quarta-feira, 31 de março de 2010

Desaquecimento global

Sempre defendi meus pontos de vista. Assim, fico extremamente feliz que este movimento esteja perdendo força.

"Ora, direis, certo perdeste o censo ou não ouvis direito!!"

Confiei na máxima de Nelson Rodrigues: "Há momentos em que toda a unanimidade é burra!!" E, ainda bem, está se mostrando ser assim nos resquícios de Copenhague.

Desculpe minha posição, mas quando vejo pessoas nas ruas e crianças brincando em favelas dividindo espaço com lixo fico mais ainda com raiva dos ambientalistas. Nota-se aqueles que querem impedir nossa redução de desigualdade em favor de suas bandeiras.

Sou a favor do desenvolvimento, sustentável. O cidadão merece ter energia elétrica, vias de circulação, moradias, postos de saúde com energia elétrica sustentável e de qualidade, coisas que geradores de termelétricas (gás ou carvão) nem sempre têm condições de oferecer.

Enfim, meios de se promover infra-estrutura e desenvolvimento no interior do país para ajudar a retenção do cidadão em sua origem, não o expulsando para inflar os bolsões marginais de grandes cidades em condições indignas de vida.
Este movimento cult "contra o aquecimento global" estava carente de coerência plena...ainda bem que está se debastando e, enfim, possa se promover os PAC´s, construção de moradias, ampliação de redes de energia sem o sentimento de culpa ambientalista...

Desaquecimento global


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100331/not_imp531753,0.php
José Reynaldo Bastos da Silva, Celso Dal Ré Carneiro - O Estado de S.Paulo
Ao contrário do que propagam, o planeta Terra tem hoje temperatura média de 15º C e está numa era interglacial. Ainda não é possível afirmar quando terá início nova glaciação. Portanto, a Terra está em desaquecimento global... com oscilações.
O tema do "aquecimento global" aparece com tal frequência na mídia que muitas pessoas creem plenamente na veracidade do fenômeno e na principal causa admitida, a de que o dióxido de carbono o determina. Isso exemplifica como um tema científico não deve ser tratado, porque houve perigosa mistura de interesses políticos, econômicos e sociais, à parte problemas e desafios de conotação essencialmente científica.
Consideremos a complexidade e a variedade de fatores determinantes do clima na Terra.
18 mil anos começaram a diminuir os efeitos severos da última era glacial. Sob clima frio e seco, grandes massas de gelo ocupavam parte expressiva dos continentes no Hemisfério Norte, onde vagavam mamutes e mastodontes. Em fins dessa era, o nível dos oceanos subiu cerca de cem metros. Com o derretimento e diminuição das geleiras, a temperatura média da superfície global aumentou, no máximo, 5° C.
Falaciosos, retóricos ou bombásticos são os temas de aquecimento global atribuídos ao efeito estufa: degelo dos polos, extinção do urso polar, alçamento do nível do mar, inundação de partes das cidades costeiras, variações de frequência e intensidade de eventos climáticos e alterações em regimes regionais de chuvas. Estão em voga porque a velocidade dos fenômenos climáticos é infinitamente mais rápida que a dos fenômenos estritamente geológicos. Enquanto aqueles se sucedem em segundos, estes envolvem, no mínimo, milhares de anos, no caso das glaciações; milhões e até bilhões de anos para mudanças substanciais, como separação e colisão das placas tectônicas que sustentam os atuais continentes.
Quais são as reais causas das variações climáticas na Terra?
A dinâmica climática é controlada por três categorias de fatores: astronômicos, atmosféricos e tectônicos. As causas específicas ainda não estão bem compreendidas, mas já se conhece a periodicidade dos ciclos, da ordem de centenas, milhares e milhões de anos. Informações obtidas da análise de sedimentos profundos e testemunhos de sondagens no gelo polar indicam que os períodos interglaciais são da ordem de 15 mil a 20 mil anos. Vivemos, pois, um desses períodos.
Por mais avançadas que estejam as Geociências, marcadamente as subáreas da Geologia e Geografia, muito ainda existe para pesquisar sobre os fenômenos naturais. As causas do aquecimento/resfriamento global são naturais e podem ser amplificadas por ações antropogênicas, no caso de aquecimento. Dentre as causas conhecidas, a humanidade pode interferir apenas na retenção de calor pela atmosfera. As causas astronômicas e tectônicas estão livres de nossa influência.
A pretensiosa declaração "vamos salvar o planeta!" é contestada por cientistas que estudam climas atuais e antigos. Eles concluíram que há épocas de mudança rápida e global do clima. Se for rápida, isso pode significar catástrofe: "Civilizações floresceram e foram destruídas ao ritmo das pulsações do clima" (Jonathan Weiner, Planeta Terra, 1988, Editora Martins Fontes, página 94).
A Terra não precisa de quem a salve, mas a espécie humana pode desaparecer se continuar a tratar os espaços e recursos naturais da maneira devastadora e irresponsável como o faz.
Não podemos perder de vista que as mudanças climáticas são partes da ciclicidade dos fenômenos geológicos que afetam o planeta todo. O tema tem profundas implicações educacionais e deveria ser abordado no ambiente escolar com dados abrangentes. Em síntese, falta muita Geologia na escola básica, ou geoeducação, como dizem os europeus, mais avançados que nós em lidar com esses temas na escola.
Na escola básica, quando muito, fala-se de processos terrestres como causa de catástrofes naturais como terremotos, tsunamis (ondas gigantes do mar), com suas terríveis consequências. Mostra-se que vulcões se formam na base da crosta e produzem massas incandescentes e explosivas, as lavas, que nós, brasileiros, só observamos pela televisão ou pela internet. No topo da crosta ocorrem catástrofes induzidas pelo homem, como deslizamentos ou escorregamentos de terra em encostas íngremes que jamais deveriam ser habitadas, fato que, infelizmente, se verifica no Brasil. Enchentes e inundações devem-se a fatores como impermeabilização do solo, crescimento urbano acelerado, ausência de planejamento territorial, agravados pela disposição inadequada do lixo.
Já a atmosfera, enigmática desde a mitologia grega, foi considerada vulnerável à revolta dos deuses por civilizações primitivas e alguns observadores incautos atuais. Ela é visível e sensível por todos: quando vai chover? Quando virão tempestades? Camponeses sabem responder, até bem antes das previsões meteorológicas, ao observarem o rumo dos ventos, a umidade do ar ou até o canto dos pássaros.
Não se podem admitir generalizações: nem tudo é "aquecimento global". Ao contrário, muitos geocientistas anunciam a corrente, antagônica, do resfriamento global. Para visualizar melhor as incertezas inerentes ao fenômeno observem como foi rigoroso o último inverno no Hemisfério Norte...
Uma coisa é certa: planejamentos territoriais devem ser feitos com visão holística e equipes multi, inter e transdisciplinares, ou seja, devem envolver geólogos e profissionais de todas as áreas científicas afins. Caso contrário, casas, pontes ou viadutos podem cair. Buracos como o do Metrô Pinheiros continuarão aparecendo e engolindo vidas.
A Terra, nossa Gaia majestosa, é dinâmica e pulsa como um ser vivo. Os geólogos que o digam!
GEÓLOGOS, SÃO, RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR VISITANTE E DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS APLICADAS AO ENSINO DO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP. E-MAIL: JRBSILVA@IGE.UNICAMP.BR

segunda-feira, 29 de março de 2010

Acadêmicos pleiteiam tirar Oscar de Al Gore

Impressionante como uma meia-verdade ganhou tanta projeção mundial a ponto de mobilizar ordas de especialistas e jornalistas em torno de um tema que ganhou ímpeto mundial repentinamente.

No início de 2007 estava cursando um bloco chamado "Desastres Ambientais" em um grande pacote chamado Novas Ameaças Transnacionais. Um especialista da National Defense University, ao ser interpelado sobre o aquecimento global por um de nós, também alunos, respondeu: "Get serious, will'ya?"
Tipo assim: "Fala sério!!"

Recordo-me que, logo após a premiação de Al Gore no Oscar, um grupo de universidades britânicas iria interpelar judicialmente a pertinência ou não do laureado fazer palestras nas universidades britânicas. A decisão do conselho de um grupo de universidades venerandas era a de que somente após Al Gore comprovar suas teses ele seria aceito, o que ele não fez.

Após o fiasco de Copenhague parece que o mundo vem acordando para alguns exageros. Quanto a nós, devemos estar alertas que a maneira com a qual querem que combatamos o aquecimento global incide, frontalmente, em nossa capacidade de desenvolvimento e geração de riqueza.

