quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Kindle



Este aparelho se propõe a substituir o livro por livros eletrônicos.
Estava morando em Washington quando a primeira versão foi lançada. Como era cliente assíduo da Amazon.com, recebi a oferta de comprá-lo a US$ 199.00. Bem barato.
Esperei, contudo, ver as pessoas nas ruas para ver se o aparelho pegava. Meus referenciais de pesquisa eram o metro, os cafés e aeroportos. O americano jovem tem a mania de querer aderir logo a uma moda, para dizer que está “fit in”, está por dentro, inserido na moda e no contexto..
Bem, não vi quase ninguém usando nos primeiros meses. Vi alguns quando viajei para Nova Iorque.
Após dois meses recebi a oferta, por ser cliente da Borders, de adquirir o Sony Reader. Também esperei muito até ver uma única pessoa no metrô a quem após puxar uma breve conversa bajulativa, pedi para ver o produto. Após uma breve relutância a moça me cedeu. Devolvi logo ante a cara de ansiedade que ela tinha.
Para testar a teoria dos consultores organizacionais de mudanças, aqueles que vêem mudanças a toda hora e em todo o lugar, perguntei a gerentes da Barnes and Nobles e Borders se eles sabiam de alguma estratégia de marketing para competir com o Kindle e Ereader. Dos dez que perguntei em estados diferentes durante minhas viagens eles disseram que o americano comum sente prazer em andar entre prateleiras de lojas e bibliotecas e ser visto com um livro na mão. Eles não acreditavam que os livros eletrônicos iriam competir com os impressos. Também perguntei em supermercados e farmácias, de grandes cadeias, sobre estratégias para substituir os bolsilivros (pockets books). Da mesma forma disseram-me que eles eram imbatíveis.
Pedi, então, para dar um voltinha, um teste drive, no Kindle de uma vizinha, que após tentativas frustradas de encontrar alguém (a propaganda dizia ser um fenômeno mundial de vendas) ela me orientou a fazer um download. Aí vi que não era para o Brasil, pois dependia de conexões de alta velocidade, o que o americano tem com fartura em quase todo e qualquer ponto do país além de se deixar registrado um creditcard para se pagar, de imediato, o livro para, então, se fazer o download. Como escolhera o Diplomacy, do Kissinger, um tarugo de quase mil páginas, até lá o livro demorou para baixar.
Ante a esta experiência achei que para servir no Brasil deveria me contentar do o Ereader da Sony, que tenho até hoje, pois ele permite se ler Word e PDF, o que faço com freqüência. Bem, aí, como tenho meus hábitos de leitura diria os inconvenientes de um livro eletrônico: Para mim, também, folhear um livro antes de ler é fundamental, parece que é um namoro, uma degustação. Também, durante a leitura, gosto de discutir com o autor e marcar trechos com comentários na lateral, com lápis e usar um marcador para consultas futuras. Também gosto de ler as notas de rodapé e de fim de página e, por vezes, marco o livro com três dedos, um para a página que leio, outro para as notas de fim de página e um terceiro, eventualmente, para se manter um gráfico, um mapa, tabelas ou fotos para se complementar o entendimento da leitura. Nada disso dá para fazer bem nem no Kindle ou no Ereader.
Como leio em torno de quinze livros por anos, além das revistas, gosto de empilhar as obras que li em uma estante por puro prazer de dizer para mim mesmo o quanto progredi culturalmente em um ano. Para isto, também, os ereaders não se prestam nem proporcionam este prazer.
Em um país que tirou o 47º lugar, entre 54 países pesquisados, inobstante a cara sorridente de nosso imortal Paulo Coelho, dizendo ser o último livro que o brasileiro comprará eu diria: Não vai colar. Se não conseguimos estimular a leitura de livros nem em bibliotecas ou sebos, achar que o brasileiro vai desembolsar mil pilas para ter um livro eletrônico é não contar com a nosso idiossincrasia nem com nossa peculiar infra-estrutura na hora de se elaborar uma estratégia.

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