quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O desabafo do Lúcio Mauro Filho

Amigos, procuro evitar colocar textos grandes em meu blog, todavia considero este abaixo uma excelente oportunidade de revisão de conceitos e reflexão.
Ao longo da História da Humanidade, todos os povos, por intermédio de seus dignitários e generais, procuraram invadir os mais fracos usando a força como último recurso, a intenção era a de destruir o mínimo possível tanto os exércitos oponentes como o patrimônio da nação a ser invadida, ademais, cuidar de feridos e viúvas e dependentes após uma invasão e dominação não era estratégia adequada.
Para esse fim então, procurava-se, antes, identificar poetas, pensadores e artistas, pois sempre essa categoria tinha o dom, a propriedade de vislumbrar a realidade à sua volta e traduzí-la em miúdos para a população.

Gengis Kan, Nabucodonossor, Césares, Hitler, Stalin enfim, toda uma plêiade de dominadores tinham como objetivo especial os artistas. Após a invasão eram a ferramenta principal para se converter invasores em desejados. Os que não aderiam eram ou exilados ou executados. Havia, enfim, uma variada gama nas formas de cooptação.
Já vimos os dois lados: Regina Duarte que, durante a campanha do primeiro mandato declarou ter medo da vitória do PT ficou, apesar de continuar recebendo seu salário, sem aparecer em telenovelas, peças teatrais e em propagandas por mais de cinco anos. Na geladeira quase que literalmente. A "namoradinha do Brasil" foi exilada da vista dos brasileiros. Voltou recentemente em tom bem mais soft. E Boris Casoy que, após ser demitido como âncora na Record, que apóia o partido do Vice-Presidente, amarga um posto muito discreto na bandnews.
Já os que concordaram e, até, anuíram tiveram suas peças, shows, eventos e livros com fartos recursos govenamentais.

O nosso artista global faz uma reflexão tipo "mea culpa", sob que ponto de vista eu não sei, pois apesar de também não gostar do que está acontecendo, a maioria da população que se deu ao trabalho de ir as urnas escolheu, democraticamente, o que vivemos agora. Resta saber se ele teria coragem de ir além disso e aproveitar suas aparições para que, ainda que sutilmente, declare seu descontentamento.

O texto é leve e objetivo, vale a leitura.

'Fé demais não cheira bem'

Publicada em 21/08/2009 às 12h59m


Artigo do leitor Lucio Mauro Filho

Em outubro de 2002, nós artistas fomos convidados a participar de um encontro com o então candidato à Presidência da República Luis Inácio Lula da Silva na casa de espetáculos Canecão, no Rio de Janeiro. Fui ao encontro como eleitor de Lula desde o meu primeiro voto e também como cidadão brasileiro ansioso por mudanças na forma de se fazer política no país. O clima era de festa, com muitos colegas confraternizando e um sentimento que desta vez a vitória viria.


Na porta principal da casa, uma tropa de políticos do PT e da coligação partidária recebia a todos com bottons, apertos de mãos firmes e palavras de ordem. E no meio de quadros tão interessantes da nossa política, este que vos fala foi recebido justamente por quem? Pelo Bispo Rodrigues (hoje ex-político e ex-religioso).


As pulgas correram todas para trás da minha orelha. Ser recebido no encontro do Lula com os artistas pelo bispo da Igreja Universal filiado ao extinto PL não era bem o que eu esperava daquela ocasião. Era um prenúncio claro do que viria a acontecer depois.


Veio o apoio do PTB de Roberto Jefferson, que tinha horror a Lula, mas que mesmo assim acabaria recomendando o voto no candidato do PT, como forma de desagravo ao então presidente do seu partido, José Carlos Martinez, que por sua vez tinha ódio por José Serra, a quem considerava culpado pela volta aos jornais da história do empréstimo que ele teria recebido de Paulo César Farias, no início dos anos 90. Com essa turma, a candidatura de Lula chegava à reta final.


A vitória veio e, com ela, uma onda de otimismo e de esperança em dias melhores, de mais inclusão, mais justiça social e menos corrupção e descaso. Éramos os pentacampeões mundiais no futebol e com Lula presidente ninguém segurava essa Nação. Pra frente Brasil!


Depois de dois anos de namoro, os ventos começaram a mudar com o surgimento de uma gravação onde Waldomiro Diniz, subchefe de assuntos parlamentares da Presidência da República, extorquia um bicheiro para arrecadar fundos para as campanhas eleitorais do PT e do PSB no Rio. O fato foi tratado como um deslize isolado de um funcionário de segundo escalão que de forma alguma representava a ideologia do Partido dos Trabalhadores. Waldomiro foi afastado do governo.


Em meados do ano seguinte surgiu uma nova gravação, onde o então funcionário dos correios Maurício Marinho aparecia recebendo dinheiro de empresários. Ele dizia ter autorização do deputado Roberto Jefferson do PTB. Em defesa de seu aliado, o presidente Lula afirmou na época que confiava tanto em Jefferson que lhe daria um "cheque em branco".


As investigações foram aprofundadas e na base do "caio, mas levo todo mundo junto", o deputado afirmou em entrevista à "Folha de São Paulo" que existia uma prática de mesada paga aos deputados para votarem a favor de projetos de interesse do governo. Lula deu o cheque em branco e recebeu de volta a crise que derrubaria, um por um, os homens fortes do seu partido. E de uma hora para outra, José Dirceu, José Genoíno, Antônio Palocci, João Paulo Cunha e outros políticos que tanto admirávamos, chafurdaram na lama da política suja, com histórias de abuso de poder, tráfico de influência e até coisas inimagináveis, como dólares transportados em cuecas e saques em boca de caixa totalmente suspeitos.


Acabou a inocência. O PT começou a desprezar quadros importantes do partido que não concordavam com as posições incoerentes com a luta pela ética e a moralização do país. Pior do que isso, acabou por expulsar alguns deles, como a senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e Luciana Genro. Outros saíram por também não concordarem com as práticas até então impensáveis para um partido que se julgava detentor da bandeira da honestidade. E assim partiram Cristovam Buarque e Fernando Gabeira.


Apesar de toda uma nova geração de políticos interessados em refundar o partido e aprender com os erros, como José Eduardo Cardozo, Delcídio Amaral e Ideli Salvati, o PT preferiu manter a estratégia do aparelhamento, do fisiologismo e do poder a todo custo, elegendo o pau mandado Ricardo Berzoini novo presidente do partido. Ele representava o Campo Majoritário, grupo que sempre esteve na presidência do PT desde sua fundação.


Depois que nada foi provado na CPI do Mensalão, o Partido dos Trabalhadores percebeu que a bandeira da ética já não importava mesmo e começou novamente uma fase "rolo compressor" de conchavos e blindagens com o que há de pior na política brasileira. Veio o segundo mandato e com ele o fato. O presidente Lula cada vez mais nas mãos do PMDB, o partido que definitivamente não está nem aí com ideologias, ética ou qualquer coisa parecida.


Depois da derrocada dos grandes caciques do PT, restou Dilma Roussef, a super ministra, como única opção de candidatura para a sucessão do presidente Lula. Mas Dilma não tem carisma nenhum. É uma figura técnica, fria. Precisa desesperadamente do presidente preparando palanques com dois anos de antecedência, emprestando toda a sua popularidade, como uma espécie de "ghost charisma". Precisa também do PMDB com seus acordos e chantagens como co-patrocinador político da candidatura.


Para isso, foi preciso o governo se meter em mais outra crise e comprovar que é muito mais PMDB que PT. Depois de Jefferson, Bispo Rodrigues, Severino Cavalcanti, os eleitores do Lula estão tendo que agüentar o pior. Ver o presidente de mãos dadas com Fernando Collor, Renan Calheiros e José Sarney. E ver um Conselho de Ética formado em sua maioria por suplentes como os senadores Wellington Salgado, Gim Argello e até o presidente do conselho, Paulo Duque, que afirmou que "adora decidir sozinho".


No momento em que políticos como Aloizio Mercadante tentam juntar os cacos do PT, tomando atitudes coerentes com o que o partido sempre pregou, lá vem o executivo com sua emparedada já tradicional, desautorizando o líder de sua bancada, mais uma vez constrangido pela direção do PT. E as promessas as quais me referi lá atrás, Delcídio e Ideli, votaram a favor do arquivamento de tudo e da permanência do que aí está. Mais uma vez, o fim justifica os meios.


E assim, é a vez de Marina Silva abandonar o barco, cansada de guerra. A ex-ministra do Meio Ambiente que viu o presidente Lula entregar nas mãos do ministro extraordinário de assuntos estratégicos, Mangabeira Ünger, o Programa Amazônia Sustentável (PAS). Justo ela, uma cidadã da Amazônia. Foi a gota d'água. Desautorizada, Marina deixou o cargo. Agora, deixa o partido. E o Mangabeira Ünger? Voltou para Harvard para não perder o salário de professor (em dólar), deixando os assuntos estratégicos para o passado.


Esse é o atual panorama da política nacional. Deprimente. Políticos dizendo na cara de seus eleitores que realmente estão se lixando. Acabou o pudor. Com o presidente Lula corroborando tudo que é canalhice e uma oposição que é também responsável por tudo que aí está, pois governaram o país por todos esses anos e ajudaram a moldar todas as práticas que o governo do PT aperfeiçoou, talvez estejamos realmente precisando de uma terceira via.


Eu não sei se imaginei um cenário tão devastador quando constrangido evitei o aperto de mão do Bispo, lá na porta do Canecão. Mas um trocadilho não me sai da cabeça: "Fé demais não cheira bem".


Lucio Mauro Filho é ator e roteirista"

Um comentário:

  1. Achei o comentario verdadeiro pois literalmente o Brasil esta entregue as moscas nao temos mais brasileiros que amam o nosso querido Brasil basta ver o nosso codigo penal e uma vergonha os governantes tinham que ter vergonha de olharem somente para seus umbigos nao generalizo pois ainda restam poucos politicos honestos

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