terça-feira, 31 de maio de 2011

Cuidado ao encontrar um Velho amigo de Escola!!!

Sinais de uma sociedade imatura e confusa em seus conceitos fundamentais.

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Outro dia estava no mercado quando vi no final do corredor um amigo da época da escola, que não encontrava há séculos. Feliz com o reencontro me aproximei já falando alto:
 - Arruda, sua bichona! Quanto tempo!!!!

E fui com a mão estendida para cumprimentá-lo. Percebi que o Arruda me reconheceu, mas antes mesmo que pudesse chegar perto dele só vi o meu braço sendo algemado.
 - Você vai pra delegacia! – Disse o policial que costuma frequentar o mercado.

Eu sem entender nada perguntei:
- Mas o que que eu fiz?
- HOMOFOBIA! Bichona é pejorativo, o correto seria chamá-lo de grande homossexual.

Nessa hora antes mesmo de eu me defender o Arruda interferiu tentando argumentar:
- Que isso doutor, o quatro-olhos aí é meu amigo antigo de escola, a gente se chama assim na camaradagem mesmo!!

- Ah, então você estudou vários anos com ele e sempre se trataram assim?
- Isso doutor, é coisa de criança!

E nessa hora o policial já emendou a outra ponta da algema no Arruda:
- Então você tá detido também.

Aí foi minha vez de intervir:
- Mas meu Deus, o que foi que ele fez?
- BULLYING! Te chamando de quatro-olhos por vários anos durante a escola.

O Arruda então se desesperou:
- Que isso seu policial! A gente é amigo de infância! Tem amigo que eu não perdi o contato até hoje. Vim aqui comprar umas carnes prum churrasco com outro camarada que pode confirmar tudo!

E nessa hora eu vi o Ricardo Laranja chegando perto da gente com 2 quilos de alcatra na mão. Eu já vendo o circo armado nem mencionei o Laranja pra não piorar as coisas, mas ele sem entender nada ao ver o Arruda algemado já chegou falando:
- Que porra é essa negão, que que tu aprontou aí?

E aí não teve jeito, foram os três parar na delegacia e hoje estamos respondendo processo por HOMOFOBIA, BULLYING e RACISMO

*Moral da história: Nos dias de hoje é um perigo encontrar velhos amigos!*

Contrapartidas ao bom-mocismo

Adriano Pires e Abel Holtz
O Estado de S. Paulo


O governo reafirmou o desejo de ampliar a participação de algumas empresas estatais no cenário de ações internacionais, a exemplo da Petrobrás e de muitas outras empresas brasileiras privadas. O mérito da iniciativa é romper o imobilismo que essas empresas têm, dada a sua cultura de pouco risco, posto que o erário sempre as socorreria à custa do contribuinte. Se bem o entendemos, o repto do governo é correto, mas é necessário preparar os quadros dessas empresas para a percepção e a ação consequente dos riscos como aos que a Petrobrás e as empresas privadas têm sido expostas, pois, a despeito da vontade, não existe a cultura do risco nessas empresas. E a ausência dessa característica, aliada às indicações políticas de profissionais sem o devido preparo para o preenchimento dos cargos de direção, cria problemas e pode levar a enormes prejuízos.

Nesses dias tivemos a aprovação pelo governo, após chancela do Legislativo, do incremento dos valores a serem pagos pelo Brasil ao Paraguai a título de indenização pelo uso da parcela da energia produzida em Itaipu. O processo de aprovação foi lento e despertou reações em vários setores da sociedade, tendo em vista que o governo afirmou que quem pagará a conta será o contribuinte brasileiro, via Tesouro. A pauta de discussões com o Paraguai ainda incluiu o direito de vender a sua parcela de energia a qualquer consumidor, inclusive os brasileiros - os outros são argentinos e chilenos. Esse direito continuará sendo discutido nos próximos anos e, dada a abrangência de suas consequências, assumimos que o tema deveria ser tratado com maior seriedade e competência.

Para assegurar o pagamento da dívida da Eletrobrás com a Banca Internacional, foi elaborada uma lei que obrigou as distribuidoras brasileiras do mercado Sudeste a comprarem energia e potência de Itaipu. Pode haver questionamentos quanto ao valor, mas não a recusa do pagamento - valor que está atrelado ao montante necessário ao repagamento da dívida da Eletrobrás para com a Banca Internacional, independentemente de modicidade tarifária ou qualquer outra condicionante.

Se a energia de Itaipu viesse a ser comercializada diretamente para o mercado brasileiro, como seria feita a substituição da energia hoje suprida pela parcela do Paraguai? Considerando que essa energia é produzida em 50 ciclos /seg e tem de ser transformada para consumo no Brasil em 60 ciclos/seg, quem seria responsável por esses custos e como seria precificada a transmissão da energia da parcela paraguaia entre Itaipu e os pontos de consumo - ao mesmo preço de hoje? Seriam adicionados impostos de importação ao custo?

Passando o direito de venda da parcela da energia paraguaia para a Administración Nacional de Electricidad (Ande) comercializar, qual seria o valor da dívida remanescente a ser também passada para a Ande e não mais da Eletrobrás? Como mensurar a dívida assumida quando da construção da usina, que é contestada pelo governo paraguaio, para definir esse valor remanescente?

Por fim, a usina é hoje operada em consonância com os procedimentos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Como ficariam a operação de Itaipu a partir do exercício desse direito pelo Paraguai e os compromissos de entrega da energia que a Ande viesse a assumir com consumidores brasileiros, paraguaios, argentinos e/ou chilenos?

