domingo, 4 de outubro de 2009

Solidão intelectual

Duas mensagens tocaram-me nesta semana.

A primeira veio em um blog onde um rapaz questionava o fato de se ler pouco no país.

O segundo de uma professora, muito amiga, chamado Insensatez que enviei aos meus caros amigos.

Ambos, em essência, falam da mesma coisa. Bem, concordava antes, contudo hoje já penso um tanto diferente.

Quanto ao fato do rapaz clamando um país melhor por intermédio da leitura, no caso dele mensurado apenas em livrarias, eu respondi a comparação em leituras via on line e periódicos. Ainda sim permito-me uma pergunta, indo mais além: Ler para quê?

Com diz a blogueira cubana, ser alfabetizado em Cuba para ler apenas material permitido pelo governo não significa, de fato, alfabetização como alavanca para cultura.

Mas ler para quê?

Dou-me o direito de perguntar, pois somente este ano já li doze livros, além das revistas que assino, Veja, Exame e HSM Management. E daí?

Durante a faculdade de Adm no CEUB eu soube que assustava os demais colegas, bem mais novos. Praticamente tudo o de cultura geral e de sociedade que os professores comentavam eu dialogava. No MBA então ficava um tanto isolado, pois já tinha lido uma boa parte dos livros que os professores comentavam. Dos livros indicados pela nossa Universidade para coronéis no curso de política e estratégia eu já tinha lido a maioria como major. O único diferencial, de fato, senti no mestrado que fiz, pois o nível de conversa com professores e demais participantes dos seminários e simpósios era alto e como havia necessidade de se conhecer o país, para mim foi fácil. Pelo meu desempenho fui, até, escolhido para falar de Brasil para alunos da National Defense University, que queriam se especializar em Brasil. De fato, nestes dois anos nos EUA minhas leituras facilitaram, sobremaneira, minha vida e meu mestrado. Mas de volta ao país...

Enfim, hoje já duvido se somente a leitura ajuda o país a ser melhor. Por quê, por causa do nosso entorno.

Ler para se absorver e gerar mudança, significa dialogar. Não com o autor, mas com pessoas à volta. E aí entra o que penso? Para quê li doze livros? Fazer o quê com o material que apreendi culturalmente? Hoje permito-me olhar para trás e perguntar: Para quê que li tanto?

Quem à minha volta quer dialogar? Incrível!! quase ninguém. E olhe que evito ao máximo falar em política.

Bem, noite de sábado. Após encerrar, ontem, mais um livro e três relatórios da Ernest and Young sobre cenários futuros, fico meditando, só, somente só, quando recebo a Veja e dou cabo dela quase toda (pois atualmente vem um grande número de fofocas políticas e de reportagem com pouca densidade útil.) O que vou fazer com o material que li? Conversar com quem sobre ele?

E daí? Meus parentes e próximos não se interessam por muita coisa além da televisão, Pe Marcelo, ou outros assuntos mais palatáveis. Alguns amigos ficam quase que monossilábicos e preferem falar de coisas mais corriqueiras. O que fazer então?

Disseram-me na faculdade que a Internet seria o melhor e mais fundamental veículo para se ampliar a cultura e a informação da sociedade brasileira. Assim, envio msgs para amigos e pessoas que não conheço. Já tive respostas muito estimuladoras e agradecidas, o que me estimula a continuar. Mas e a questão do diálogo para crescer?

Um colega enviou no fim da msg: “Mande um email em resposta para saber se vc está vivo.” Tipo assim. Deve ter sido para um grupo, pois como disse outro amigo, eu entupo as caixas postais alheias com assuntos que, segundo alguns, até deletam sem ser por não interessar.

Engraçado que haverá, em breve, aqui no Recife, uma feira internacional de livros, padrão bienal, onde o forte será a auto-ajuda e a ficção. Pensei até em ir, mas vi que não vai valer a pena. Como nas bienais do Rio e São Paulo, quando vejo, em amostra aleatória ou nos relatórios os livros mais vendidos me pergunto como é que ler livros ajudaria o país a melhorar. Em nosso país, penso que se dá algo semelhante a Cuba, mas não como cerceamento de material para se ler além dos daquela revolução e regime, mas pelo overflow de auto-ajudas e ficção.

Por fim lembro de duas pessoas sábias: Minha irmã e o Prof Heck. A primeira me diz que estou fora de sintonia, quase um chato. O segundo diz que estou perdendo meu tempo lendo e querendo estimular o debate. Ultimamente olho para o computador, como ele demora a pegar um pouco pergunto-me se vale a pena entrar on line. Tem tanta coisa muito importante acontecendo ultimamente e vejo uma enorme lacuna de debates.

Enfim, dialogar com o papel e comigo mesmo está ficando sem graça.

Talvez o que esteja sentindo seja uma solidão intelectual. Não me acho intelectual, aliás, quanto mais leio mas sinto vontade de estudar outros assuntos e áreas do conhecimento humano. Apenas gostaria de exercitar meu intelecto e fugir da televisão que quase não ligo, aliás, pago sky somente para minhas filhas assistirem seus canais infantis. Quando me pego aguardando a hora de Hanna Montana, ICarly, Mister Maker ou Barney (minhas filhas tem nove e três anos), começo a ficar angustiado.

Minha filha mais velha olhou minha estante e perguntou: Pai, pra quê tanto livro? Hummm...responder o quê?

4 comentários:

  1. Eu te entendo amigo. Sinto a mesma coisa.

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  2. Que alívio ler esse texto! Por uns instante a minha semelhante solidão deserdou-me. Também sou de Recife e sinto a mesma dificuldade no convívio social. Também não me considero intelectual, mas as pessoas estão ficando cada dia mais superficiais e entediantes. Se houver alguém interessado em aprofundar o debate estou à disposição. Meu e-mail: adonyas@bol.com.br

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  3. Que alívio ler esse texto! Por uns instante a minha semelhante solidão deserdou-me. Também sou de Recife e sinto a mesma dificuldade no convívio social. Também não me considero intelectual, mas as pessoas estão ficando cada dia mais superficiais e entediantes. Se houver alguém interessado em aprofundar o debate estou à disposição. Meu e-mail: adonyas@bol.com.br

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  4. Não sou intelectual, estou apenas no início da caminhada, quase como no primeiro degrau de uma escada, mas também tenho sentido como se não fizesse parte desse mundo tamanha a dificuldade em ter um diálogo satisfatório com as pessoas à minha volta.
    Também estou à disposição para debates, mas ainda estou aprendendo. Meu email é que-y-la@hotmail.com

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