quarta-feira, 24 de março de 2010

Por que tantos terroristas são engenheiros?

Durante o mestrado que fiz sobre Novas Ameaças e Crimes Transnacionais o que me chamou a atenção foi a prevalência e força do terrorismo no mundo.

Assiti palestras e workshops com especialistas do mundo inteiro, praticamente, bancados pelos EUA por motivos óbvios. Uma das palestras que assisti na National Defense University, foi com a Sra Jessica Stern que abaixo comenta o fenômeno. A partir do que ela colocou e de outros artigos que dela li passei a entender, ao menos um pouco.

Chamou-me a atenção, de imediato, o grau de intrução dos terroristas que explodiam lugares públicos: Todos com educação superior e os últimos até com doutorado.

As respostas à primeira pergunta eram feitas nos trabalhos em grupo por serem tentativas vãs de entendimento produzidas por nosso modelo mental ocidental.
Este artigo lança uma luz nas causas.

A propósito, os crimes transnacionais não pararão de crescer, mesmo com o Obama, prêmio Nobel da Paz no poder dos EUA.

Por que tantos terroristas são engenheiros?

 MOISÉS NAÍM - El País - publicado em A Tarde, 08/03/2010 

Qual é a principal causa do terrorismo islâmico?
 a) pobreza; b) injustiça; c) falta de democracia; d) desesperança; e) conflito palestino-israelense; f) religião; g) não se sabe.

A resposta correta a esta pergunta é tão importante como surpreendente. Enquanto não entendermos as causas do terrorismo islâmico será impossível buscar as soluções.

Na realidade, não é muito o que se sabe acerca das razões pelas quais uma pessoa decide suicidar-se massacrando inocentes. Assim, a resposta correta à pergunta é a g) não se sabe.
Se as causas do terrorismo fossem a pobreza e a desigualdade, o mundo estaria cheio de terroristas brasileiros.

E se a democracia fosse um antídoto eficaz, a Índia, que é a maior democracia do mundo, deveria sofrer menos atentados do que ditaduras, como a China ou a Líbia. Porém, não é assim. As democracias são mais vulneráveis aos ataques terroristas que os regimes autoritários.


Motivações
Jessica Stern, uma investigadora de Harvard, reporta que o governo da Arábia Saudita tem interrogado milhares de terroristas capturados acerca de suas motivações. A esmagadora maioria não teve uma educação religiosa extensa e sua compreensão do Islã era muito limitada. Cerca de 25% dos participantes de programas de reabilitação de terroristas na Arábia Saudita têem antecedentes criminais e só 5% levavam uma vida religiosa ativa.
Em geral, é pouco o que se sabe sobre as origens dos terroristas ou sobre seu perfil psicológico.


Exceto que muitos deles são engenheiros. Esta é a surpreendente conclusão de um artigo publicado recentemente no “European Journal of Sociology”, intitulado “Por que há tantos engenheiros entre os radicais islâmicos?”.

Diego Gambetta e Steffen Hertog destacam que “entre os radicais islâmicos violentos, os engenheiros estão representados entre três e quatro vezes mais que outros profissionais”.
Acima da média. Os autores estudaram mais de 400 membros de grupos radicais islâmicos em mais de 30 países. Não só confirmaram os resultados de investigações prévias, que haviam identificado que os terroristas costumam ter maiores rendimentos e mais educação que a média da população de seus países, como também descobriram que 44% dos violentos eram engenheiros ou estudantes de engenharia.


Nos países de procedência dos indivíduos letrados, os engenheiros são muito escassos: são apenas 3,5% da população.

Porém, nos grupos terroristas islâmicos constituem quase a metade do total.
A segunda área acadêmica mais frequente na amostra analisada é a de Estudos Islâmicos, seguida por Medicina, Ciências e Educação – cada uma das quais alcança taxas muito inferiores aos 44% dos engenheiros.


Mais ainda: entre os terroristas islâmicos nascidos e criados em países ocidentais, 60% têm estudos de engenharia.
Como se explica este fenômeno?


Gambetta e Hertog examinam e rechaçam várias hipóteses. Segundo eles, a engenharia atrai os que preferem respostas claras e modelos mentais que minimizam a ambiguidade. Gambetta e Hertog argumentam que há muita afinidade entre a estrutura mental dos engenheiros e as ideias dos terroristas islâmicos. Esta tendência interage e é potencializada pelo fato de que os engenheiros – inteligentes e ambiciosos – se chocam e se radicalizam ao confrontar-se com a estagnação econômica a falta de oportunidades para os jovens e a repressão política, comuns em países islâmicos.
Tradução: Augusto Queiroz
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