domingo, 18 de outubro de 2009

“Pobrismo”... novamente.

A mensagem vem rolando nos emails há quase um mês.

Mostra um casal em um resort tendo sua refeição em uma barraca dentro d’água, enquanto que brasileiros, de uma cidade grande, comem e bebem em uma barraca improvisada no meio de uma enchente.

Novamente aparece uma comparação entre nós, brasileiros, lascadinhos, tadinhos mas felizes e com criatividade suficiente para sermos felizes na m...enquanto os “ricões” têm tudo do bom e do melhor, nós queremos dar a impressão de que somos pobres mas somos felizes. É a pura síntese do “pobrismo” (um excelente neologismo criado pelo blogueiro Reinaldo Azevedo da Veja).

Esse tipo de mensagem era muito comum nos anos anteriores à vitória do Lula contra o Serra. Havia um sem número de msgs dando a entender que se o Lula fosse eleito nada mais daquilo aconteceria. Bem, esta msg aparece após sete anos de governo dele. Então, o que está errado?

Como sempre digo que os errados somos nós, sociedade. Esta eterna exaltação do lascado, do melhor existe na simplicidade do morro, enaltecido por poetas, sambistas, artistas tem que mudar um pouco. Mesmo porque há uma substancial progressão de pessoas das classes E e D para as imediatamente acima. E já cansamos de ver fotos de favelas com antenas parabólicas, televisores de plasma em barracos e outros apetrechos. Claro que é bom, mas melhor seria de forma ordenada.

Mas voltando à mensagem subliminar que a msg do email quer passar.

Vou arriscar uma visão filosófica e outra antropológica para mostrar como vejo a situação.

Nossa formação é diferente da dos europeus. Lá eles são educados, em sua grande maioria, sob a orientação calvinista e weberiana, onde o trabalho é enaltecido. Trabalhar e enriquecer, gastar e gerar emprego são obrigações de todo o cidadão, não motivo de vergonha ou de comiseração como a nós é passado em nossa educação, principalmente após anos de esquerda revolucionária inserida em nossas escolas, literatura, músicas, teatro etc etc. Nossa visão católica de ver o mundo faz com que nos sintamos culpados pela pobreza de quem não teve oportunidade ou, como muito acontece hoje em dia, pendura-se no Estado por intermédio de programas assistencialistas.

Então, de fato, ambas situações estão adequadas. O casal curtindo seu conforto após a riqueza amealhada com trabalho e os nossos com a fagueirice, a galhofa, o gozo da própria situação. Ambos são semelhantes, pelo menos neste aspecto.

Uma segunda situação diz respeito ao ambiente em volta. O primeiro em um hotel de luxo, o segundo em uma rua inundada. Quem estaria mais adequado. Claro está que o primeiro. Mas porque há diferença entre os dois cenários?

Os do primeiro cenário foram criados no coletivismo social, moldado, principalmente, em guerras e inverno que são, queira-se ou não, fenômenos educativos sociais em termos de forçar o cidadão a pensar no coletivo. Durante as guerras e invernos, os dois comumente associados na Europa, se alguém não cuida de seu lixo ou entope as galerias, faltará gás para o aquecimento, haverá contaminação da água pelo lixo congelado e penetrando, por rompimento de tubulações (esgotos e tubulações nas cidades européias, antigamente, ocupavam o mesmo espaço) como em função da neve eles não emergiam, misturavam-se até servirem as casas. Naquela ocasião, muitas das cidades que sucumbiram aos nazistas o faziam, até, de bom grado, pois esperavam que estes lhes dessem o abrigo, a água potável e o aquecimento. Claro está que nem sempre ocorria, somente em cidades estrategicamente importantes. Assim, morria-se mais por infecções do que por balas ou bombas. Está nos livros sérios, é só checar.

Uma simples constatação sobre os países de PIB mais elevado ver-se-á que eles têm invernos, via de regra rigorosos, sofreram invasões ou guerras e a maioria da população professa protestantismo ou similar de com base filosófica weberiana e calvinista.

Assim, após a guerra, o cidadão era obrigado a seguir as regras sociais em benefício do coletivo. Se não cumprisse era preso ou tinha sua propriedade arrestada. Aqui viraria o tadinho, o protegido pela constituição no seu inabalável e inexorável direito de ir e vir, de ser pessoa individual lixando-se para o coletivo. Por isso que se entope as galerias de lixo, catadores de lixo usam-nas como armários, pessoas jogam lixo fora dos carros, nas ruas, nas galerias, nos canais, rios etc. Quando chove, principalmente no Rio, as águas que descem a montanha precisam, por intermédio dos rios, canais e galerias, chegar até o mar, como estão obstruídos, entopem e enchem as ruas.

Aí o cidadão irresponsável, culpa o governo por desgoverno e descaso. Mas se ele tivesse exercido seu papel de cidadania coletivista, nada disso aconteceria. Atribui seu infortúnio ao destino, à pressão em mantê-lo subserviente aos “ricões” etc e por aí vai.

Mas o sorriso no infortúnio representado nas fotos da mensagem deixam claro sua “esperança no amanhã”, o país do futuro. Aliás, desde que fiz o primário em Anchieta, no Rio, é que ouvia os professores e palestrantes visitantes falarem que fazíamos parte da geração do país do futuro. Há mais de quarenta anos atrás que estamos sentados em berço esplêndido, em um país repleto de riquezas, mas que não conseguimos avançar em direção ao primeiro mundo.

Não teremos acesso aos meios de educação coletiva que aqueles países tiveram, nossa idiossincrasia e nosso arcabouço jurídico não nos obriga a pensar no coletivo nem por isso nos responsabiliza. Lendo o “Armas, Germes e Aço” e “A riqueza e a pobreza das nações” observa-se que a idiossincrasia, a cultura social e, sobretudo, o arcabouço de leis é que fizeram substancial diferença no progresso e fracasso de Nações. Neste mesmo propósito, acabo de ler o excelente livro de Malcolm Gladwell, "Fora de Série" que também trata dos caminhos para se atingir o sucesso. Os dois primeiros, inclusive, têm muitos conceitos falados neste último livro.

Uma observação de anos sobre nosso comportamento e comprometimento sociais faz-me crer que continuaremos patinando e sendo um país em desenvolvimento por muitos anos.

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