Construção de moradias para sanar um défict de mais de oito milhões de residências, um aumento maior do que os 13% de malhas rodoviárias prestáveis e, fundamentalmente, um significativo aumento na rede de distribuição de energia elétrica de alta voltagem requer, necessariamente, impactos ambientais profundos.

Está chegando a hora de se optar por redução da desigualdade social e promoção do desenvolvimento ou uma tênue contribuição da redução do aquecimento global.

Está na hora de amadurecermos e criarmos uma proteção para esta canto de sereia que vem dos países desenvolvidos. É o nosso momento e não devemos abrir mão desta oportunidade.



Acadêmicos pleiteiam tirar Oscar de Al Gore


ABIM - Dois membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood pediram que seja retirado de Al Gore o prêmio Oscar concedido pelo documentário Uma verdade inconveniente, de 2007.

Roger L. Simon e Lionel Chetwynd sentiram clima favorável para desafiar Hollywood, após a revelação de fraudes científicas na Universidade de East Anglia (Inglaterra) visando provar a tese do "aquecimento global de origem humana".

Para os acadêmicos, o filme está fundamentado em erros sobre o clima. O documentário foi proibido nas escolas pela Corte Suprema da Inglaterra, porque contém pelo menos 11 erros graves que prejudicam os alunos. Segundo o Prof. José Carlos Azevedo, ex-reitor da Universidade Nacional de Brasília, os erros crassos chegariam a 35.
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Agência Boa Imprensa

sexta-feira, 26 de março de 2010

Alguns passos na área do lixo

A reportagem abaixo está repleta de invormações não só úteis como, também, fundamentais ao nosso desenvolvimento.


Aliado ao post sobre as cidades e o seu futuro, estas colocações desnudam o quão equivocada foi a decisão política e intempestiva do Carlos Minc de oferecer em Copenhague, sem consulta popular, uma redução de quase 38% de emissões de CO2 via redução das atividades agrícolas do original cinturão verde próximo à amazônia. Esta política de reclagem, parada na Câmara dos Deputados por DEZENOVE anos, reduz muito mais o desmatamento e a conseguinte emissão de CO2. Mas esperar tal nível de percepção e de integração política entre os poderes públicos, na atual gestão, é esperar demais.


Relembro que a questão das licitações sobre empresas de processamento de lixo na capital paulista, dividida entre as sub-prefeituras foi o calcanhar de aquiles agarrado à dentes por Marta Suplicy, candidata à prefeita, por ocasião de fortes críticas de campanha ao prefeito em atuação, hoje já falceido. Quando ela assumiu fez a mesma coisa praticada anteriormente que ela, veementemente, criticava.

Enfim, é um tema importante tendo em vista, sobretudo, que nossa população em grandes cidades só tende à aumentar, principalmente em função da progressão vertical das classes D e C, hoje já uma realidade.

Há, contudo, uma pergunta que me faço desde que o governo reduziu o IPI para a linha branca e amplou o acesso ao crédito para aquisição de tais produtos: O que se fazer com as geladeiras, fogões, lavadoras de roupas e de aparelhos de ar-condicionado velhos? Se alguém tiver uma notícia por favor me avise, pois este tipo de reciclagem ainda não ouvi comentários profissionais ou cientficos.

Enfim, é um tema de fundamental importância para nosso futuro e desenvolvimento.
Saneamento público, Saúde, geração de postos de trabalho e de renda, inclusão social, retenção do homem em suas regiões de origem e diminuição da desigualdade, tudo pode passar pelo processamento do lixo urbano.
Vale a pena ler, discutir e cobrar de quem elegemos.



Alguns passos na área do lixo



Afinal, depois de 19 anos de tramitação, a Câmara dos Deputados, em Brasília, aprovou um projeto de Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ainda terá de passar pelo Senado. Mas contém princípios interessantes. Como o que recomenda conferir prioridade aos estímulos para as cooperativas de catadores de resíduos - que, segundo as justificativas ao texto, já contam com 800 mil pessoas no País. Também dá preferência a materiais reciclados em compras da administração pública; aprova a chamada logística reversa, em que os responsáveis pelas embalagens devem ser responsabilizados pelo retorno dos resíduos nas áreas dos agrotóxicos, pilhas, baterias, lâmpadas, pneus; define que a responsabilidade pelos resíduos deve ser compartilhada por governos, empresas e sociedade. Tudo para contemplar os objetivos centrais da política, que são a redução dos resíduos, sua reutilização e - caso impossíveis - sua reciclagem. A deposição em aterros deve ser a opção final, pois só recomenda a incineração caso não haja outra possibilidade. E será proibida a catação de lixo em aterros.
São, todos eles, princípios interessantes. Mas, além de ainda terem de passar pelo Senado, não criam instrumentos práticos para enfrentar a gravíssima questão dos resíduos no País, principalmente para eliminar os lixões a céu aberto, que ainda recebem mais de metade dos resíduos totais. O projeto recomenda que se criem consórcios intermunicipais para isso e que eles tenham prioridade para receber recursos federais. Além disso, os municípios terão de fazer planos de gestão integrada de resíduos sólidos e estabelecer metas para a coleta seletiva. Paralelamente, o setor empresarial deverá "gerenciar seus resíduos", especialmente criar pontos para receber de volta resíduos problemáticos e/ou perigosos, como pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus, produtos eletrônicos, além de embalagens. Resíduos do saneamento, industriais, de serviços de saúde, da mineração, de empresas de construção e resíduos perigosos obrigarão os respectivos responsáveis a fazer planos de gerenciamento.


São avanços condicionados a que os princípios sejam seguidos por planos em cada Estado, em cada município, em cada setor. E que haja recursos financeiros para enfrentar a situação dramática nesse setor. Porque estamos hoje com uma realidade de cerca de 1,5 quilo de lixo domiciliar por dia por habitante e os 3.639 lixões recebendo 55 milhões de toneladas de resíduos por ano (no País, são 703 aterros adequados e 899 "controlados"). Todas as capitais mais populosas estão com seus aterros esgotados; 25 mil famílias moram em lixões. E os municípios gastam alguns bilhões de reais a cada ano, com a coleta e a deposição dos resíduos, com serviços próprios ou de terceiros (que recebem entre R$ 30 e R$ 60 por tonelada). As licitações para serviços nessa área são apontadas como um dos caminhos mais frequentes para doações ilegais nas campanhas eleitorais.

E tudo isso é um enorme desperdício, como já se escreveu aqui tantas vezes. O setor deveria, ao contrário, transformar-se em grande gerador de trabalho e renda para setores desfavorecidos. Para isso o melhor caminho é o das cooperativas de catadores. Mas ele precisa avançar, com o poder público financiando a construção e implantação de usinas de reciclagem (a reciclagem em usinas públicas não passa de 1% do total), a compra de equipamentos de coleta. Por aí é possível - como já o demonstrou em outros tempos, quando teve mais apoio, o Núcleo Industrial da Reciclagem, de Goiânia - reduzir em até 80% a deposição de resíduos em aterros. Compostando todo o lixo orgânico para transformá-lo em fertilizantes para jardins, recomposição de encostas, etc.; transformando todo o papel e papelão em telhas revestidas de betume, que substituem com muitas vantagens as de amianto; reciclando todo o PVC e transformando-o em mangueiras pretas ou pellets para empresas que os utilizam como matéria-prima; prensando latas e moendo vidros para recicladoras. E, last but not least, gerando trabalho e renda para pessoas com pouca educação formal. Sem perigo de desperdiçar o investimento, pois a cessão às cooperativas deve ser feita pelo regime de comodato renovável periodicamente.
Por caminhos como esse é possível reduzir fortemente os investimentos multimilionários necessários para novos aterros. E cidades como São Paulo geram mais de 12 mil toneladas diárias de resíduos. Também por aí é possível reduzir muito o desperdício mostrado em estudo da Unesp (Sorocaba) com o lixo de Indaiatuba (125 mil habitantes), onde 91% dos 135 mil quilos de resíduos levados para o aterro a cada dia seriam reutilizáveis ou recicláveis.

Há ainda um ponto do projeto aprovado pela Câmara que precisa ser destacado - pela mesma razão, desperdício: o caminho da incineração só deve ser tomado em último caso. Além de caro, o método tem uma contradição insuperável, já enfrentada por vários países europeus: se o objetivo principal de uma boa política para o lixo deve ser reduzir a produção, como se fará com usinas incineradoras, que exigem, no mínimo, a manutenção da quantidade produzida - principalmente se forem utilizadas para gerar energia? Sem falar nos altos custos, já que a incineração de materiais orgânicos exige altíssimas temperaturas, para evitar a liberação de agentes cancerígenos.