Assim, quando o governo lança a Eletrobrás como líder desse processo de integração com os vizinhos, complementando o suprimento de energia ao mercado brasileiro, tem de avaliar os aspectos desse imbróglio e a experiência já tida com a Bolívia - investimentos em refinarias e instalações de exploração de gás natural -, os contratos de compra e venda de gás natural com a Argentina para uma termoelétrica brasileira no Rio Grande do Sul e as interrupções de fornecimento de energia em Roraima pela Venezuela, para que nós, consumidores e contribuintes, tenhamos benefícios a custos aceitáveis.
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O ataque do ''vírus da irrelevância''


ARNALDO JABOR
O GLOBO

Um amigo meu, muito culto, tem um filho muito "conectado" na internet. E o menino disse a ele: "Pai, você sabe tudo que já aconteceu, mas não sabe nada do que está acontecendo". O pai, como todos nós, embatucou. A mutação cultural dos últimos anos foi tão forte, a turbulência no mundo pós-industrial dissolveu tantas certezas, que caímos num vácuo de rotas.

Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas e pensadores vivem perplexos - não sabem o que filmar, escrever, formular. Em geral, recorrem às atitudes mais comuns nas turbulências: desqualificar os fatos novos e reinventar um "absoluto" qualquer. Sinto em mim mesmo como é difícil criar sem esperança ou finalidade. Como era gostoso nosso modernismo, os cinemas novos, os movimentos literários, as cozinhas ideológicas. Os criadores se sentiam demiurgos falando para muitos. Agora, na falta das "grandes narrativas" do passado, estamos a idealizar irrelevâncias, como se ali estivessem pistas para novas "verdades" a desvelar - a aura deslizou da obra para o próprio autor.

Hoje, as palavras que eram nosso muro de arrimo foram esvaziadas de sentido e ficamos à deriva. Por exemplo, "futuro". Que quer dizer? Antes, era visto como um lugar a que chegaríamos, um lugar no espaço-tempo, solucionado, harmônico, que nos redimiria da angústia da falta de "Sentido". Agora, no lugar de "futuro", temos um presente incessante, sem ponto de chegada. Pela influência insopitável do avanço tecnológico da informação, turbinado pelo mercado global, foram se afastando do grande público as criações artísticas e literárias, as ideias filosóficas, os valores. Em suma, toda aquela dimensão espiritual chamada antigamente de cultura que, ainda que confinada nas elites, transbordava sobre o conjunto da sociedade e nela influía, dando um sentido à vida e uma razão de ser para a existência. Mais ou menos isso Vargas Llosa escreveu outro dia no El País, num ensaio chamado A Civilização do Espetáculo.
A verdade é que passamos da ilusão para o desencanto.
Temos hoje uma "horrenda liberdade" sem fins, porque (vamos combinar) os criadores querem mesmo é ser eternos, inesquecíveis, mesmo os mais radicais "instaladores" contemporâneos.

Nunca tivemos tantos criadores, tanta produção cultural enchendo nossos olhos e ouvidos com uma euforia medíocre, mas autêntica. Há uma grande vitalidade neste cafajestismo poético, enchendo a web de grafites delirantes. Não sei em que isso vai dar, mas o tal "futuro" chegou; grosso, mas chegou.
Talvez este excesso de "irrelevâncias" esteja produzindo um acervo de conceitos "relevantes", ainda despercebidos. Podemos nos dedicar ao micro, ao parcial, podemos nos arriscar ao erro com mais alegria; mas, isso não pode justificar um desprezo pela excelência. E o pior é que as tentativas de "grande arte" são vistas com desconfiança, como atitudes conservadoras, diante da cachoeira de produções que navegam no ar. Isso me lembra o tempo em que achávamos que o "fluxo da consciência", "the stream of consciousness" ou até o discurso psicótico encerravam uma sabedoria insuspeitada. Será que houve a morte da "importância"? Ou ela seria justamente esta explosão de conteúdos e autores? O "importante" seria agora o quantitativo? Não sei; mas, se tudo é "importante", nada o é. A importância de uma obra reside no grau de decifração da vida de seu tempo e para onde ela aponta, mesmo no túnel sem luz.

Se olharmos as obras-primas de, digamos, Jan Van Eyck, o gênio holandês, vemos ali todo o espírito da Idade Média, revelada nos detalhes mais banais, mesmo nas encomendas de príncipes ou cardeais.
Escrevo estas coisas porque meu artigo de hoje é a propósito de um "importante" ensaio de Alcyr Pécora de 23 de abril, no Prosa e Verso de O Globo, sobre a crise de nossa literatura. Alcyr acha que fomos atacados por "um vírus de irrelevância".

Ele escreveu:
"É como se o presente se absolutizasse e não mais admitisse um legado cultural como patamar exigente de rigor para sua produção(...) é como se alguma coisa se introduzisse na cultura e a tornasse inofensiva, doméstica. (...) A ação já se apresenta como narrativa, como ocorre nos reality shows, em que as pessoas, antes de agir, representam ou narram a ação que lhes cabe, como se todo mundo fosse interessante o bastante para ser visto/lido (...) Não basta haver conhecimento; tem de se produzir o que não é e o que não há (...) Na arte, não há nenhum valor simbólico que substitua o objeto (...) não há atitude ou opção ideológica que permita saltar sobre os mecanismos da composição (...) Perdida a noção de herança cultural, perde-se a de crítica, de autocrítica, e naturalmente a de criação (...) Escrever literatura é um gesto simbólico que traz uma exigência: a de ser de qualidade (...) A recusa de muitos escritores de sequer considerar o impasse atual tem qualquer coisa de cegueira deliberada (...) Atitude resolve problemas do roqueiro, mas não resolve a questão da literatura".

