Durante meu mestrado nos EUA tive orgulho de ouvir especialistas em jornalismo, dentre eles alguns da CNN e da Casa Branca, que a cada ano amplia-se a capilaridade da informação no seio da sociedade. O Brasil foi citado dentre os países signatários da OEA como referência. Contando com dados do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, semelhante aos do IBGE de 2006, os especialistas no painel ressaltaram que 95% dos lares em nosso país possuem televisão e que 98% possui algum tipo de rádio. Prosseguindo ressaltaram que jornais em ruas de grandes cidades chegavam a custar trinta centavos.
Em outra oportunidade, também em um painel, especialistas em direitos humanos, um deles da ONU, de forma exultante informou à platéia que cada vez mais um maior número de cidadãos comparecem às urnas nos países das três Américas. Novamente, para meu orgulho, o Brasil foi citado por permitir analfabetos e maiores de 16 anos, em regime de voluntariado, exerçam sua cidadania. Exemplificou-nos como sociedade me rápido processo de amadurecimento democrático após os anos de ditadura.
O último relatório do setor de telecomunicações dá conta de que já temos 160 milhões de celulares vendidos em um país de pouco mais de 190 milhões de habitantes. Tenho, assim, a nítida impressão de que já somos maduros e que temos uma excepcional capacidade de acesso à informação.
Para nós, administradores, esse é um elenco de informações valiosas para a elaboração de nossas estratégias. Ainda que partindo de uma simples análise SWOT que se converterá em um seguro plano de ação, produtos e serviços poderão ser diferenciados e, em função de tal nível de esclarecimento da sociedade, facilmente consolidados o mercado.
Há, contudo, um delicado porém neste maravilhoso cenário que acabo de discorrer: O modo com o qual nossos políticos os enxergam.
Bem sei que este espaço não é suposto se falar de política. Tampouco esta é minha vontade. Comentarei eventos inseridos em fenômenos puramente sociais que terão fortes impactos econômicos.
Os órgãos de imprensa, como olhos e ouvidos da sociedade, ocuparam as principais páginas de periódicos, telejornais e comentários nas rádios com eventos menores e falas de doutos e outros especialistas sobre uma crise no Senado Federal.
Após passarmos dolorosamente – em termos de ter que se aturar – por três experiências anteriores dando conta que presidentes daquela casa alta, lídima representante de nossa democracia, estavam sendo antiéticos (mas o que é mesmo ética? – teria a mesma capacidade de ser mensurada como o tal do “preço abusivo”?-) dessa vez presenciamos o mais alto dignitário de nossa Nação não só anuindo como, também, determinando que seu partido cerrasse fileiras em torno do atual presidente legislativo.
Enquanto isso nossa mídia deixava de evidenciar problemas de infra-estrutura, matriz energética, problemas de escoamento de produção em gerrovias e portos, modificações de contratos internacionais sobre energia elétrica, provimento de gás, restrições de produtos nossos na China e Argentina, sem mencionar, também, os casos em andamento na OMC, etc etc. Em todos os canais sintonizados o Senado era a bola da vez.
Enquanto nossas fixas colunas de prospecção de petróleo em profundidade marinha não iniciavam sua jornada em busca da caixa-preta do AIR France 447 membros do legislativo federal articulavam-se, febrilmente, para não perderem o cronograma de aprovação de emendas individuais no Orçamento da União, ao mesmo tempo que ombreavam a base aliada ao governo para fazer aprovar um novo tipo de CPMF.
Aí, sim, a vertente econômica do fenômeno social se faz presente. O impacto resultante em nossa lide como administradores é certo. Até se consubstanciarem pelo menos as emendas contempladas surgirão no mercado próximo ao fim do presente exercício financeiro. O administrador público terá que abrir e encerrar licitações em curtíssimo prazo e o administrador privado, para atender ao público, deverá ampliar sua capacidade produtiva em um interregno inferior a três meses. Para quem está neste batente eu sei que é pesado.
Enfim a desfaçatez com que nosso dignitário e outras graúdas figuras explicaram o factóide que, por sua natureza, de fato nunca houve, foi impressionante. Mais comovente, entretanto, foi assistir a experimentados âncoras e demais jornalistas felizes e exultantes em divagar e discorrer sobre o que, no fim, seria obvio ululante.
Sendo este processo de comunicação baseados em princípios de lingüística para ser claro, cristalino, remeto-me à livre definição do que venha a ser Hermenêutica: Estabelecer princípios gerais de toda e qualquer compreensão, interpretação e manifestação lingüística, procurando, sempre, tornar algo compreensível.
Como tudo o que nossa atual administração federal diz que faz é inédito, dou-me conta de que nunca antes, neste país, em uma sociedade com um fenomenal arsenal de meios de comunicação vem se praticando a ciência da “Apedêutica” ao se tentar esclarecer pare nós, bando de néscios e imbecis, a existência de um factóide.
Nenhum comentário:
Postar um comentário