Hoje estamos desperdiçando (estudos do Cempre, IBGE e WWF) mais de metade do vidro, papel e papelão, embalagens de PET e plásticos levados ao lixo, além de mais de 70% das embalagens longa vida. A recente decisão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de simplificar as regras para licenciamento de aterros que recebam até 20 toneladas diárias pode ajudar também nos municípios com até 30 mil habitantes. Mas não resolve, sozinha. Será preciso apressar a tramitação no Senado do projeto aprovado na Câmara. E criar os instrumentos práticos para concretizar as decisões.


JORNALISTA. E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR


As cidades sem fim

Na busca de assuntos importantes e pertinentes não só à nossa atuação profissional bem como para nossa vida em cidadania, deparei-me com um breve artigo no editorial do ESTADÃO.

Acredito ser de suma importância para todos nós pelo menos ter-se uma noção de como se estrutura nosso entorno social e demográfico.

Nossas capitais e grandes cidades possuem uma finitude em termos de espaço para se estabelecer planos diretores de vias de circulação geral e residencial em função de muitos fatores, sendo os principais saneamento, escoamento de águas fluviais e, sobretudo, de disponibilidade de malha de energia elétrica de alta e baixa voltagem, haja visto os apagões já incidentes.

Assim, as enchentes, incêndios e aglomerados urbanos com focos de doenças infecciosas e epidemias são os resultados naturais do problema evidenciado no artigo abaixo.

As cidades sem fim


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100326/not_imp529350,0.php

Um relatório das Nações Unidas mostrou que 90% do crescimento da população urbana no mundo ocorre nas nações em desenvolvimento um ritmo cerca de dez vezes maior do que o registrado nas áreas urbanas dos países desenvolvidos. As cidades mais ricas dos países em desenvolvimento atraem milhões de pessoas que se abrigam em favelas das periferias, as quais, por sua vez, formam corredores urbanos que ultrapassam fronteiras municipais integrando uma cidade a outra criando assim as chamadas "cidades sem fim". 

O relatório bienal O Estado das Cidades do Mundo: Unindo o Urbano Dividido foi apresentado durante o Quinto Fórum Urbano Mundial, realizado entre os dias 22 e 26, no Rio de Janeiro, e, segundo ele, bairros e favelas tiveram crescimento de 10% ao ano nas últimas décadas. Embora 227 milhões de pessoas tenham conseguido sair das favelas, desde 2000, elas abrigam ainda 827,6 milhões de habitantes em todo o mundo. No Brasil, o número de moradores de barracos diminuiu 16%, passando de 31,5% da população para 26,4%, enquanto a média entre os países latino-americanos é de 19,5%. Estudos do Banco Mundial revelam que 80% da área urbanizada do mundo tem alto nível de desigualdade e cerca de 60% da população carente mundial vive em cidades. 

Há, enfim, uma clara relação entre urbanização e desenvolvimento nas grandes cidades dos países emergentes, mas sempre acompanhada de diferenças sociais decorrentes da incapacidade dos governos de vencer desafios como a ampliação da infraestrutura e dos serviços, o gerenciamento de situações de risco, garantias de segurança pública e de proteção ao meio ambiente, etc. O relatório da ONU mostra que as 40 regiões metropolitanas mais importantes do mundo concentram 18% da população mundial, 66% de toda a atividade econômica e 85% da inovação tecnológica e científica do planeta. 

O maior exemplo está na China, na região de Hong Kong-Shenzhen-Guangzhou, onde vivem aproximadamente 120 milhões de pessoas. No Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo compõem uma dessas conurbações, abrigando 43 milhões de pessoas, que, a exemplo das outras, exibe grande desigualdade social: apesar de formarem as megarregiões mais ricas da América Latina, o Rio e São Paulo ocupam, respectivamente, a 28.ª e a 39.ª posições entre as cidades mais desiguais do mundo. 

Conforme o relatório, o Brasil é o país campeão nesse quesito, na América Latina. Cinco cidades brasileiras estão entre as 20 mais desiguais do mundo: Goiânia, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba apresentam grandes diferenças entre as rendas da parcela rica e da parcela pobre da população.
Nessas cidades, redes públicas de saúde e educação são insuficientes, a insalubridade se espalha por falta de saneamento e serviços, como o de transporte público, não chegam a boa parte da população desafios que tendem a ser cada vez maiores. De acordo com a ONU, na próxima geração, cerca de 70% da população mundial viverá em cidades, pagando o preço do abismo existente entre a estrutura urbana oferecida à parcela carente e à parte mais abastada da população. Milhões de famílias estarão expostas aos males provocados pela incapacidade dos governos e setores da sociedade de estabelecer parcerias efetivas para a solução dos principais problemas urbanos atuais. 

Em São Paulo, cidade mais rica do País, um terço da população mora em favelas, loteamentos, cortiços e outros assentamentos. São 994.926 famílias que foram atraídas pelo conjunto de oportunidades encontradas num grande e rico centro urbano, mas incapaz de se equipar com a velocidade requerida pelo avanço populacional. Grande parte dessas pessoas vive em situação de risco, embora, nos últimos anos, os governos tenham se empenhado em urbanizar favelas e desenvolver programas habitacionais.

Para recuperar as décadas de atrasos e os prejuízos da omissão ante a ocupação desordenada da capital e região, muito mais terá de ser feito, com a urgência possível, para a efetiva redução da desigualdade e um mínimo de ordenamento urbano.
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Metade das obras do PAC não saiu do papel

O intuito é o de se acompanhar tão importantes projetos para nosso desenvolvimento econômico e inclusão social.

Também se presta a ilustrar o quão difícil é se gerenciar um país complexo como  o nosso com 26 estados e 5640 municípios que, via de regra, não pensam de forma integrada visando o bem coletivo.

Este, também, é um retrato de nossa idossincrasia.


Metade das obras do PAC não saiu do papel, diz ONG

Dos 12.163 empreendimentos propostos pelo governo, apenas 1.378 foram concluídos após três anos


http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,metade-das-obras-do-pac-nao-saiu-do-papel--diz-ong,527772,0.htm

Relatórios estaduais divulgados na sexta-feira, 19, pelo comitê gestor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) revelam que dos 12.163 empreendimentos do principal projeto de desenvolvimento do governo, 54% delas não saíram do papel e apenas 1.378 foram concluídos depois de três anos de implantação. De acordo com a ONG Contas Abertas, que fez a análise dos números, isso mostra que apenas 11,3% das obras terminaram.

Pelo levantamento feito, 46% das ações do programa estão em andamento ou já foram entregues, desde que o PAC foi lançado em 2007. Não foram medidas as ações em Goiás, Piauí e Rondônia, que deixaram de entregar os relatórios.

A metodologia de divulgação dos números usada pela Casa Civil nas cerimônias de balanço oficial tem excluído as áreas de saneamento e habitação. Mesmo assim, os 10.821 empreendimentos dos dois setores estão previstos no orçamento total do PAC, que é de R$ 638 bilhões a serem aplicados entre 2007 e 2010. De acordo com a ONG, tiradas as duas áreas, cerca de 31% das obras teriam sido concluídas.
A Casa Civil contestou o cálculo utilizado pela Contas Abertas. Afirmou que 40% das obras já foram concluídas, relativas a investimentos de R$ 256,9 bilhões. De acordo com a assessoria do Ministério, na divulgação dos balanços não constam as obras de saneamento e habitação porque elas são executadas por Estados e municípios.

Além do mais, afirmou a Casa Civil, as obras relativas aos setores de saneamento e habitação passaram por uma seleção em 2007 e só começaram a ser executadas em 2008. Daí, estarem pelo menos um ano atrasadas. Desse modo, de acordo com a Casa Civil, os balanços levam em consideração apenas as 2.471 obras do último balanço. Portanto, segundo a Casa Civil, uma grande obra, como uma hidrelétrica, estrada ou plataforma de petróleo não pode ser comparada a uma pequena intervenção urbana.
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quinta-feira, 25 de março de 2010

A volta do trem

A tônica tem a ver com infra-estrutura imprescindível para nosso desenvolvimento social e econômico.

O desenvolvimento, a geração de postos de trabalho, a diminuição da violência urbana e o combate à exclusão social passam, necessariamente, pelo desenvolvimento e ampliação das malhas viárias, em especial neste momento de esgotamento do modal rodoviário, a ferroviária.

O escoamento de pessoas, bens e serviços são mais eficientes usando-se o modal ferroviário, notadamente considerando-se aspectos de impactos ambientais.