No entanto, as questões levantadas pelo professor não tiveram repercussão teórica maior, além de reclamações mal-humoradas de que ele seria um crítico "estraga-prazer, um intrometido".
Contudo, é preciso que esses tópicos sejam discutidos, com ou sem polêmicas, pois, na tal conversa do pai erudito com o filho conectado, a resposta do pai poderia ser: "Você acha que sabe tudo que está acontecendo e nada sabe sobre o que já aconteceu".

Por isso, dou uma pequena contribuição ao assunto: tenho um filho de 11 anos, João Pedro. Eu, zeloso pai, botei o Quarteto de Cordas op. 133 de Beethoven para que ele ouvisse um momento máximo da história da música. Ouviu tudo atentamente enquanto, no ritmo exato do quarteto, jogava um game, o Hell Kid no iPad.

Beethoven e o game se uniram em harmonia. Talvez haja futuro.
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O FMI do homem branco

Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de S. Paulo


Tudo leva a crer que o novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), que sucederá Dominique Strauss-Kahn, não será um europeu, será uma europeia. O indecente acordo entre EUA e Europa, que assegura o cargo aos países europeus e que havia sido objeto de críticas universais antes da desgraça de Strauss-Kahn, ressurgiu das cinzas com vigor. A lógica que explicaria a provável escolha de Christine Lagarde como diretora-gerente foi explicitada pela própria candidata: "Manda quem paga as contas".

A candidata teve bom desempenho como ministra do Comércio e da Economia e Finanças da França desde 2005. A experiência nos EUA, como advogada proeminente numa grande firma em Chicago, e sua proficiência em inglês melhoram o seu trânsito político nos EUA. Desde 2007, como ministra da Economia e Finanças, teria acumulado experiência que compensaria a ausência de intimidade prévia com os assuntos de sua pasta. A posição da França no equacionamento das dificuldades suscitadas pela crise mundial desde 2008, em especial na zona do euro, expôs a ministra a significativa educação "on the job".

Há dúvidas se o melhor candidato ao FMI deveria ser europeu, quando a principal fonte de desestabilização da economia mundial é a crise dos países do sul da Europa. Por outro lado, alguns alegam que Madame Lagarde não aportou contribuição substantiva no exercício da pasta da Economia. Em particular, teria sido tímida quanto à defesa de disciplinas fiscais. Seria simplesmente executora das instruções do medíocre Nicolas Sarkozy, e dificilmente o líder que o FMI requereria no momento. E certamente não da mesma estatura do seu antecessor. Além disso, há uma pendência judiciária envolvendo a ministra, que poderia ser acusada de abuso de autoridade ao submeter à arbitragem privada uma pendência, relacionada à venda da Adidas, que resultou no pagamento ao controvertido empresário Bernard Tapie de 385 milhões, dos quais 45 milhões por danos morais. A Corte de Justiça da República decidirá em 10 de junho se acolhe a denúncia.

A qualidade dos candidatos apresentados pelos europeus para chefiar o FMI tem deteriorado no passado recente. Os três últimos diretores-gerentes não cumpriram seus mandatos: Horst Köhler, Rodrigo de Rato e Dominique Strauss-Kahn. Horst Köhler (2000-2004) afastou-se para ser eleito presidente da República Federal da Alemanha. Rodrigo de Rato (2004-2007), escolhido na esteira da derrota do seu partido nas eleições espanholas de 2004, afastou-se em 2007 "por razões pessoais". Embora Strauss-Kahn (2007-2011) tenha renunciado por conta de acusações de crimes sexuais, caso isso não tivesse ocorrido havia alta probabilidade de que fosse escolhido como candidato socialista nas eleições presidenciais francesas de 2012 e teria de se afastar antes do fim do mandato.

Há quase unanimidade quanto ao excelente desempenho de Strauss-Kahn como diretor-gerente num período espinhoso. Já o mesmo não se pode dizer de seus dois predecessores. Em suma, a pergunta que se coloca é se os europeus tendem a levar o assunto suficientemente a sério ou apenas como mais um cargo importante a ser incluído na ciranda de distribuição de cargos entre diferentes nacionalidades europeias. O contraste com o século passado, quando os europeus indicavam técnicos, e não políticos, é nítido. O trio de diretores-gerentes franceses, em especial, era composto de grandes funcionários, e não de políticos, com desempenho excelente: Pierre-Paul Schweitzer (1963-1973), Jacques de la Rosière (1978-1987), Michel Camdessus (1987-2000).

A sucessão ocorre num quadro em que o desequilíbrio quanto à representatividade de diferentes países nas instituições econômico-financeiras multilaterais é acachapante. A distribuição de votos entre os membros do FMI antes das reformas de 2010 era grotesca. De acordo com a distribuição em vigor, os votos do Brasil somam 1,714% do total, comparados a 1,855% da Bélgica... Quando a reforma de 2010 estiver implementada, as deformações mais evidentes serão corrigidas, mas a participação brasileira de 2,218% ainda será semelhante à do Canadá. E a da China será de 6,071%, comparados aos 4,024% para França e Reino Unido (cada um).

Os países emergentes têm defendido o abandono do acordo informal EUA-Europa sobre a distribuição de cargos no FMI e no Banco Mundial. Há referências a garantias informais que teriam sido oferecidas, especialmente no G-20, quanto à adoção de critérios de escolha baseados estritamente na competência dos candidatos, e não na sua nacionalidade. Palavras que o vento leva. A reiteração da escolha de um europeu pode ser pedagógica, colocando em perspectiva ilusões que possam ter aflorado quanto à efetiva importância do G-20. Lula estava errado: o G-7 não está morto e o G-20 pode ser uma embromação.

