domingo, 7 de março de 2010

CRIATIVIDADE EMBOTADA

O texto abaixo nos convida a reflexão.
Os paradigmas de gestão que funcionavam bem sob o aspecto da cultura americana e européia aportam traços e características que nem sempre "calçam" nossa idiossincrasia.
a revisão crítica sobre trabalho em grupo para virar um bom trabalho de grupo, abaixo comentada nos induz a refletir sobre, como gestores, podemos influenciar para que o resultado final seja adequado às expectativas.


O importante é se perceber que nem sempre as soluções consensuadas pelo grupo podem ser aplicáveis ao problema e nem sempre, por decorrência, serão prevalentes no processo decisório. Cria-se muita frustração quando o gestor não adota as soluções acordadas pelo grupo, contudo, há que se considerar que o gestor tem acesso a outros fatores da equação do processo de decisão que o grupo não tem.


De toda sorte é sempre uma boa leitura. Tudo o que o Prof Wood Jr escreve vale a pena se ler e refletir.


CRIATIVIDADE EMBOTADA



Desde os anos 80, as empresas promovem o trabalho em grupo. Ao contrário do senso comum, uma pesquisa recente mostra que, quando se trata de criação, indivíduos são melhores que o coletivo.

Certas situações são muito comuns no mundo corporativo. Um problema ou uma oportunidade se apresenta. Começamos pelo problema: a concorrência avança, o consumidor desaparece e o caixa mergulha em tom púrpura. Agora a oportunidade: o mercado se abre, os clientes pedem bis e o cofre estufa.



Como afirmamos, são duas situações corriqueiras, e com algo em comum – entre o problema e o fim do túnel, ou entre a oportunidade e o céu azul, lá estará ela, indômita e majestosa – a decisão. Tomar decisões está na essência da vida empresarial. Dia após dia, com maior ou menor competência, situações são analisadas e caminhos são definidos.




Organizações eficientes são capazes de detectar problemas e oportunidades, levantar informações, avaliar alternativas e tomar decisões acertadas. Elas enfrentam o caos ambiental e unem rapidez, criatividade e consistência em seus processos decisórios. Portanto, organizações eficientes usam grupos para estimular visões criativas e garantir a agilidade na tomada de decisão, correto?




O senso comum e a história recente das boas práticas gerenciais afirmam que sim. Porém, para espanto dos mais crédulos, pesquisas científicas mostram que trabalho em grupo não se mistura tão bem com criatividade e agilidade como faziam crer populares curandeiros.

Depois de quase 20 anos de lavagem cerebral, são raras as grandes empresas que não utilizam processos colegiados de decisão, não empregam em larga escala o trabalho em times, ou não usam o conhecido brainstorming, as sessões livres de geração de idéias. Entretanto, uma pesquisa realizada na Kellogg School of Management contradiz o senso comum.




Leigh Thompson, responsável pelo trabalho, afirma que grupos não são tão criativos quanto indivíduos: grupos são eficientes em processos que envolvem pensamento convergente, mas, quando se trata de encontrar soluções inusitadas e inventivas, é melhor confiar a tarefa a indivíduos.




No popular brainstorming, por exemplo, estimulam-se associações livres e coíbe-se a censura. Mas será que essa técnica de tão amplo uso é capaz de gerar decisões criativas? Segundo Leigh, não. Quase todos os estudos listados pela pesquisadora mostram que sessões de brainstorming geram um número menor de idéias do que se a tarefa fosse dada a indivíduos.




Quatro fenômenos explicam a baixa criatividade e eficácia dos grupos. Primeiro, uma tendência para contentar-se com resultados mais modestos (uma certa preguiça coletiva). Em grupo, as pessoas tendem a se esforçar menos do que se trabalhassem sozinhas.



Segundo, indivíduos trabalhando em grupo tendem a exibir comportamentos de conformidade: mais importante que o resultado é garantir boa imagem entre os demais participantes. Com isso, eles se esforçam para ser aceitos, evitam lançar idéias “deslocadas” e buscam expressar opiniões socialmente aceitáveis.




Terceiro,  indivíduos trabalhando isoladamente tendem a controlar seu tempo de forma mais eficaz e evitam interromper seu raciocínio. Grupos, ao contrário, funcionam com regras que fragmentam as linhas individuais de pensamento. Quarto, existe uma tendência de o resultado do grupo ser mais influenciado pelo desempenho dos membros mais fracos, ou menos criativos.




Com isso, trabalhos em grupo são comumente pautados por baixa produtividade. Leigh também ressalta que membros de equipes experimentam sensações de inibição e ansiedade. Reuniões de grupos, em lugar de encontrar soluções para os problemas identificados, costumam degenerar em eventos sociais, cheios de histórias pessoais e rituais de autocongratulação. O resultado é pobre em criatividade e consistência, e pode ainda ser demorado. Mesmo assim, muitos grupos ainda acreditam que fazem um bom trabalho, confiam na própria produtividade e crêem que funcionam de forma “democrática”.




Leigh acredita que cada um dos quatro fenômenos citados pode ser apropriadamente tratado, mas talvez, para as empresas, seja mais fácil reverter a tendência de usar grupos em todas as situações e voltar a atribuir responsabilidades aos indivíduos. O trabalho em grupo pode parecer recompensador e divertido para os participantes, mas talvez não recompense o tempo e a energia investidos.

http://www.cartacapital.com.br/edicoes/2003/08/254/898/
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