Houve um momento na História, tendo-se como um dos objetivos o de se dar vazão ao refugo do petróleo produzido, na forma de asfalto, que o modal rodoviário teve maior prevalência. Também pesou nesta ocasião, a topografia muito acidentada de nossas regiões próximas ao litoral, o que inviabilizava o investimento maior em máquinas de forte tração.

O argumento da maior integração entre as cidades e seus vilarejos satélites ajudou, por fim, na escolha e priorização das rodovias, além de ser um maior captador de mão-de-obra de ocupação momentânea.

Agora temos o sufocamento das vias de acesso notadamente próximas aos centros urbanos, assim, creio que a escolha do modal ferroviário ajudará, em muito, na correção dos problemas existentes de trânsito, enchentes, distribuição de energia elétrica, inclusão social e diminuição da violência urbana.

Apesar da reportagem focar mais a região sudeste, vale a pena acompanhar este tema.


A volta do trem


Três décadas depois de terem sido eliminados do cenário brasileiro, os trens interurbanos de passageiros voltam a merecer a atenção das autoridades e, se alguns dos planos já anunciados saírem do papel, eles estarão em operação dentro de poucos anos. Não se trata de mero saudosismo. Como em vários outros países, também aqui o transporte ferroviário de passageiros pode ter um importante papel no alívio dos congestionamentos em vias urbanas e nas rodovias e também na desconcentração das atividades econômicas e da população, o que acabará resultando na melhora da qualidade de vida nas grandes cidades.

[A propósito de haver projetos para ampliação de cidades próximas a capital paulistana]
"Acabariam os congestionamentos nas estradas", prevê, com muito otimismo, o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos, Aílton Brasiliense. Para ele, é importante que um país classificado entre as principais economias do mundo, como o Brasil, tenha opções eficientes de transporte por avião, por rodovia e por ferrovia.

O transporte ferroviário interurbano de passageiros teve grande importância no País. Quatro dezenas de pequenas e grandes empresas operaram redes que chegaram a transportar 100 milhões de passageiros em 1960, sem contar o transporte urbano e o suburbano. Por falta de interesse das autoridades e pelos estímulos oferecidos pelo transporte rodoviário, o trem de passageiros ficou praticamente limitado ao transporte urbano (em São Paulo, com o Metrô e a CPTM).

Trens de passageiros de longa distância continuam em operação em países de dimensões continentais, como EUA, Canadá, Rússia, Índia e China, mas, no resto do mundo, o transporte de passageiros por ferrovia passou por transformações, sobretudo, a partir do momento em que empresas privadas passaram a operá-lo. Há, atualmente, uma forte predominância de ligações de média distância.

As ligações ferroviárias chamadas de regionais, com até 200 km de extensão, têm grande demanda e, em geral, não envolvem grandes investimentos na infraestrutura básica e nos sistemas de controle e segurança operacional, pois, em geral, utilizam redes preexistentes. Os maiores investimentos costumam ser nos próprios trens, que devem oferecer aos usuários conforto, segurança e confiabilidade suficientes para fazê-los abandonar ônibus ou automóveis e escolher o trem.

[...] No plano federal, o Ministério dos Transportes iniciou estudos de viabilidade econômico-financeira de dezenas de ligações ferroviárias, inclusive no Estado de São Paulo, com o objetivo de selecionar 15 nas quais concentraria recursos, parte dos quais financiados pelo BNDES. O governo federal tem também o plano de construção do trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, com extensão até Campinas. 
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quarta-feira, 24 de março de 2010

Por que tantos terroristas são engenheiros?

Durante o mestrado que fiz sobre Novas Ameaças e Crimes Transnacionais o que me chamou a atenção foi a prevalência e força do terrorismo no mundo.

Assiti palestras e workshops com especialistas do mundo inteiro, praticamente, bancados pelos EUA por motivos óbvios. Uma das palestras que assisti na National Defense University, foi com a Sra Jessica Stern que abaixo comenta o fenômeno. A partir do que ela colocou e de outros artigos que dela li passei a entender, ao menos um pouco.

Chamou-me a atenção, de imediato, o grau de intrução dos terroristas que explodiam lugares públicos: Todos com educação superior e os últimos até com doutorado.

As respostas à primeira pergunta eram feitas nos trabalhos em grupo por serem tentativas vãs de entendimento produzidas por nosso modelo mental ocidental.
Este artigo lança uma luz nas causas.

A propósito, os crimes transnacionais não pararão de crescer, mesmo com o Obama, prêmio Nobel da Paz no poder dos EUA.

Por que tantos terroristas são engenheiros?

 MOISÉS NAÍM - El País - publicado em A Tarde, 08/03/2010 

Qual é a principal causa do terrorismo islâmico?
 a) pobreza; b) injustiça; c) falta de democracia; d) desesperança; e) conflito palestino-israelense; f) religião; g) não se sabe.

A resposta correta a esta pergunta é tão importante como surpreendente. Enquanto não entendermos as causas do terrorismo islâmico será impossível buscar as soluções.

Na realidade, não é muito o que se sabe acerca das razões pelas quais uma pessoa decide suicidar-se massacrando inocentes. Assim, a resposta correta à pergunta é a g) não se sabe.
Se as causas do terrorismo fossem a pobreza e a desigualdade, o mundo estaria cheio de terroristas brasileiros.

E se a democracia fosse um antídoto eficaz, a Índia, que é a maior democracia do mundo, deveria sofrer menos atentados do que ditaduras, como a China ou a Líbia. Porém, não é assim. As democracias são mais vulneráveis aos ataques terroristas que os regimes autoritários.


Motivações
Jessica Stern, uma investigadora de Harvard, reporta que o governo da Arábia Saudita tem interrogado milhares de terroristas capturados acerca de suas motivações. A esmagadora maioria não teve uma educação religiosa extensa e sua compreensão do Islã era muito limitada. Cerca de 25% dos participantes de programas de reabilitação de terroristas na Arábia Saudita têem antecedentes criminais e só 5% levavam uma vida religiosa ativa.
Em geral, é pouco o que se sabe sobre as origens dos terroristas ou sobre seu perfil psicológico.


Exceto que muitos deles são engenheiros. Esta é a surpreendente conclusão de um artigo publicado recentemente no “European Journal of Sociology”, intitulado “Por que há tantos engenheiros entre os radicais islâmicos?”.

Diego Gambetta e Steffen Hertog destacam que “entre os radicais islâmicos violentos, os engenheiros estão representados entre três e quatro vezes mais que outros profissionais”.
Acima da média. Os autores estudaram mais de 400 membros de grupos radicais islâmicos em mais de 30 países. Não só confirmaram os resultados de investigações prévias, que haviam identificado que os terroristas costumam ter maiores rendimentos e mais educação que a média da população de seus países, como também descobriram que 44% dos violentos eram engenheiros ou estudantes de engenharia.


Nos países de procedência dos indivíduos letrados, os engenheiros são muito escassos: são apenas 3,5% da população.

Porém, nos grupos terroristas islâmicos constituem quase a metade do total.
A segunda área acadêmica mais frequente na amostra analisada é a de Estudos Islâmicos, seguida por Medicina, Ciências e Educação – cada uma das quais alcança taxas muito inferiores aos 44% dos engenheiros.


Mais ainda: entre os terroristas islâmicos nascidos e criados em países ocidentais, 60% têm estudos de engenharia.
Como se explica este fenômeno?


Gambetta e Hertog examinam e rechaçam várias hipóteses. Segundo eles, a engenharia atrai os que preferem respostas claras e modelos mentais que minimizam a ambiguidade. Gambetta e Hertog argumentam que há muita afinidade entre a estrutura mental dos engenheiros e as ideias dos terroristas islâmicos. Esta tendência interage e é potencializada pelo fato de que os engenheiros – inteligentes e ambiciosos – se chocam e se radicalizam ao confrontar-se com a estagnação econômica a falta de oportunidades para os jovens e a repressão política, comuns em países islâmicos.
Tradução: Augusto Queiroz
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terça-feira, 23 de março de 2010

Brasil, Índia e China e o futuro da democracia

Uma das análises mais densas e apropriadas que li nos últimos meses.
Observem a força, a dinâmica social e econômica por detrás da projeção feita pelo sociólogo.
Procurei evidenciar o que tive alcance de perceber no detalhe. Certamente os amigos vislumbrarão mais.