Em tempo: não faltam bons candidatos não políticos ao cargo nos países emergentes. Apoiar o candidato mexicano seria difícil para o Brasil. Não por ser excessivamente ortodoxo, mas por ser mexicano e, portanto, percebido como na órbita dos EUA. O possível candidato indiano, Montek Singh Ahluwalia, é competente, tem credibilidade e o Brasil fará bem em apoiá-lo. A despeito dos chineses.

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Elio Gaspari

Apareceu a reserva de mercado eletrônica
ELIO GASPARI
O GLOBO 

A livraria da Amazon bloqueia a venda de e-books em inglês para títulos que foram editados em português

O MERCADO editorial brasileiro tropeçou numa lombada do atraso. Apareceu um misterioso bloqueio que impede a clientes da Amazon a compra de títulos em inglês de e-books que foram editados em português. É a reserva de mercado eletrônica.
Há mais de um século, os livros em português são mais caros que as edições estrangeiras. Jogo jogado, pois não se pode comparar a escala do mercado nacional com a do americano ou do francês. Com o surgimento de livrarias globais, e das tabuletas, a patuleia passou a dispor de fornecedores ágeis e pode comprar os livros (sempre em inglês) no dia do lançamento em Nova York, por metade do preço.
Um curioso achou três livros traduzidos para o português cujas edições eletrônicas estão bloqueadas na Amazon para clientes da América Latina e do Caribe. São os seguintes: "Fordlândia", "Caçadores de Obras-Primas - Salvando a Arte Ocidental da Pilhagem Nazista" (ambos da Rocco) e "Caçando Eichmann" (Objetiva).
Nenhuma das duas editoras lançou esses títulos em português no formato eletrônico. Só em papel. Disso resulta que o freguês brasileiro precisa pagar entre R$ 48 e R$ 57 por livros que na Amazon custam entre R$ 22 e R$ 24, no original, para a clientela livre do bloqueio.
Nem todos os títulos editados em português estão bloqueados nessas editoras. Podem ser baixados da Amazon, sempre em inglês, o monumental "Pós-Guerra", de Tony Judt, bem como "Conversas que tive comigo", de Nelson Mandela.
Quando os fabricantes de carroças viram a chegada do automóvel, disseram que aquelas máquinas provocariam surtos neurastênicos em mulheres. Depois, os fabricantes tentaram bloquear a produção de um sujeito chamado Henry Ford. Assim como os carros, os livros eletrônicos vieram para ficar. Eles já superaram a venda dos volumes em papel na Amazon.
A editora Objetiva assegura que não tem nada a ver com o bloqueio de "Caçando Eichmann". A Amazon quer se instalar no Brasil a partir de 2012. Tomara que não queira fazê-lo criando um mercado de segunda classe, formado por consumidores impedidos de comprar títulos na sua loja americana. Se o livro em inglês não pode ser vendido em Pindorama, basta que ela diga que isso acontece por determinação contratual do editor americano e de seu agente, com os nomes dos dois.

MESTRE TALLEYRAND
Uma lição do genial chanceler francês Talleyrand (1754-1838), para quem já ouviu falar em confidencialidade.
Diplomata, sedutor e amigo do alheio, recebeu uma oferta de propina de um empresário russo: "Darei 3.000 rublos a Vossa Excelência e ninguém saberá".
Talleyrand respondeu: "Dê-me 5.000 e conte a quem quiser".

OS TRÊS PS
O consultor Antonio Palocci sabia o risco que corria ao prestar serviços ao Banco Santander. As cláusulas de confidencialidade impedem que o banco conte quanto pagou e quem presenciou as palestras do doutor.
Em 2009, o Santander foi autuado pela Delegacia de Assuntos Internacionais da Delegacia da Receita Federal de São Paulo. Coisa de R$ 4 bilhões. À época, o banco recorreu e informou que tinha "plena confiança nas instituições brasileiras".
A então secretária da Receita Lina Vieira foi defenestrada meses depois. Com ela, saíram o superintendente de São Paulo e a delegada de instituições financeiras.
A banca brasileira gosta de transgredir uma regra das casas tradicionais inglesas e americanas, segundo a qual não se deve fazer negócios com os três Ps: Politicians, Press e Priests (Políticos, Imprensa e Padres).

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo está convencido de que toda a questão do patrimônio de Antonio Palocci resume-se a dois vazamentos, um para dentro da Projeto e outro para fora, coisa dos tucanos, segundo o doutor.
O idiota solidariza-se com o ministro e com o tucanato, à espera de que vazem alguma coisa em cima dele.

SIGA O DINHEIRO
De um escorpião:
"A consultoria Projeto, de Antonio Palocci, faturou R$ 20 milhões em 2010. Talvez se deva fazer uma nova pergunta: Para onde foi o dinheiro?"
Em 2005, viu-se que Delúbio Soares, ao contrário de Palocci, arrecadara "quantias não contabilizadas", mas boa parte dos maganos que estão denunciados no Supremo Tribunal Federal nada deram ao comissário. Apenas receberam.

13 ANOS
É dura a vida do cidadão. Em 1995, Jorge Nelson Ribeiro, analista de câmbio do Banco Central, foi responsabilizado por um vazamento de informações.
Retiraram-no do cargo, mandando-o para o serviço de atendimento de balcão.
Satanizado, ele foi à Justiça. Dois anos depois, ganhou direito a uma indenização de R$ 20 mil e à recondução ao posto que ocupava. No seu direito, o BC recorreu.
Passaram-se 13 anos, o caso já passou pela mesa de sete desembargadores federais e nada.
Enquanto isso, surgiram o Google, o iPod e o iPhone, Bin Laden detonou as torres gêmeas e foi passado nas armas, mas o processo do servidor continua à espera de quem faça o seu serviço.

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A real discriminação


Marcos Pereira
O Globo 

Nos últimos dias o tema "homofobia" tem sido bastante discutido nos meios de comunicação. No Rio, inclusive, ocorreram manifestações de autoridades concordando com a participação de policiais militares e bombeiros, fardados e com carros oficiais, nas chamadas "paradas gays". Além disso, há a proposta do MEC de distribuir cartilhas "educativas" com conteúdo de incentivo à homossexualidade e o desarquivamento do PLC 122 no Senado. 

Não sou contra os homossexuais enquanto seres humanos e sempre os trato com o devido respeito, mas sou contra a prática do homossexualismo. Minha igreja é, e sempre foi, frequentada por homossexuais, até mesmo travestidos. Já ajudei materialmente grupos de homossexuais que procuraram ajuda na igreja. Tenho em meu quadro de membros ex-homossexuais que deixaram essa prática, tanto homens quanto mulheres que hoje foram transformados pelo poder da Palavra de Deus. Encontro também, no trabalho que desenvolvo nas unidades penitenciárias do Brasil, homossexuais presos, aos quais dou o mesmo tratamento que aos outros detentos heterossexuais. 

Quero dizer que não há no Brasil uma discriminação em relação aos homossexuais que justifique uma proposta como o PLC122. Vale ressaltar que muitos homossexuais não são favoráveis a essa lei, que por si só é discriminatória e sensacionalista, já que não propõe a solução da discriminação no país de forma geral, como a social, religiosa e racial, mas sim a divisão da sociedade e a criação de uma "raça especial" que não pode ser criticada ou questionada em qualquer esfera. Isto sim é ser preconceituoso e ditador, ou não há liberdade de expressão em nosso país? 

Iniciativas como a "cartilha anti-homofóbica" só tendem a incentivar a prática sexual entre os jovens, trazendo um malefício espiritual para a sociedade. A Bíblia é respeitada nesta nação como regra de fé em um Deus supremo, e seja qual for o credo religioso todos a respeitam e veneram. Além disso, a Bíblia é a base da família como a conhecemos desde o princípio do mundo (leia Gênesis 2: 24): Deus fez homem e mulher, ela nos dá os padrões de moralidade e conduta para a vida prática. A Bíblia é contra o homossexualismo (leia Romanos 1: 26 e 27), e o que questionamos não é a opção daqueles que querem seguir essa prática, mas sim o incentivo sem medida ao homossexualismo e ao relacionamento sexual precoce. 

Partindo deste princípio, a dita "cartilha anti-homofóbica" deveria se chamar "cartilha de incentivo ao homossexualismo", tendo em vista o conteúdo apresentado. Vale uma pergunta: como fica a liberdade de expressão dos homossexuais que, por qualquer motivo, não gostariam que seus filhos seguissem a mesma prática? A escola não pode ser tendenciosa, seu dever é educar o futuro do país e não ensinar jovens e adolescentes a se relacionar sexualmente e a banalizar esse relacionamento. 

Meu papel como pastor evangélico é levar a palavra de Deus. Vejo, no aumento desta discussão, que a Bíblia está se cumprindo, que Jesus está voltando, e as manifestações dos demais amigos pastores e evangélicos de forma geral contra o PLC 122 e a "cartilha anti-homofobia" é legítima e baseada nos princípios bíblicos e da Constituição do nosso país. Estamos nos posicionando como povo de Deus e como cidadãos, e assim queremos alertar a sociedade. 
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Educação para o debate


SERGIO FAUSTO
O Estado de S.Paulo 

Disseram que o livro Por uma Vida Melhor estaria autorizando o desrespeito generalizado às regras da concordância e abolindo a diferença entre o certo e o errado no emprego da língua portuguesa. Tudo isso com o beneplácito do MEC.

A celeuma ganhou os jornais nas últimas semanas. Foi motivada por um trecho no qual se afirma que o aluno pode dizer "os livro". Parece a senha para um vale-tudo na utilização da língua. Não é, mas assim foi lido.

Não conheço a autora nem sou educador, embora vínculos de família me tenham feito conviver com educadoras desde sempre. Escolhi comentar o caso não apenas porque se refere a um tema importante, mas também porque exemplifica um fenômeno frequente no debate público. Tão frequente quanto perigoso.

O procedimento consiste na desqualificação de ideias sem o mínimo esforço prévio de compreendê-las. Funciona assim: diante de mero indício de convicções contrárias às minhas, detectados em leitura de viés ou simples ouvir dizer, passo ao ataque para desmoralizar o argumento em questão e os seus autores. É a técnica de atirar primeiro e perguntar depois. A vítima é a qualidade do debate público.

Existem expressões, e mesmo palavras, que têm o condão de desencadear essa reação de ataque reflexo. Há setores da opinião pública para os quais a simples menção à privatização é motivo para levar a mão ao coldre. No caso em pauta, o gatilho da celeuma foi a expressão "preconceito linguístico" para qualificar a atitude de quem estigmatiza o "falar errado" da linguagem popular. Houve quem aventasse a hipótese de que o livro visasse à justificação oficial dos erros gramaticais do ex-presidente Lula. Um despropósito.

Dei-me ao trabalho de ler o capítulo de onde foram extraídas as "provas" do suposto crime contra a língua portuguesa. Chama-se Escrever é diferente de falar, título que já antecipa uma preocupação com o bom emprego da língua no registro formal, típico da escrita. São algumas páginas. Nada que um leitor treinado não possa enfrentar em cerca de 10 ou 15 minutos de leitura atenta. Se a fizer sem prevenção, constatará que o livro não aceita a sobreposição da linguagem oral sobre a linguagem escrita em qualquer circunstância, como chegou a ser escrito.

