quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Good luck Mr Gorky!!

Um réquiem para meu ídolo na infância. 
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A bola reluzente e espelhada olhou para cima, depois para a bandeira americana recém fincada no solo lunar e proclamou "Good luck, Mr Gorky".

Estava hipinotizado diante do televisor semp-toshiba, de válvulas que quando esquentavam fazia um um chiado, discreto e constante, nos obrigando ao silêncio na sala lotada para entender o que se dizia dentro da tela. Nada tirava meus olhos do tubo de raios catódicos que, de tão velho, ao desligar mantinha um bolinha branca no rigoroso centro geométrico da tela verde-musgo escura.

Acompanhei o lento e pesado passo de Neil Armstrong (braço forte) no solo de areia esquisita. Não vi São Jorge, nem seu reluzente branco cavalo, tampouco o dragão. Deviam estar escondidos para não estragar tão sublime momento.

"A small step for a man. A huge leap foward for mankind." proclamara em voz ofegante ao pé da escada do módulo lunar. Depois os passos lentos e pesados afastando-se  cerca de trinta metros da espaçonave para, então, fincar o "star and strips", o lábaro estrelado no chão fofo e macio.

Antes de se retirar a figura prateada olha detidamente para o alto e diz algo ininteligível. Soube muitos anos depois o que era: "Good luck, Mr Gorky!"

Quem era tal sujeito? A frase remetia a lembrança de sua imagem aos tempos de infância.

Judeu de origem russa, Mr Gorky e sua mulher, já idosos, tinham como vizinhos barulhentos e peraltas, Neal e seus irmãos, sempre aprontando para o casal toda sorte de traquinagens.

O interior do frio estado e Ohio, na parte noroeste, abriga a pacata cidade de Wapakoneta, nome que remonta aos nativos por ocasião da colonização da nova Inglaterra.

Na época da Grande Depressão americana nascia o caipira cuja sina poderia ser o ostracismo na história. Poderia ser um mero “regular Joe”. Pelo contrário, muito pelo contrário.

Por muito tempo em minha pré-adolescência Neil passou a ser meu referencial. De sua modesta origem amealhou uma sólida educação que lhe permitiu formar-se em Engenharia Aeroespacial no conceituado MIT (Massachussets Institute of Tecnology). Fez carreira na US Navy onde combateu na guerra da Coréia.

Sua sorte adveio da solução americana para recuperar a nação da depressão econômica de 1929. Tais bases absorveram sólidos investimentos em Educação: formação de mão-de-obra de alto nível de conhecimento agregado.

Sua adolescência coincidiu com o pós-guerra (Segunda Guerra Mundial) quando se acirraram os conflitos ideológicos e a deterrência: a constante ameaça comunista. Quando Nikita Kruschev, premier russo, declarou que invadiria o ocidente pelo coração e mentes de seus jovens, o governo americano intensificou os investimentos em Educação. Nesta esteira o caipira já recebia os meios para seus estudos de engenharia aeroespacial.

Neil personificou o “regular Joe”, o "selfmade man" que deu certo, muito certo. Influenciou gerações em sua esteira aeroespacial. De uma remota e discretíssima cidade interiorana para passear na Lua. Este foi o forte e inexorável recado, o paradigma, a fórmula para a sociedade americana buscar e permanecer no topo, no primeiro lugar e de lá não sair.

Resta-nos, como brasileiros, revirar e prescrutar esta história de sucesso  para buscar recuperação desta lastimável posição que ocupamos. Também poderíamos ter um jovem de Pari Cachoeira - AM, seguindo os mesmos caminhos. Somos ricos o suficiente para tal.

Quando soube de sua morte senti esvair-se um pequeno pedaço de mim atrelado a minha infância em Mesquita RJ. Não fui para a Lua, mas dentre livros usados, de bibliotecas e feiras, em colégios públicos cheguei ao posto de coronel na Aeronáutica Brasileira, o mesmo de Neil na Marinha Americana, onde por servi ao longo de trinta e cinco anos, contudo não fui astronauta mas piloto de dezesseis tipos de aeronaves diferentes. De certa forma nos resta uma identidade ainda que por uma tênue verossimilhança. Apenas aproveitei bem as oportunidades que me foram dadas.

Bem, quanto a famosa frase. Após muitas décadas de mistério, por muitos no campo das lendas urbanas que tanto hipinotiza o cidadão americano segue o "joke". Certa feita ao prepararem mais uma das várias traquinagens para vitimar seus idosos vizinhos ouviram da janela da cozinha uma acalorada discussão, quando a senhora Gorky encerrou a celeuma vaticinando: “Sexo anal só quando um dos fedelhos bagunceiros caminhar na Lua!!”

“Good Luck, Mr Gorky!!”
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3 comentários:

  1. Obrigado pelo texto Jefferson, uma grande dosagem de conhecimento com uma pitada de humor.

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  2. Parabéns Jefferson. .... Leve, bem-humorado e inteligentemente articulado. Um abraço. BJ

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  3. Jefferson,mais uma vez, apontando o caminho (inclusive para a Lua): EDUCAÇÃO!!!

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