Futuro da democracia no mundo dependerá em boa parte das classes médias chinesas, indianas e brasileiras

El País
Lluís Bassets http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2010/03/18/futuro-da-democracia-no-mundo-dependera-em-boa-parte-das-classes-medias-chinesas-indianas-e-brasileiras.jhtm


São as classes médias que mandam. Pelo menos nos países democráticos, onde os governantes devem atender, sobretudo, a suas necessidades para ganhar eleições. São muito diferentes de um país para outro e mais ainda de um continente para outro, mas em toda parte querem finalmente o mesmo: paz, estabilidade e prosperidade, e traduzido para questões concretas: postos de trabalho, salários decentes, moradias dignas, educação de qualidade, aposentadorias razoáveis.

À diferença das classes dominantes em períodos anteriores da história da humanidade, estas são amplas e extensas. Nada a ver com a aristocracia do Antigo Regime nem com a alta burguesia do capitalismo clássico, elitistas e fechadas, com frequência condenadas ao isolamento e à decadência. Pode ocorrer que não sejam democráticas em seus valores ou pelo sistema político em que se enquadram, mas o são sociologicamente ali onde são hegemônicas.

São classes lutadoras, embora sua luta nada tenha a ver com a luta de classes. Lutam por existir e crescer: o Partido Comunista Chinês reivindica a maior contribuição para a história das classes médias. Afirma que tirou da pobreza 500 milhões de pessoas em uma geração, mais de um terço de sua população atual. E se seus dirigentes preferem não ouvir nem falar de abertura democrática e situam o cume de sua modernização para daqui a cem anos, é porque ainda contam com 150 milhões de pobres aos quais não chegaram os benefícios do capitalismo comunista, e estão firmemente convencidos de que não vão tirá-los da pobreza em um sistema descentralizado, pluralista e respeitoso com os direitos humanos como o que exigem os dissidentes e propõem os países ocidentais.

As classes médias crescerão na Ásia em um ritmo desenfreado nos próximos anos, mas estancarão ou só crescerão ligeiramente no resto do planeta e sobretudo onde já são o grosso da sociedade, como é o caso do que costumamos chamar de Ocidente. Embora a mutação seja pacífica, isto é, sem guerras entre as classes médias dos diversos países e regiões, sabemos que ocorrerá e já está ocorrendo em forma de uma intensa competição.

Mas as grandes mudanças econômicas e geopolíticas que nos esperam neste século 21, e que em boa medida já começaram, são produtos fundamentalmente da expansão das classes médias em todo o mundo. A globalização que promoveu o crescimento das classes médias tem duas faces: uma positiva, que distribui benefícios sinérgicos a todos; e outra negativa, na qual os efeitos são de soma zero. Exemplos: os empregos que se criam na China desaparecem dos EUA; e o petróleo que consomem os carros em Paris sobe de preço quando são muitos os que querem andar de carro em Mumbai; as emissões para a atmosfera dos países industrializados ao longo da história limitam as possibilidades de futuro desenvolvimento dos países emergentes e os obrigam a investir em tecnologias menos poluidoras.

Como em todo jogo de soma zero, o que os novos ganham os mais velhos perdem, na distribuição do poder mundial e no peso de cada um nas instituições internacionais. É a mutação do G8 para o G20 e inclusive a desenvoltura com que os dirigentes dessas novas potências do século 21 ousam enfrentar o presidente dos EUA.
Sem suas classes médias por trás, pressionando e exigindo, com um enorme potencial de consumo, um peso crescente na economia global e inclusive um novo orgulho nacional, não seriam possíveis essas novas atitudes que enlouquecem as diplomacias americana e europeia. As classes médias europeias e americanas demonstraram que onde crescem melhor é em regimes de liberdade e democracia. Mas não significa que a liberdade e a democracia sejam o abono imprescindível para sua expansão.

Na Espanha conhecemos de primeira mão a expansão das classes médias sob a ditadura. Graças à ditadura, dirão os céticos em matéria de liberdades. Apesar da ditadura, responderão os liberais. Não é uma reflexão historicista: vale para o maior viveiro de classes médias da história que é a China. E transcende o âmbito chinês. O mundo está se desocidentalizando em marcha forçada, segundo expressão de Javier Solano, utilizada há poucos dias em Barcelona, em sua primeira conferência como presidente do Centro para a Economia Global e a Geopolítica do Esade.

E já estamos nos conformando com o deslocamento de seu centro de gravidade. O problema é saber se vamos nos conformar também com que nossos valores fiquem diluídos ou desvalorizados. O futuro das liberdades e da democracia no mundo dependerá em boa parte de como as classes médias chinesas, indianas e brasileiras encarem sua relação com as liberdades individuais e a democracia parlamentar. Nada menos.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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segunda-feira, 22 de março de 2010

"OS MEUS ANOS SESSENTA...".


Já há algum tempo vinha rabiscando algo sobre os famosos "anos 60". Daí que uma amiga me manda o texto abaixo que, de tão perfeito, não me furtei em replicar aqui com os devidos créditos, é claro. Embora o autor, Frederico Mendes, reporte-se a um ambiente obviamente carioca, muitas das suas observações podem ser consideradas como aspirações e vivências de toda uma geração:

"Conheço muitos jovens com saudades dos anos 60, anos só imaginados através do cinema, livros ou relatos dos pais. Para eles seria uma época mítica e lendária, os anos rebeldes. Também tenho saudades, mas não era bem assim...

Não havia internet, Google, fax, celular e muito menos TV a cabo. E os quatro canais existentes começavam a funcionar ao meio-dia e encerravam a programação lá pela uma da manhã. E depois só ficava na tela um desenho estranho e estático nos dando boa noite até o final da manhã.
Tínhamos que ir à biblioteca para fazermos pesquisas de colégio. Os discos, que eram chamados de "long-plays", de no máximo 32 minutos tinham que ser virados para tocar o lado B. Não havia controle remoto e nem telefone sem fio.



Os telefones, assim como os táxis, eram sempre negros e muito pesados.
E não tinham teclas, mas discos rotatórios com números encaixados dentro de buracos circulares onde enfiávamos os dedos. Daí a origem do verbo discar como sinônimo de telefonar. E não tinha "redial", o que nos obrigava a enfiar o dedo e discar de novo e de novo. E como dava engano!
A onda do telefone era dar trotes. Crianças e adultos passavam trotes bobinhos tipo : "pinico de barro enferruja?" ou "A senhora pode esperar um minutinho?". Depois de 60 segundos de silêncio, o trotista dizia obrigado e desligava com uma risadinha audível...

Telefone no Brasil sempre foi um problema.
Para fazer uma ligação telefônica tinhamos que esperar o telefone "dar linha".
Não havia DDI e uma ligação internacional demorava mais de quatro horas para ser feita pela telefonista. Quando a ligação se completava, nem sempre sabíamos mais do que queríamos falar ou então aquela paixão monumental já tinha virado um simples "flêrte".

Computadores, só os bancos tinham. Gigantescos, ocupavam andares inteiros e só eram compreendidos por especialistas que possuíam curso universitário sobre o assunto.
Dentista doía, e doía muito...

Em compensação a música era muito melhor! John Lennon, Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix, todos os jotas ainda estavam ativos. Muito doidos, mais pra lá do que pra cá, mas vivos. Bob Dylan não era o fanático religioso de hoje e influenciava toda uma geração de "quero-ser-poeta". E o Zé Bonitinho, Golias e o Zé Trindade apareciam na "Praça é Nossa" e até achávamos meio divertido, apesar de bastante
kitsch.

Dava para praticar namoros nas areias da praia de Ipanema de noite sem sermos assaltados por pivetes e nem achacados por PMs. Ou vice-versa. PMs que aliás eram chamados de Cosme e Damião, porque andavam sempre em duplas. E usavam gravatas negras e uniforme cáqui.
Uma calça Levis 501 custava o equivalente a US$ 3,00 no Mercadinho Azul de Copacabana, paraíso dos importados contrabandeados por aeromoças da finada Panair do Brasil. O perfume Lancaster vinha da Argentina e todos nós, rapazes da Zona Sul usávamos.O cheiro deste perfume nas festas concorridas era massacrante para as narinas mais sensíveis.

Do Paraguai só chegava uísque falsificado, isto é, nacional legítimo Made in Assuncion. As camisas eram de Ban-lon, ou de malha com psicodélicos jacarezinhos verdes. E não é que a Lacoste voltou à moda? Aliás, muitos de nós víamos jacarés e macacos verdes e alucinados por aí.

As calças eram de Tergal, isto é, não amassavam e nem perdiam o vinco e quem comprasse um terno na Ducal ganhava duas calças iguais. O que sempre me fez perguntar o porquê: calças sujavam mais do que paletós ou eram menos duráveis?