Ao contrário, no capítulo em questão, a autora busca justamente marcar a diferença entre a norma culta, indispensável na escrita formal, e as variantes populares da língua, admissíveis na linguagem oral. Não se exime ela do ensino das regras. Mas, em vez de recitá-las, vale-se da técnica da reescrita. Há uma seção particularmente interessante sobre o uso da pontuação. Vale a pena citar uma passagem: "(...) uma cuidadosa divisão em períodos é decisiva para a clareza dos textos escritos. A língua oral conta com gestos, expressões, entonação de voz, enquanto a língua escrita precisa contar com outros elementos. A pontuação é um deles".

Noves fora um certo ranço ideológico, aqui e ali, o livro é de bom nível. Trabalho de gente séria, que merece crédito. E um pouco mais de respeito. Fica o testemunho: a ONG responsável pela obra tem entre seus dirigentes, se a memória não me trai, profissionais responsáveis, no passado, por um dos melhores cursos de Educação para Jovens e Adultos da cidade de São Paulo, o supletivo do Colégio Santa Cruz.

É justamente a esse público que o livro se dirige. Ele é formado por alunos que estão travando contato com a norma culta da língua mais tarde em sua vida. Nesse contato tardio, frequentemente se envergonham do seu falar. Emudecem. Reconhecer a legitimidade do repertório linguístico que carregam é condição para que possam aprender. Não se trata de proteger esse repertório das convenções da norma culta, para supostamente preservar a autenticidade da linguagem popular. Isso, sim, seria celebração da ignorância. E populismo. O livro não ingressa nesse terreno pantanoso.

O que está dito acima se aplica também às crianças quando iniciam o processo de alfabetização. Sabe-se que o primeiro contato com a norma culta da língua é crucial para o desempenho futuro do aluno como leitor e escritor. Sabe-se igualmente que a absorção da norma culta é um longo processo. O maior risco é o de bloqueá-lo logo ao início, marcando com o estigma do fracasso escolar os primeiros passos do aprendizado. No início dos anos 1980, mais de 60% dos alunos eram reprovados na primeira série do ensino fundamental, o que se refletia em altas taxas de evasão escolar. Embatucavam no contato com as primeiras letras (e as primeiras operações aritméticas). Melhoramos desde então? Sim, as taxas de repetência, defasagem idade/série e evasão escolar diminuíram. Parte da melhora se deve à adoção da progressão continuada, outra presa fácil da distorção deliberada, pois passível de ser confundida com a aprovação automática.

Não aprendemos, ainda, porém, como assegurar a qualidade desejada no aprendizado da língua. Mas há sinais de vida. O desempenho dos alunos em Português vem melhorando, em especial no primeiro ciclo do ensino fundamental, conforme indicam avaliações nacionais e internacionais, ainda que mais lentamente do que seria desejável e necessário. A verdade é que o desafio é enorme: não faz muitos anos que as portas da educação fundamental se abriram para todos e a escola passou a ter de ensinar ao "filho do pobre" - dezenas de milhões de crianças - a norma culta da língua, que seus pais não dominam.

Há muita discussão e aprendizado a serem feitos para vencer esse desafio. É ótimo que todos queiram participar. Mas é preciso educar-se para o debate. Isso implica desde logo dar-se ao trabalho de conhecer o tema em pauta e ter a disposição de entender o ponto de vista alheio antes de desqualificá-lo. Sem querer ser pedante, é o que dizia Voltaire, séculos atrás: "Aprendi a respeitar as ideias alheias, a compreender antes de discutir, a discutir antes de condenar". Todo mundo ganha com isso.
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Em defesa da gramática


Tenho a honra, por laços de parentesco (tio de minha esposa), de ter a oportunidade de,  eventualmente, conversar e absorver a sabedoria deste imortal.


É um patrimônio nacional reconhecido no mundo. 
Seu posicionamento traduz o que a sociedade normal e ordeira pensa acerca dessa estultice que é uma ferramenta poderosa de exclusão social.



Em defesa da gramática
Evanildo Bechara
Veja

Um dos mais respeitados especialistas da língua portuguesa condena os colegas que se insurgem contra a norma culta e diz que disseminá-la é crucial para o país avançar.

O pernambucano Evanildo Bechara é um dos mais respeitados gramáticos da língua portuguesa. Doutor em letras e autor de duas dezenas de livros, entre os quais a consagrada Moderna Gramática Portuguesa, Bechara, de 83 anos, passou décadas lecionando português, linguística e filologia românica em universidades do Rio de Janeiro, da Alemanha e de Portugal. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ele é, por profissão, um propagador do bom uso do português. A fala mansa de Bechara contrasta com o tom incisivo de suas críticas a certa corrente de professores entusiastas da tese de que é "preconceito linguístico" corrigir os alunos. Diz Bechara: "Alguns de meus colegas subvertem a lógica em nome de uma doutrina que só serve para tirar de crianças e jovens a chance de ascenderem socialmente".

A defesa que o livro Por uma Vida Melhor, distribuído a 500.000 estudantes ao custo de milhões de reais para o bolso dos brasileiros, faz do uso errado da língua deveria ter provocado uma revolta maior, não?

A defesa que foi feita desse livro decorre de um equívoco. Estão confundindo um problema de ordem pedagógica, que diz respeito às escolas, com uma velha discussão teórica da sociolinguística, que reconhece e valoriza o linguajar popular. Esse é um terreno pantanoso. Ninguém de bom-senso discorda de que a expressão popular tem validade como forma de comunicação. Só que é preciso que se reconheça que a língua culta reúne infinitamente mais qualidades e valores. Ela é a única que consegue produzir e traduzir os pensamentos que circulam no mundo da filosofia, da literatura, das artes e das ciências. A linguagem popular a que alguns colegas meus se referem, por sua vez, não apresenta vocabulário nem tampouco estatura gramatical que permitam desenvolver ideias de maior complexidade - tão caras a uma sociedade que almeja evoluir. Por isso, é óbvio que não cabe às escolas ensiná-la.

