quinta-feira, 13 de agosto de 2009

SOBRE A ESTULTÍCIA: A SÍNDROME DA INDIGÊNCIA INTELECTUAL ADQUIRIDA.

Lembro-me de uma passagem curiosa na época que comandava uma organização militar em Recife. Fui surpreendido pelo soldado que trabalhava como motorista no esquadrão quando, no trajeto até o prédio principal onde participaria de uma reunião, apresentou-me o caderno de questões de matemática, referente ao concurso de policial rodoviário federal.

Mais do que surpreendido, fiquei assustado ao ler as seis primeiras questões que compunham a primeira página e, após constatar que não conseguiria responder a nenhuma sem um “macete” reparei que todos os quesitos eram compostos por parágrafos dissertativos. O pavor aumentou ao ser alertado que se tratava da prova de matemática. Isto mesmo, prova de matemática onde as seis primeiras questões não tinham um número sequer para ajudar-me no vil artifício do reconhecimento fotográfico das formulas matemáticas, exaustivamente decoradas.

Divaguei, após jogar a toalha, se estava em franco processo de miolice, encolhimento intelectual (olhem que nem assisto ao big brother para justificar-me...) ou se o ensino de fato mudou.

Como se fosse um complô, sem esperar que eu me recompusesse do vexame, outro militar que o substituiu na escala ao transportar-me para a mesma reunião perguntou-me sobre o que achava da então corrida presidencial. Ele já desconfiava de um candidato com jeitão de coroné das plagas cearenses, apesar de nascido no interior de São Paulo, pois ele achava difícil o mesmo fazer congressistas votarem a favor de reformas.

Foi demais, devo ter sido por demais transparente em minha perplexidade ao ouvir, de quem jamais esperava, tal comentário certeiro. Com ar de general perdendo uma batalha campal subi as escadas, sem perder a pose, rumo a minha reunião, onde poderia recobrar-me falando de assuntos aos quais não teria condição alguma de mudar nada, mas que as cobranças logo pipocariam... e como!!

Com o avanço dos meios de comunicação, aliado ao barateamento de aparelhos eletro-eletrônicos, fruto do aquecimento da economia, pessoas de renda menor estão tendo acesso a televisores, rádios e até computadores, que com as empresas de acesso grátis à internet, com os site também sem custo, ficam muito próximos das notícias em tempo real e de comentários de estudiosos acerca de muitos eventos sociais. Tentando-se, diga-se de passagem, abstrair deste total as figuras emergentes, fruto de meteórico sucesso na televisão, que se acham no direito de comentar acerca de tudo e, também apresentadoras com propostas fruto de mente vegeto-intelectualizadas, podemos afirmar que o cidadão está mais perceptivo a nova realidade.

Há que se registrar que o último Censo do IBGE registrou um fenomenal aporte de meios de comunicação (televisão, rádio e jornais impressos de baixo custo) nas residências país afora. Também neste elenco, já temos um total de 160 milhões de celulares em meio a uma população de 190 milhões. Ou seja, o cidadão brasileiro tem todos os meios de se informar com adequação e, até, propriedade.

Deixando-se, momentaneamente, a notória incapacidade de escolher bons políticos e de exercer sua responsabilidade em meio a um ambiente democrático, com Instituições maduras e fáceis de serem acompanhadas, acredito que haja condições de se ampliar o nível de complexidade de produtos e de serviços com alto valor agregado. Ou seja, somos, hoje, capazes de utilizarmos, com eficiência, todos os produtos que venham a impulsionar nossa indústria sem nos obrigar a manter nossa capacidade produtiva o suficiente para atender uma república das bananas.

Conforme sempre alerto, os militares que ingressam nas fileiras da força, bem como os demais servidores públicos, são selecionados em concursos com exigências intelectuais muito superiores àquelas de nosso tempo. Nossa massa crítica é profusa em inteligência, perspicácia e até de lógica imediata. E estão sempre a nos observar.

O raciocínio segue para o brasileiro fora daquelas categorias, pois também os testes de aptidão seletiva para empregos estão exigindo muito conhecimento.

Tal fato remete-nos à percepção de nossa importância como vetores de informação e de conhecimento empírico, de qualidade, para tais platéias que constantemente nos observam. Sob o ponto de vista do subordinado, ou colaborador, nós estamos, em função da posição que desempenhamos, alguns degraus acima na cadeia de conhecimento e intelectualidade. Significa, assim, dizer que temos a obrigação de estarmos, no mínimo, bem informados acerca dos eventos sociais e econômicos, pois qualquer besteira que dissermos será, impiedosamente, motivo de desdém, quando não de chacota, traduzida em charge “dilbertiriana” pelo primeiro caricaturista de plantão comum em qualquer organização.

Precisamos estar constantemente nos atualizando, lendo, ouvindo e conversando com espírito crítico em busca de valor para transformar esta miríade de informações em conhecimento consistente.

Poderíamos, neste intuito, diminuir nossa dependência de programas dominicais, vespertinos e novelas, usando o tempo que sobrará para leitura crítica, não só de livros como de periódicos e, ainda que eventualmente, discutir com nossos pares e próximos a fim de buscarmos um entendimento, uma noção mais compartilhada da realidade e circunstâncias que nos rodeiam.

Precisamos cobrar mais coerência dos meios de comunicação, bem como mais transparência de nossas Instituições, ao mesmo tempo em que notícias de melhor qualidade que nos informe e nos forme como cidadãos. Acredito que tal postura, no fundo, seja um ótimo exemplo de responsabilidade social para conosco e com as gerações que nos sucederão.

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