As moças, depois de virarem mocinhas, ainda ficavam incomodadas, até que um gênio da publicidade escreveu: " Incomodada ficava a sua avó!", em anúncio de absorvente. E só havia Modess no mercado. E o que seria do amarelo se todos gostassem do vermelho? Ou vice-versa? Esta publicidade de tintas marcou. Se alguém lhe citar esta frase, ou é o seu pai, ou um estudante de publicidade ou algum novo velho nostálgico que aprendeu a dizer isto com o pai.

Perto da minha casa em Copacabana haviam 18 cinemas, distante no máximo uns 15 minutos a pé. Ou sete de bonde. "Bonde? O que é isso?" A Brigitte Bardot e a Sophia Loren ainda eram umas gatas, e contávamos
pin-ups pulando a cerca até cairmos no sono, nossos "wet dreams" noturnos.

A Sonia Braga, linda aos 18 anos, tirava a roupa (nuínha em pelo!) todas a noites na peça Hair. Meninos, eu vi! Aliás, eu ia em quase todas as noites. E o Wilker era só um ótimo ator meio estranho e ruivo.

As meninas nos dividiam entre os pães e os muquiranas, ou bonitos e feiosos.
Pão era o Alain Delon. O Paul McCartney também, apesar de que as meninas mais "cabeça" já preferiam o Lennon, que usava óculos, era míope e tinha jeito e cara de intelectual. Sorte minha que já era um "quatro olhos", apelido políticamente incorreto de quem os usavam .

Mas quem realmente salvou a minha vida afetiva e amorosa foi o ator francês Jean Paul Belmondo. Calma , gente! Belmondo era um feio com nariz estranho que as mulheres achavam "charmoso". E acabou com a tirania da beleza roliúdica dos galãs pasteurizados para sempre e graças a Deus!

Os litros de leite eram vendidos em garrafas de vidro. Mas só dava para beber leite pasteurizado, isto é, que recebia um tratamento especial. Mas todos tinham que ser fervidos antes de serem bebidos. E não havia esse tal de desnatado: havia o adulterado com muita água e o adulterado com menos água. Leite em pó tinha que ser batido durante minutos com uma colher para dissolver no copo. Era um bom exercício para o muque. Até que surgiu o leite Glória que "dissolvia sem bater".

E o carro Gordini, um francês fabricado em São Paulo, que todo jovem queria ter, recebeu o apelido de
Leite Glória porque também se dissolvia sem bater. Era muito frágil. Os carros só possuíam rádios AM (!) e eram Fuscas, Dauphines, o já citado Gordinis, DKWs (Decavê) e Aero Willis.

E o elegante Simca Chambord, com mini rabo de peixe e pneu de banda branca como um Cadillac chinfrim e tudo. Mas todos sem ar-condicionado e vidros elétricos. Mais um motivo para exercitarmos o muque que exibíamos por baixo das camisas de manga durta arregaçadas ao estilo James Dean, ou nas praias mais ou menos limpas, mas com valas negras quase do tamanho do Rio Negro.

Sol naqueles anos dourados não causava câncer, mas mesmo assim nos protegíamos com Rayto de Sol, o único argentino que chegava até nossas praias. Bons tempos. Camisinhas só eram usadas nas incursões à zonas mui perigosas, nas casas coloridas perto do Canal do Mangue, hoje Cidade Nova.

As torcidas de futebol só gozavam com as caras dos outros nas derrotas, sem brigas e sem violências, numa época onde
porra e pentelho eram palavrões e não ficavam bem na boca de ninguém. Aliás, até hoje porra e pentelho não ficam bem na boca de ninguém...

Os discos dos Beatles (e filmes) demoravam meses para serem lançados aqui. Mas quando chegavam eram uma festa, festa mesmo com todo mundo dançando
twist e yê-yê-yê. As meninas alisavam o cabelo com ferro de passar roupa e só gostavam de garotos de cabelos lisos. Os meninos de cabelos mais rebeldes dormiam com ridículas toucas na cabeça feitas com meias de seda surrupiadas da mãe ou da irmã. E sempre acordávamos com uma marca na testa que só saía da cara da gente lá pela hora do recreio.

Isto até 1966, quando surgiram os primeiros hippies e seus longos cabelos encaracolados. E foi aí, com os meus rebeldes cachos que arrumei a minha primeira namorada. As câmeras eram analógicas, manuais e muito mocorongas.
Photoshop era apenas uma tradução para loja de fotografias, para quem estudava no IBEU ou para quem tinha feito American Fields,high school nos cafundós do centro-oeste americano.

Outra coisa interessante era que dávamos festas onde a grande atração era um imenso gravador de rolo onde brincávamos de gravar as nossas vozes dizendo bobagens, poesias e outras bobagens. "Poxa, minha voz é assim mesmo?" É verdade, a gente ainda não se conhecia tanto.

E psicanálise ainda era considerada coisa de maluco. Só em 1968 que a análise entrou na moda. E também surgiram as primeiras fitas cassete. Lembro de ouvir o Album Branco dos Beatles em uma dessas estranhas novidades. E de achar inovador e genial uma capa toda branca e branca ainda por cima e por baixo.

Aliás,
genial era o adjetivo da moda. Tudo era geniaaaal! Menos os filmes do Julio Bressane que passavam no Cine Payssandú. Eram loooongos e chaaaatos... Havia festivais de bossa nova nos ginásios e auditórios onde cantavam jovens promissores, tipo um garoto tímido chamado Francisco Buarque de Holanda, e mais Eduardo Lobo, Nara Leão, ou uns coroas metidos a garotões como Antonio Carlos Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Vinícius de Morais. Todos geniaaais!

Jorge Benjor ainda se chamava Jorge Ben e era só um dos maiores craques do futebol de areia, em Copacabana. Bairro onde também Vinicius morou. E logo no meu prédio! Ele me dava bom dia no elevador (eu indo para o colégio, ele voltando da noite) e me gozava quando o seu Garrincha fazia gols no meu Mengão. E o que é pior: nunca conversamos sobre poesia, amor ou literatura. Só sobre bola e os grandes peitos sem silicone(!) da vizinha do 302.

Açúcar não fazia mal. Engordava e causava cáries, mas não era o veneno de hoje. Não havia refrigerantes
Diet ou Light. E Light era só um clube do qual minha mãe não era sócia, pois me dizia isso sempre que eu deixava a luz do quarto acesa atrás de mim.
Havia um tal refrigerante Grapette, que "quem bebe, repete" cuja principal característica era a de deixar a língua roxa. Roxa como a luz negra que dava ares de Londres ou San Francisco nas nossas festas e nos deixava com uns dentes cor de dente de vampiro. Nas festas, brincava-se de pêra, uva ou maçã. Pêra era aperto de mão, uva, abraço, maçã, beijo. As mais afoitas escolhiam logo salada mista de frutas. Mas nunca dei a sorte de escolher tamanha iguaria...

Legal foi quando o
Bob´s de Copacabana inventou o queijo quente, e ia bem com a novidade do suco de uva. Pouco depois lançaram a salada de atum e a de ovos, mas essa não era muito popular, porque dava gases e tínhamos que mostrar que a mão não estava amarela. Confesso que até hoje nunca entendi qual era a relação entre a flatulência e a cor da palma da mão.

Trocava-se de mal apertando os dedos mindinhos, fazia-se as pazes com os polegares. Em uma era pré-Aids fazíamos pactos de sangue. Éramos dramáticos até a morte extrema. E tudo era prenúncio de uma tragédia grega ou de fotonovela italiana da finada revista
Grande Hotel. Os atores tinham até fã-clube no país. E causavam suicídios entre as mal-amadas.

Brigávamos na rua por bobagens tipo "não mete minha mãe no meio, senão eu meto no meio da tua”. E quando alguém do prédio acima jogava água (ou outros) para acabar com a balbúrdia, gritávamos: "Joga a mãe junto, amarrada a um piano!”. Imagino que era para ela cair mais rápido. Ou talvez um certo preconceito contra os "pequenos burgueses" que tinham piano em casa. O quente era tocar violão! Eramos meio edipianos...

Alguns começavam a fumar bem cedo para se sentirem mais velhos como o Sean Connery, charmosos que nem o Paul Newman, gostosas como a Kim Novak ou Marilyn Monroe. E macho mesmo fumava só cigarro sem filtro, tipo Continental. Vários já viraram saudade nesta onda.
Eu experimentei um tal de "Cigarros Cônsul" porque era mentolado, mas ainda bem que tossi tudo o que não tinha direito na frente da guria que queria impressionar.
Salvo do câncer, do enfisema e da impotência (ufa!) pelo engasgo e pelo mico.

