quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Rochas de fama repentina



Gilles Lapouge
O Estado de S. Paulo



No mar da China oriental existem cinco rochedos isolados, desertos e nus. Juntos formam o arquipélago chamado Diaoyu pelos chineses e Senkaku pelos japoneses.

Esses grandes blocos de pedra não servem para nada, mas sua fatalidade é a posição geográfica: estão mais ou menos à mesma distância do Japão e da China, ou seja entre a segunda e terceira economias do mundo, entre dois países poderosos separados por tudo: tradições, história, ideologias e alianças.

Essas cinco ilhotas estão nas primeiras páginas dos jornais em todo mundo. Elas foram anexadas pelos japoneses em 1895, mas a China de vez em quando as reivindica. Isso ocorreu em 1970 e agora, em setembro de 2012, uma frota com milhares de barcos de pesca chineses se dirige para a zona onde elas se encontram. E elas deve estar espantadas, tão solitárias, tão desamparadas, por se tornarem de um dia para o outro uma das "vedetes" do mundo, quase um "casus belli", e com o fato de dois países, um com mais de um bilhão de habitantes e outro com 300 milhões, se inflamarem de repente por sua causa.

Na terça-feira da semana passada, Tóquio anunciou sua decisão de comprar três dessas cinco ilhas, que até o momento são propriedade de particulares japoneses. O anúncio foi o bastante para alarmar a China.

A semana foi dura para o Japão. Aqui e ali, empresas japonesas instaladas na China foram atacadas: Panasonic, Toyota, Honda. Em Xian, um palácio fundado pelos japoneses foi incendiado.

Em torno da embaixada do Japão em Pequim, centenas de manifestantes controlados por centenas de policiais, desfilaram levando banners com a imagem de Mao estampada neles, estandartes mostrando mísseis caindo sobre o Japão. Cartazes traziam inscrições como "proibido para cachorros e japoneses", ou "vamos matar esses porcos japoneses".

Na realidade, além desse confronto entre dois "nacionalismos", os incidentes ocultam também interesses econômicos. O arquipélago de Senkaku está no centro de uma zona rica em petróleo e gás. Não espanta que a China o cobice. Isso também explica a violência da reação chinesa.

O jornal Diário do Povo advertiu que, se insistir, o Japão corre o risco de ver uma década perdida. Ou seja, Pequim, que hoje é o principal parceiro comercial do Japão, poderá reduzir seus negócios com Tóquio e especialmente limitar as vendas das "terras raras", essenciais para o setor de alta tecnologia, o forte da produção japonesa. A China é a única produtora mundial dessa matéria-prima.

Enfim, uma lembrança histórica envenena ainda mais as relações entre os dois países. Ontem, foi lembrado o aniversário do "incidente de Moukden". Nesse dia, em 1931, teve início a invasão da Manchúria pelos japoneses. Uma lembrança amarga para os chineses e os japoneses sabem disso. Por precaução, as escolas japonesas na China ficarão fechadas toda a semana.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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