quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O culto do amadorismo

Existem algumas modas que chegam e tentam buscar seu espaço em nosso mundo organizacional amparadas em modismos de fora sem a preocupação de verificar se nossa idiossincrasia social absorve de maneira fluida estas novidades comprovadas (???) em outros países.
Durante um bom tempo lia artigos na mídia corporativa acerca de profissionais adaptáveis às mudanças organizacionais fruto da globalização. Aliás, globalização era a palavra mágica, a palavra-chave em inúmeros artigos científicos ou não. Assim, o profissional deveria estar sempre pronto para mudanças que, segundo os consultores e escritores, acontecia todo o tempo e a toda hora. Dava-me a impressão de que se comprasse um software e pegasse um engarrafamento no caminho de casa ao instalá-lo no computador ele já estaria ultrapassado.
O profissional, por sua vez, não deveria, jamais, pensar em esquentar uma cadeira nas organizações que lhes empregavam para que, com o tempo –o pior, tem sempre o danado do tempo na equação- adquirisse experiência e retornasse em competências agregadas (sempre me policio ao usar essa nomenclatura corporativa, pois há o risco de escrever uma página inteira e não dizer absolutamente nada – é um risco que corro por ler demais as revistas e artigos de mídia corporativas).
Ainda bem que a moda da “mudança” diminuiu o seu ritmo, aliás, a crise econômica que já se vai, teve de mérito dar uma considerável diminuída nestas propostas inexoráveis.
Ultimamente, contudo, vem à baila a questão das gerações. Nintendo, Playstation (ainda bem que estarei de fora quando a geração Wii começar a ser proposta nos artigos, pois lidar com pessoas em ambiente de trabalho simulando jogos de tênis, corridas, surf, windsurf etc vai ser demais para mim). O fulcro da questão é a brevidade: De tempo, de conceitos, de percepção e, como resultado infalível, de decisões questionáveis.
Pergunto-me como poderia ser possível alguém que lê pouco, que se expressa de forma sucinta (conforme propõe tais análises), liderar alguma organização em tempos tão complexos?
Será que, de fato, os CEO de grandes empresas ou multinacionais foram educados a se expressar ou ver o mundo de forma tão sucinta, blogística e clara como o apregoado para as novas gerações?
De que forma alguém que se ampara em informações breves e curtas, que escreve de forma também muito breve, consegue passar alguma informação, avaliação de cenário, estabelecer um consistente processo decisório em apenas, a título de exemplo, 140 letras? Não tem nada de errado nesta perspectiva?
Penso que nada melhor para formar um cidadão e profissional do que o hábito da leitura, da reflexão e discussão sobre o conteúdo lido. O processo decisório é complexo e, no meu caso,somente logrei êxito pois nas circunstâncias que enfrentava sempre lançava mão de um conhecimento obtido em um livro clássico ou não que havia lido.
Por exemplo, muito do que enfrentaram como problema de mitigação da enchente de Florianópolis poderia ser antecipado, como também evitado, se tivessem lido e discutido “Os miseráveis”, ou “Germinal”, ou “The Great Deluge” na época em que os envolvidos eram universitários ou jovens.
Ademais, o que há de mérito em um livro clássico? O autor debruçou-se em pesquisas, reflexão, contemplação da vida social e econômica em uma determinada época e exprimiu sua impressão por intermédio das artes. É por isso que se observa na biografia dos grandes CEO ou líderes sociais que os estudos de artes ou literatura estão densamente contidos em sua formação.
Quando a nós, uma das coisas ruins herdadas foram os pensamentos da Revolução Cultural de1968 iniciada em Paris. Ali o foco era se libertar dos grilhões da cultura e da formação tidos como retrógrados e nós, infelizmente, abraçamos com êxtase o culto do amador, do meia-sola, das questões de múltipla escolha, do resuminho, do macete para vestibular, das questõeszinhas que caem mais em concursos. Hoje nos deparamos com uma geração economicamente ativa de abúlicos que reclamam estarmos à mercê do mercado, dos políticos, das desventuras e buscando caminhos holísticos e espiritualizados para compensar as deficiências adquiridas.
Esse tipo de iniciativa de se exultar tais gerações irá, perigosamente, estimular o culto do meia-sola, do marromenos, do poraí que tanto nos assombra ultimamente.
Uma vez mais fomos classificados em 47º lugar em leitura dentre 54 países consultados. Será que esta será nossa saída para o primeiro mundo? E o que acontecerá quando estas gerações forem responsáveis pela gestão dos serviços públicos, de transporte, de energia, de produção industrial, financeira, de saúde pública e seguridade social? O que se esperar de decisões tomadas ou exaradas em circulares, portarias ou leis no estilo de blogs ou de micro-blogs. Para uma outra visão do fenômeno insisto na sugestão da leitura do livro "O Culto do Amador" de Andrew Keen (bastante questionado, diga-se de passagem), que toca, também, neste tipo de tendência.
Quanto aos renitentes em tais gerações penso que o mercado reservará para eles o eterno papel de coadjuvantes ou subalternos.

2 comentários:

  1. É, meu amigo, os tempos são outros...

    Devíamos pensar, obrigavam-nos a "decorar" o hino nacional e, por incrível que pareça, líamos!

    A leitura diversificada foi o arcabouço para alcançarmos, como famintos, o interminável desejo de saber mais.

    Quando leio Domenico De Masi e recebo comentários sobre um filósofo italiano que "incentiva a pregüiça" (ainda resisto a extirpar o trema...), faço um paralelo com um filme aparentemente bobo: Idiocracy.

    O argumento principal é sobre um homem comum que, após hibernar por 500 anos, resultado de um experimento do governo norte-americano, acorda em um planeta repleto de idiotas, sendo conduzido à presidência dos Estados Unidos, simplesmente por ser "mais inteligente".

    Entendo que a metáfora diverte quem não está preocupado com a mensagem transmitida pela película. Todavia desanima qualquer pessoa que questione o mundo ao seu redor.

    Não sei mais se devo cultivar John Lennon: "You may say I´m a dreamer, but I'm not the only one..."

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  2. No popular a vida tem aqueles que nascem para carregar o piano, outros para lustrar o piano e outrso para tocar o piano.
    Do todo a geração por si so num processo natural saira os melhores, os mais CDF's, os mais intelectuais, uma gama de diversidades e capacidades.
    Basta olhar lideranças que se despontam no meio politico como Lindembreg, Antonio carlos, basta olhar a renovação que esta sendo feita no Judiciario, mas é muito lenta o que temos contra nós chama-se tempo.
    Este não nos deixara ver um futuro mais promissor, por isto temos esta sensação de que falhamos e que as gerações que nos sucedem são piores do que nassa, mas não é apenas os tempos são outros e nada mais.

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