Nos cinemas era proibido comer, fumar e beber. E alguns beijos mais afoitos eram devidamente iluminados pelo lanterninha. Se o casal reincidisse no delito era colocado para fora, como Adão e Eva do Cine Paraíso. Muitas boas reputações foram destruídas em matinês...
Menina que ia à Barra da Tijuca de noite ficava falada para o resto dos dias.
Se fosse de lambreta então, já estava no inferno. E não casava mais. Apesar de que alguns cirurgiões plásticos apregoavam que sabiam como restaurar virgindades. Literalmente.

Para nós, garotos com espinhas ou sem espinhas, sexo só com as revistinhas de sacanagem do Carlos Zéfiro, que ainda não era cult e não posava em capa de disco da Marisa Monte. Ou então, com revistas de fotografias que mostravam fotos de mulheres nuas retocadas "lá em baixo" em uma era pré-Photoshop. Vai ver que foi por isto que virei fotógrafo depois.

Revista Playboy só as importadas. E alguns pais as mantinham guardadas em cofres, junto com os bônus do Tesouro Nacional. E mesmo assim nelas não podiam aparecer pêlos e nem a perereca. Que, aliás, a Dercy Gonçalves, que já era velha na época, tão bem popularizou na música " A Perereca da Vizinha Está Presa na Gaiola". Um clássico do cancioneiro carnavalesco, como veremos depois.

As meninas eram muito "difíceis" e, zelosas da reputação ou com, medo de ficar para "titia" só começavam a atuar bem depois dos vinte. A solução era recorrer às profissionais, que estavam mais para amadoras, com trocadilho mesmo. Ou visitar o quarto daquela empregada mais afoita na calada da noite.

Naquele tempo não haviam diaristas e quase todas dormiam nas casas onde trabalhavam. E tinham que subir pelo elevador dos fundos junto com os "pretos" ou "os de pele moreninha", eufemismo então corrente no país que mal sabia disfarçar um racismo secular.
O Brasil era uma grande senzala. Era?

Não havia esse negócio de viajar para Búzios com o namorado.
Búzios era uma vila de pescadores, quase nos cafundós, e só ficou famosa depois que o namorado brasileiro de Brigitte Bardot (que, aliás, era marroquino, mas os jornais entusiamados logo o "naturalizaram") levou-a para fugir dos paparazzis que tanto a perseguiam pelo Rio.
isto é, cursado a Brigitte depois voltou para cá e dava tanto mole pela cidade que já a chamavam de "arroz de festa". "Ih... lá vem aquela chata da BB...". E estas duas letras em maiúsculas viraram para todo o sempre abreviatura de "boa e burra". Isto é, até o Big Brother surgir.

Algumas reputações de Hollywood foram destruídas nos bailes de Carnaval. Todos se lembram do galã másculo Rock Hudson agarrado aos beijos e barrancos com um fuzileiro naval na piscina do Copa, enquanto a orquestra atacava de Cidade Maravilhosa. Música que encerrava os bailes, de clubes ou das ruas cercadas por cordas, onde ficávamos dando voltas abraçados nas meninas, vestidos de tirolês, caubóis ou havaianas.

E pulando ao som de uma bandinha xexelenta(?) tocando músicas de duplo sentido, ou até meio explicitas, tipo: "olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...", ou" foi ele que botou o pó em mim". Pó de mico... É claro que as meninas avançadas trocavam o "ó" por "au"... E sempre ajeitando os sarongues.

Aliás, as sandálias havaianas eram chamadas de japonesas e homem só podia usar as de cores escuras. E mesmo assim só para ir à praia. Camisa vermelha era "coisa de viado", diziam. Ou pederasta, como as famílias diziam dos filhos dos outros. Mas havia muito pai que era cego e não via que seu filho dava umas boas "desmunhecadas" ou jogava "água fora da bacia";.
A juventude era uma doença que se curava com o tempo.

Até que, no começo de 1964, a Beatlemania explodiu no mundo e tudo começou a mudar. Pela primeira vez na história, jovens começavam a formar opiniões e a mudar o comportamento vigente da sociedade careta de então. Descobríamos a liberdade. Que não era só um jeans azul e desbotado do anúncio da US Top. Liberdade,liberdade que abria suas asas sobre nós!
Ela era real e para sempre. Assim, pelo menos pensávamos.

Mal sabíamos que em 1º de Abril de 1964, o dia da mentira, um golpe militar de direita iria mergulhar o país na mais longa noite, na pior escuridão, no caos e no medo.
Uma noite que durou 21 anos. Nesta longa e vazia noite, amigos desapareciam, como que encantados por um bruxo mau, para sempre. No que parecia ser uma escuridão eterna, havia uma tênue esperança de luz no fim do túnel. Alguns, mais pessimistas, diziam que era um trem na contramão...
Pichávamos paredes com palavras de ordem contra os militares. Passeávamos em passeatas, no centro da cidade, que sempre acabavam, em grossa pancadaria, repressão das "otoridades" e muitas prisões. E beijos entre os sobreviventes, livres, leves e até então soltos. Mas a gente era feliz. E sabia disso, mesmo quando vivíamos na fossa. Que, aliás, eram volúveis e voláteis e sujeitas a dias de praia e sol e noites de chuva ou lua cheia.

Acreditávamos no amor eterno, mas não achávamos que veríamos o século XXI. E 2001, além de ser um grande enigmático filme (para os reles mortais e burgueses que não entendiam bulhufas), era uma data abstrata e distante. Nos saudávamos uns aos outros com um simples "paz e amor".

Acreditávamos nisso. E continuo acreditando...
(Texto Frederico Mendes/fotos reprodução)
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domingo, 21 de março de 2010

O emprego e os gargalos

Saliento que o mesmo jornal que antes falava acerca da falta de profissionais qualificados para o preenchimento de vagas agora apresenta a matéria abaixo.

Há os pontos em comum em ambos artigos que sublinham a necessidade de se investir mais em infra-estrutura para geração de emprego e viabilizar o desenvolvimento econômico.

Não custa relembrar que os imbróglios junto ao TCU por questão de obras de infra-estrutura do PAC denotam que haverá um tempo muito grande, talvez maior até que cinco anos para que todas as obras necessárias, até então em andamento, prossigam e se finalize.

Da mesma forma as previsíveis faltas de energia elétrica regular e de qualidade  nas grandes cidades desnudam a falácia proliferante após o affair do primeiro apagão no Paraná, celeremente justificado por representantes ministeriais mas que, agora, comprovam serem apenas, conversa para enrolar trouxas. Faltará energia, quando vier não será sustentável e o investimento em produção atrasará significativamente.

Assim, mesmo jorrando petróleo no quintal de cada casa até 2016, não teremos condições, por infra-estrutura ou mão-de-obra qualificada, atingir  a quinta economia no ano citado.


O emprego e os gargalos


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100318/not_imp525795,0.php
A criação de empregos não deixa dúvida. A economia brasileira venceu a crise e volta a crescer vigorosamente. Falta saber se poderá continuar em expansão sem pressões inflacionárias importantes e sem problemas no balanço de pagamentos. Para começar, a boa notícia: em fevereiro foram contratados com carteira assinada, em termos líquidos, 209.425 trabalhadores. Esse número, diferença entre admissões e demissões, é um recorde para o mês. O saldo das contratações, no primeiro bimestre, chegou a 390.844, segundo as últimas informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mantido pelo Ministério do Trabalho. Nem todo emprego formal contabilizado pelo governo corresponde a um emprego novo. O trabalhador pode ter sido recrutado no mês anterior ou até há mais tempo. Mas o balanço do Caged é um indicador relevante da situação econômica, do estado de humor dos empresários e da evolução do mercado de trabalho.

Outras fontes, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), confirmam a expansão das contratações. Em fevereiro, a indústria paulista preencheu 23 mil postos. O aumento do emprego, descontado o efeito sazonal, foi de 0,8% em relação ao mês anterior. Dados como esse têm um significado especial neste momento. A criação de empregos é um dos últimos sinais da reativação econômica.
Em geral, a produção cresce durante vários meses com a mão de obra já disponível nas empresas. A produtividade aumenta, nesse período, e as companhias só voltam a procurar trabalhadores quando a recuperação parece consolidada. Esse comportamento, bem conhecido há muito tempo, foi amplamente verificado nas fases de recuperação do último meio século. Esse detalhe torna particularmente auspicioso o aumento das contratações no Brasil nesta fase.

