Ranier Bragon - Folha de S. Paulo
Após anunciar saída de cena, palhaço diz sofrer pressão das bases por 3º mandato
Em uma tarde de dezembro do ano passado, pollyannas de todos os matizes se comoveram com o primeiro e “último” discurso de Tiririca (PR-SP) na tribuna da Câmara.
Usando por oito vezes a palavra “vergonha” e suas derivações, o palhaço-deputado disse que abandonava a vida pública bem chateado e decepcionado com a experiência.
“Eu saio totalmente com vergonha do que eu vi nestes sete anos aqui.”
Nada disse sobre o que supostamente viu e, como um Pelé de terno e gravata, apenas aconselhou os colegas a olhar mais para o povo.
A vergonha e a decepção, porém, parecem estar se esvaindo do coração do nobre palhaço. Ou, talvez seja mais preciso dizer, nada como a chegada das eleições para jogar luz sobre certas conversas pra boi dormir.
Em entrevista à revista Crusoé, Tiririca não recuou por completo, mas ponderou: “Meu público pergunta: você vai entregar essa vaga para outro que não presta? É melhor um que não consegue fazer nada lá do que outro que faça coisa errada”.
Tiririca recebeu 1,35 milhão de votos dos paulistas em 2010. Em 2014, outro 1 milhão. Praticamente nada fez nesses oito anos. Tivesse seu eleitorado votado em um pé de mamão papaia, alojar-se-ia o pé em uma das cadeiras da Câmara por esses anos e diferença nenhuma se faria notar.
Manter Tiririca no Congresso coroa todo o movimento de revolta estéril e abobalhado que prega o “pior que está não fica”, a tese de que é preferível o pé de mamão a um ladrão e de que tanto faz como tanto fez votar em a, b, c ou no Rin Tin Tin.
Há muitos inconsequentes que sonham com o regresso civilizatório. Nessas cabeças primatas, basta tacar fogo no Congresso e empurrar meia dúzia de generais de volta ao Palácio do Planalto para que se resolvam todos os problemas do país.
Tiririca tem dois caminhos: patrocinar o papelão de se desdizer, e aí se revelar muito mais político do que quer fazer parecer, ou manter a palavra e voltar a ser palhaço sem terno e gravata. Melhor do que está pode não ficar, mas já seria um começo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário