JORNAL DO COMMERCIO (PE)
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) divulgada há poucos dias com informações referentes ao ano passado traz motivos de otimismo para os brasileiros. Mas é preciso conter o exagero no entusiasmo. Os bons números revelam a esperada evolução da nossa economia, mas ainda estão longe de representar a redenção do País, que luta para alcançar patamares razoáveis de desenvolvimento e qualidade de vida.
O rendimento médio teve um crescimento real, acima da inflação, de 8,3% em comparação a 2009, chegando a R$ 1.345. O Nordeste continua com o valor mais baixo, de apenas R$ 910. A faixa de população mais pobre teve um aumento de quase 30% neste período, fazendo com que a desigualdade medida pelo índice de Gini caísse um pouco, de 0,518 para 0,501. O acesso a telefones celulares deu um salto, passando de 57% para 69% dos domicílios pesquisados. As residências atendidas por rede de esgoto chegam a dois terços do total, num crescimento de 3%. Foram gerados 3,6 milhões de empregos formais nestes dois anos. Em um setor que funciona como o termômetro da economia, a construção civil, o crescimento do emprego superou 13%. O IBGE também anunciou a taxa de desemprego de agosto: 5,3%, a menor em dez anos. A facilidade de crédito e os bons ventos da economia não deixam de ter efeitos colaterais. No último dia 20, o Banco Central divulgou que o endividamento das famílias alcançou nível recorde em junho, comprometendo 22,38% da renda mensal. E cerca de 44% do rendimento familiar acumulado em doze meses foi comprometido pelo pagamento de dívidas.
O endividamento é um risco maior se forem levadas em conta as dificuldades para o Brasil obter ganhos de produtividade. É o tipo do investimento básico que temos cada vez maior urgência em fazer. E produtividade não é um conceito distante do cidadão comum, fruto do economês academicista. Pelo contrário. É preciso compreender a produtividade como o resultado de dois fatores principais: educação de alto nível e conhecimento aplicado na inovação de processos estagnados. Com o envelhecimento da população, também detectado pela Pnad, a questão da produtividade deveria ter a mesma relevância observada em nações como a Alemanha.
Neste sentido, é preocupante a informação da Pnad de que o percentual de jovens de 15 a 17 anos nas escolas, em vez de subir, caiu, entre 2009 e 2011, saindo de 85,2% para 83,7%. São jovens que não trabalham nem estudam, ficando vulneráveis aos problemas da marginalidade. Além disto, há um exército de analfabetos acima de 15 anos: são quase 13 milhões, dos quais mais de 8 milhões passaram dos 50 anos de idade. A realidade regional, para nós, é pior. A quantidade de analfabetos jovens e adultos no Nordeste se aproxima de 7 milhões de pessoas, e as crianças em trabalho infantil ultrapassam 300 mil. Assim como o País não está imune aos efeitos da crise global, Pernambuco deve estar atento ao cenário nacional. Todo otimismo deve ser temperado com cautela, sem esquecer o trabalho imenso a nossa frente.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário