domingo, 21 de março de 2010

O emprego e os gargalos

Saliento que o mesmo jornal que antes falava acerca da falta de profissionais qualificados para o preenchimento de vagas agora apresenta a matéria abaixo.

Há os pontos em comum em ambos artigos que sublinham a necessidade de se investir mais em infra-estrutura para geração de emprego e viabilizar o desenvolvimento econômico.

Não custa relembrar que os imbróglios junto ao TCU por questão de obras de infra-estrutura do PAC denotam que haverá um tempo muito grande, talvez maior até que cinco anos para que todas as obras necessárias, até então em andamento, prossigam e se finalize.

Da mesma forma as previsíveis faltas de energia elétrica regular e de qualidade  nas grandes cidades desnudam a falácia proliferante após o affair do primeiro apagão no Paraná, celeremente justificado por representantes ministeriais mas que, agora, comprovam serem apenas, conversa para enrolar trouxas. Faltará energia, quando vier não será sustentável e o investimento em produção atrasará significativamente.

Assim, mesmo jorrando petróleo no quintal de cada casa até 2016, não teremos condições, por infra-estrutura ou mão-de-obra qualificada, atingir  a quinta economia no ano citado.


O emprego e os gargalos


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100318/not_imp525795,0.php
A criação de empregos não deixa dúvida. A economia brasileira venceu a crise e volta a crescer vigorosamente. Falta saber se poderá continuar em expansão sem pressões inflacionárias importantes e sem problemas no balanço de pagamentos. Para começar, a boa notícia: em fevereiro foram contratados com carteira assinada, em termos líquidos, 209.425 trabalhadores. Esse número, diferença entre admissões e demissões, é um recorde para o mês. O saldo das contratações, no primeiro bimestre, chegou a 390.844, segundo as últimas informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mantido pelo Ministério do Trabalho. Nem todo emprego formal contabilizado pelo governo corresponde a um emprego novo. O trabalhador pode ter sido recrutado no mês anterior ou até há mais tempo. Mas o balanço do Caged é um indicador relevante da situação econômica, do estado de humor dos empresários e da evolução do mercado de trabalho.

Outras fontes, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), confirmam a expansão das contratações. Em fevereiro, a indústria paulista preencheu 23 mil postos. O aumento do emprego, descontado o efeito sazonal, foi de 0,8% em relação ao mês anterior. Dados como esse têm um significado especial neste momento. A criação de empregos é um dos últimos sinais da reativação econômica.
Em geral, a produção cresce durante vários meses com a mão de obra já disponível nas empresas. A produtividade aumenta, nesse período, e as companhias só voltam a procurar trabalhadores quando a recuperação parece consolidada. Esse comportamento, bem conhecido há muito tempo, foi amplamente verificado nas fases de recuperação do último meio século. Esse detalhe torna particularmente auspicioso o aumento das contratações no Brasil nesta fase.

Mais empregos significam mais salários e, num ambiente de maior segurança econômica, o aumento do consumo é uma tendência previsível. Já no ano passado os gastos dos consumidores foram o principal motor da economia. Esses gastos cresceram 4,1%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,2%, de acordo com a primeira estimativa divulgada pelo IBGE. Em janeiro, segundo a mesma fonte, o volume de vendas do comércio varejista foi 2,7% maior que o de dezembro e 10,4% maior que o de um ano antes, sem contar as vendas de veículos e peças e de material de construção.

Também esses dados são auspiciosos, porque indicam melhores condições de vida de milhões de famílias. Mas é indispensável perguntar se a economia brasileira suportará por muito mais tempo uma rápida expansão do consumo. A resposta será positiva se duas condições forem dadas. A primeira é a ampliação da capacidade produtiva. Se houver investimentos suficientes, a produção poderá acompanhar mais de perto a evolução do consumo e não haverá pressões inflacionárias importantes. A segunda condição é o aumento das exportações. Se as vendas crescerem de forma adequada, as importações poderão suprir parte relevante da demanda interna, por muito tempo, sem perigo de crise cambial. Hoje, nenhuma das duas condições é observada.

Em 2009, os investimentos em máquinas, equipamentos e construções foram 9,9% menores que os do ano anterior. O valor investido caiu de 18,7% para 16,7% do PIB. Em 2008 já era insuficiente para garantir um crescimento seguro por vários anos. O quadro piorou em 2009. Alguma reativação nessa área parece ter começado, mas não se pode menosprezar a perda de um ano. Será preciso investir com muito vigor para compensar a redução do ano passado e, além disso, levar a taxa de investimento a um nível mais adequado, certamente acima de 20% do PIB.

As contas externas também preocupam. As importações voltaram a crescer mais velozmente que as exportações, como no ano anterior à crise. Neste ano, até a segunda semana de março, a média diária de exportações foi 25,9% maior que a de um ano antes. Mas a média do valor importado ficou 31,4% acima do registrado no mesmo período de 2009. O governo deveria cuidar prioritariamente dos dois gargalos, o investimento e o comércio exterior, para garantir um crescimento seguro e duradouro.
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