador se elegeu por um partido novo, o Morena, e usou o combate à corrupção como mote de campanha.
Nossos partidos de esquerda não se renovaram e ainda têm muitas contas a acertar no departamento da ética. Jair Bolsonaro quer aumentar o número de vagas no Supremo Tribunal Federal. A ideia é inspirada no AI-2, baixado pela ditadura militar em 1965. Na versão original, o texto também extinguiu os partidos, acabou com as eleições diretas e autorizou a ditadura a cassar os direitos políticos de qualquer brasileiro por dez anos.
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