Mais empregos significam mais salários e, num ambiente de maior segurança econômica, o aumento do consumo é uma tendência previsível. Já no ano passado os gastos dos consumidores foram o principal motor da economia. Esses gastos cresceram 4,1%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,2%, de acordo com a primeira estimativa divulgada pelo IBGE. Em janeiro, segundo a mesma fonte, o volume de vendas do comércio varejista foi 2,7% maior que o de dezembro e 10,4% maior que o de um ano antes, sem contar as vendas de veículos e peças e de material de construção.

Também esses dados são auspiciosos, porque indicam melhores condições de vida de milhões de famílias. Mas é indispensável perguntar se a economia brasileira suportará por muito mais tempo uma rápida expansão do consumo. A resposta será positiva se duas condições forem dadas. A primeira é a ampliação da capacidade produtiva. Se houver investimentos suficientes, a produção poderá acompanhar mais de perto a evolução do consumo e não haverá pressões inflacionárias importantes. A segunda condição é o aumento das exportações. Se as vendas crescerem de forma adequada, as importações poderão suprir parte relevante da demanda interna, por muito tempo, sem perigo de crise cambial. Hoje, nenhuma das duas condições é observada.

Em 2009, os investimentos em máquinas, equipamentos e construções foram 9,9% menores que os do ano anterior. O valor investido caiu de 18,7% para 16,7% do PIB. Em 2008 já era insuficiente para garantir um crescimento seguro por vários anos. O quadro piorou em 2009. Alguma reativação nessa área parece ter começado, mas não se pode menosprezar a perda de um ano. Será preciso investir com muito vigor para compensar a redução do ano passado e, além disso, levar a taxa de investimento a um nível mais adequado, certamente acima de 20% do PIB.

As contas externas também preocupam. As importações voltaram a crescer mais velozmente que as exportações, como no ano anterior à crise. Neste ano, até a segunda semana de março, a média diária de exportações foi 25,9% maior que a de um ano antes. Mas a média do valor importado ficou 31,4% acima do registrado no mesmo período de 2009. O governo deveria cuidar prioritariamente dos dois gargalos, o investimento e o comércio exterior, para garantir um crescimento seguro e duradouro.
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sábado, 20 de março de 2010

Uma plataforma para a melhoria da educação




Uma leitura atenta a reportagem no post  Escassez de mão-de-obra descortina uma forte tendência à ineficiência da formação no início da educação do cidadão.

A autora do artigo abaixo desnuda, nas entrelinhas, a força que o corporativismo, o sindicalismo e a ausência da sociedade no processo de educação de seus cidadãos podem causar ao desenvolvimento de uma sociedade.

Quanto mais ausentes e apegados à síndrome do "procurador" ou do "despachante" (que são os que nos representam junto às instituições e à nossa responsabilidade em uma sociedade que se propõe democrática em problemas que vão além de nossa zona de conforto)  formos, mais estes problemas que impedem o nosso avanço para o primeiro mundo ganharão corpo.

Nào adianta buscar solução junto a um ícone egresso da classe sindical que ele(a) não irão de encontro àqueles que lhes dão sustentação. Esta é uma responsabilidade nossa.

É uma grande vergonha para todos nós termos analfabetos funcionais concluindo cursos de graduação.

Enfim, segue a excelente radiografia abaixo.








Uma plataforma para a melhoria da educação



O Brasil tem grandes desafios a vencer para melhorar a qualidade da educação, mas é importante constatar que inúmeras iniciativas em curso trazem a perspectiva de bons resultados. Universalizamos o acesso ao ensino fundamental, introduzimos uma cultura de avaliação que permitiu, entre outras coisas, clareza de algumas competências a serem desenvolvidas série a série, há livros didáticos para praticamente todos os cursos e o piso salarial para o professor, se não é o ideal, avançou bastante.
Mesmo assim, como mostram as avaliações externas aplicadas pelo Ministério da Educação (MEC) e por muitos Estados, a aprendizagem das crianças ainda deixa muito a desejar. Os alunos têm mostrado níveis críticos de domínio de competências em leitura e raciocínio matemático em quase todos os Estados e municípios. Precisamos, evidentemente, avançar mais, e mais rápido. Para tanto não basta investir mais em educação. É necessário, também, ter uma política educacional que se consolide num sistema nacional de educação, a exemplo do que já existe na saúde e em outras áreas. A fragmentação da política educacional começou a ser combatida com o Plano de Desenvolvimento da Educação, mas só teremos um ensino de qualidade se houver um processo nacional de certificação de professores e um currículo mínimo a que qualquer criança, por ser brasileira, tenha direito. A valorização de culturas locais e a autonomia da unidade escolar não podem vir à custa do acesso dos alunos a uma formação sólida em Português, Matemática, Ciências, História ou Geografia.
Nos Estados e municípios deveria haver uma definição e uma comunicação clara do que é sucesso escolar. A sociedade deve ser informada, seja por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou de outros índices que meçam aprendizagem e fluxo escolar, se as crianças estão aprendendo. Da mesma forma, seria necessário tornar efetivo e complementar em todas as escolas o currículo mínimo nacional. Isso garantiria a padronização e o direito a uma aprendizagem comum, independente da escola ou do professor, bem como a possibilidade de considerar culturas locais e potenciais de cada unidade escolar. Além disso, a preparação de material de suporte para todas as disciplinas, com propostas alternativas de atividades a serem desenvolvidas em aula, ajudaria na instrumentalização do professor e complementaria o trabalho feito com base no livro didático.
Cada gestor estadual ou municipal deveria, por meio de avaliações regulares internas e externas, identificar alunos que não aprendem e oferecer-lhes a chance de um processo de recuperação da aprendizagemNão é possível aceitar que a escola continue produzindo analfabetos funcionais e que isso só seja descoberto no sexto ano, quando o aluno não conta mais com professor alfabetizador! Neste caso, a recuperação só pode ser feita assumindo a existência do problema e realfabetizando a criança.
O gestor deveria também capacitar os professores de forma a sanar os problemas de aprendizagem identificados nas avaliações, associando capacitação não só à carreira, mas às reais dificuldades reveladas pelos alunos. Para ultrapassar essa realidade de baixos níveis de aprendizagem é urgente envolver a sociedade e dialogar com toda a comunidade escolar: professores, diretores e pais de alunos.
O Estado ou o município poderia ainda estabelecer um calendário de avaliações, definindo a cada período, dentro do ano letivo, as competências a serem trabalhadas e as verificações que darão conta do aprendizado. Não menos importante seria criar planos de carreira capazes de reter profissionais qualificados e atrair talentos para a profissão de professor. Além disso, considerar concursos que identifiquem melhor as aptidões para o magistério e incluam a formação como segunda etapa no processo seletivo.
Mas, sobretudo, deve-se investir em educação infantil, uma das áreas de melhor relação custo-benefício em educação. São excelentes os resultados de uma educação de qualidade ministrada na primeira infância, seja pela família, com o eventual suporte de políticas públicas, seja por creches que ofereçam uma abordagem integrada do desenvolvimento infantil, com estimulação precoce do cérebro, imersão num ambiente letrado, atenção à saúde e segurança afetiva.
O único caminho seguro para melhorar a educação é avaliar tanto a aprendizagem dos alunos quanto o acesso de crianças às escolas, os índices de evasão escolar, a repetência e a defasagem idade-série. A política educacional é uma política pública e, como tal, deve ter metas claras, voltadas não entropicamente para si própria, mas para os cidadãos beneficiários da ação que se quer implantar.
A definição de metas claras ajuda não só o monitoramento da implantação de projetos que integram a política, mas também a comunicação com a sociedade e a possibilidade de controle social. Cada família pode saber quanto melhorou a escola dos seus filhos e cada cidadão pode acompanhar o resultado dos impostos aplicados em educação.
Em todas as situações, é fundamental uma boa coordenação da implantação dos projetos associados à melhoria da educação básica: desenhar boas estratégias que enfrentem os problemas identificados, saber modificá-las se necessário, monitorar sua implantação, combinando com sabedoria continuidade e ruptura. Mais ainda, comunicar com frequência e consistência os resultados obtidos em cada etapa e os esforços que será necessário empreender.
A educação é um investimento de longo prazo e os projetos geram impactos cumulativos, e não imediatos. Mas, se não se contar à população em que estágio se está no enfrentamento dos problemas, fica uma sensação de que nada está sendo feito. A transformação demanda persistência estratégica e a população é capaz de entender isso.
SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, FOI MINISTRA DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL E REFORMA DO ESTADO E SECRETÁRIA DE CULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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