Alguns de seus colegas consideram a norma culta um instrumento de dominação das elites...

Isso não passa de ortodoxia política. Eles subvertem a lógica em nome de uma doutrina. É semelhante ao que uma corrente de comunistas russos apregoava quando Josef Stalin (1879-1953) chegou ao poder. Os comunistas queriam estabelecer algo como "a nova língua do partido", um absurdo que enterraria a norma culta. O próprio Stalin condenou essa aberração e manteve a norma erudita, o imenso manancial dos grandes escritores russos, como a língua oficial da União Soviética. Agora, um grupo de brasileiros tenta repetir essa mesma lógica equivocada, empenhando-se em desvalorizar o bom português.

Qual o papel da norma culta de uma língua?

Não resta dúvida de que ela é um componente determinante da ascensão social. Qualquer pessoa dotada de mínima inteligência sabe que precisa aprender a norma culta para almejar melhores oportunidades. Privar cidadãos disso é o mesmo que lhes negar a chance de progredir na vida. Para mim, o linguista italiano Raffaele Simone, ainda em atividade, foi quem situou esse debate de forma mais lúcida. Ele critica os populistas que, ao fazer apologia da expressão popular, contribuem para perpetuar a segregação de classes pela língua. Pois justamente é o ensino da norma culta, segundo Raffaele, que ajuda na libertação dos menos favorecidos. Suas palavras se encaixam perfeitamente no debate atual.

Quais as raízes do ranço ideológico brasileiro?

Vemos resquícios de um movimento que surgiu no meio acadêmico na década de 60, pregando a abolição da gramática nas escolas. Eram tempos de ditadura militar, período em que, por princípio, se contestava qualquer tipo de norma ou autoridade. Para se ter uma ideia, agitava-se nas universidades a bandeira "é proibido proibir". Isso ecoava nos colégios - um verdadeiro desastre. Foi nesse contexto que começaram a estudar no Brasil a sociolinguística. Em diferentes tempos e sociedades, os estudiosos sempre estiveram atentos aos diferentes usos da língua. A primeira gramática portuguesa, que data de 1536, já apontava tais variantes. Só que, repito, essas são teorias que nunca deveriam ter deixado as fronteiras da academia. O próprio Mattoso Câmara (1904-1970), a quem se atribui a introdução da linguística no país, já alertava para os perigos na confusão de papéis entre teóricos e professores.

Esse tipo de debate é levado à sério em algum outro país?

Nenhum país desenvolvido prega a desvalorização da norma culta na sala de aula ou inclui esse tipo de ideia nos livros didáticos. Esse desserviço aos alunos e à sociedade como um todo só encontra eco mesmo no Brasil.

Como o domínio disseminado da norma culta da língua pode contribuir para o avanço do país?

Antes de tudo, formando cidadãos mais capacitados para preencher vagas que demandem alta qualificação, algo crucial para a economia. Ao questionar a necessidade do estudo da gramática nas escolas do país, linguistas como Marcos Bagno e tantos outros estão nivelando por baixo o ensino do português. Acabam reduzindo com isso as chances de milhões de estudantes aprenderem a se expressar com correção e clareza, tanto na escrita quanto na fala. A história reforça a importância disso. Ela é farta em exemplos de como uma oratória eficaz, por exemplo, pode catapultar carreiras.

Essa capacidade tem atualmente mesmo valor que no passado?

O domínio da língua falada vem sendo um importante instrumento para protagonismo na vida pública desde Antiguidade. Os principais líderes políticos sempre dominaram a língua falada. No auge da democracia clássica grega, valorizava-se tanto a oralidade que as primeiras disciplinas que uma criança aprendia na escola eram lógica, gramática e retórica. Em Roma, os inimigos do estadista e filósofo Marco Túlio Cícero (106 a.C. A 43 a.C.) o mataram e sua língua teria sido cortada como vingança contra seu poder como orador. A norma culta bem falada persiste como um valor nas sociedades modernas. O excelente domínio do inglês revelado por Winston Churchíll (1874-1965) foi instrumental em sua brilhante carreira, lembrada por discursos que mesmerizavam as audiências.

Como se explica a eficácia do discurso cheio de erros de português do ex-presidente Lula?

Apesar das frequentes incorreções, Lula faz parte do grupo de políticos com grande ler de retórica. Os erros o aproximam do povo, uma vez que como ele, a maior parte dos brasileiros também passa ao largo da norma culta. Isso faz com que se identifiquem com seu discurso. Não significa que as pessoas devam ter Lula como um modelo. Para conquistar um bom lugar no mercado de trabalho, o pré-requisito principal é que elas não saiam por aí dizendo "Nós pega o peixe", versão ensinada no livro distribuído às escolas pelo Ministério da Educação. É preciso que se atente ainda para outro fato: além de divulgarem um discurso que funciona na prática como um obstáculo à evolução dos indivíduos, os teóricos brasileiros que pregam o que chamo de mesmice idiomática atrapalham o próprio progresso do idioma. O resultado é que o Brasil está ficando para trás nesse campo.

De que maneira?

Quanto mais a norma culta de uma língua é praticada, mais esse idioma e sua gramática evoluem. Para dar a dimensão de nosso atraso nessa área, a academia espanhola acaba de publicar uma gramática de 4.000 páginas. O volume mais extenso que temos no Brasil possui 1.000 páginas, um quarto do tamanho. Um país que se pretende globalizado não pode se dar o direito de empobrecer seu idioma. As línguas mais difundidas no mundo são justamente aquelas mais avançadas do ponto de vista gramatical. É o caso do francês e do inglês. As pessoas costumam dizer que a língua inglesa é simples demais, mas isso só vale para certos aspectos. Sua fonética e o emprego que exige das preposições são complicadíssimos. O vocabulário inglês é extremamente rico. Afinal de contas, estamos falando do produto de uma cultura humanística e científica notável.

Por que tantos brasileiros falam e escrevem tão mal?

O domínio do idioma é resultado da educação de qualidade. Isso nos falta de maneira clamorosa. O ensino do português nas escolas é deficiente. Uma das razões recai sobre o evidente despreparo dos professores. É espantoso, mas, muitas vezes, antes de lecionarem a língua, eles não aprenderam o suficiente sobre a gramática. Além disso, não detêm uma cultura geral muito ampla nem tampouco costumam ler os grandes atores, como faziam os antigos mestres. A verdade é que a maioria não tem vocação para o magistério. Só escolhe essa carreira porque, quando chega o momento de ingressar na universidade, ela é uma das menos concorridas no vestibular. A situação do mercado de trabalho também conspira contra a permanência dos melhores professores nas salas de aula. Por falta de incentivos, muitos abandonam o magistério para se empregar na iniciativa privada como revisores, tradutores e editores.

A adoção de palavras estrangeiras no Brasil é exagerada?

Sou a favor de combater os estrangeirismos que nada acrescentam à riqueza da nossa língua. Não faz sentido nenhum usarmos "delivery" no lugar de entrega ou "coffee-break" para nos referir a intervalo. Esse hábito é fruto de um esnobismo cultural. Mas também não endosso a tese de que, por definição, os vocábulos estrangeiros corrompam a pureza da nossa língua. Eles podem até enriquecê-la à medida que ajudam na expansão do vocabulário. O idioma que acolhe uma palavra de outra língua tende, inclusive, a lhe emprestar características próprias. Só para citar um caso, hoje não escrevemos mais "yacht", em inglês, mas, sim, iate.

Não há excesso de reformas ortográficas no Brasil?

É verdade que muitos países jamais passaram por reformas ortográficas. No Brasil, elas tiveram os mais diversos propósitos e, apesar de certa confusão que acarretaram no princípio, acho que acabaram trazendo benefícios para a língua. As primeiras mudanças ocorreram no início do século XX, impulsionadas por uma necessidade didática. O português era, então, erudito demais. Com as mudanças, a ideia era distanciá-lo do latim, tornando-o mais acessível ao homem comum. Já a última reforma, que passou a vigorar em 2009, envolve interesses políticos e comerciais. A língua portuguesa é a única que tem duas ortografias oficiais - a do Brasil e a de Portugal. Parece razoável unificá-las para simplificar a redação de documentos e contratos internacionais.

A internet está empobrecendo a língua culta?

Não vejo a coisa dessa maneira. Se uma criança for bem apresentada à norma culta na escola, vai saber utilizá-la quando necessário, fora do ambiente da rede. Na internet, de fato, pratica-se uma linguagem muito particular, repleta de abreviações e símbolos no lugar de palavras. Tal modo de expressão é só mais um dentre tantos outros que uma mesma pessoa é capaz de assimilar. O maior perigo da rede, a meu ver, é de natureza distinta. Preocupa-me que ela tome de crianças e jovens um tempo precioso em que eles poderiam estar debruçados sobre os livros - e aprimorando assim o bom português.
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segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Poder das Palavras


UBUNTU


A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.
Ela  contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando  terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito, com laço de fita e tudo, e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele  chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro. 

As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou por que elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. 

Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós  poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"
  
Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda  não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!" 
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Internet deixa as pessoas burras - Der Spiegel

Diretor do "New York Times" diz que internet deixa as pessoas burras; você concorda?

Derspiegel


A internet nos torna burros. Ela nos rouba a alma, esvazia nossas personalidades e reduz nosso tempo de atenção. Essa ideia nonsense agora está sendo expressa por uma fonte inesperada: Bill Keller, diretor executivo do New York Times, jornal que sabe bem como usar a rede.

A demonização das ferramentas, não apesar de sua utilidade, mas por causa dela, é um dos argumentos falsos mais ridículos no debate recente sobre a internet e a digitalização. Calculadoras de bolso diminuíram nossas habilidades matemáticas, dizem alguns, tornando-nos menos capazes de fazer cálculos de cabeça do que, digamos, eram as pessoas nos anos 50.

Os discos rígidos dos computadores e cartões SD dos telefones celulares estão roubando o resto da capacidade de memorização que a maldita mídia impressa já nos havia tirado. No momento, os sistemas de GPS estão destruindo nosso senso de direção. Ah, as muitas formas como as máquinas estão nos privando de pensar e fazendo com que nossos cérebros murchem. “Estamos terceirizando nossos cérebros”, escreveu o editor executivo do New York Times Bill Keller na última quarta-feira. De acordo com sua lógica, resolver problemas do mundo real – fazer contas, armazenar informação e encontrar o caminho nas ruas – é um passo na direção errada, porque isso nos deixa cada vez mais com os cérebros flácidos.

O lamento de Keller sobre nossas capacidades cognitivas e habilidades mostra o absurdo que é quando alguém estende seus argumentos um pouco mais para o passado. Hoje, muito poucas pessoas sabem fazer cestas, assar pão ou arar a terra com um boi, um rastelo ou um arado. Na verdade, só o esforço físico de arar um campo seria demais para nós. Todos na Alemanha leram críticas suficientes nos últimos anos sobre os beneficiários de seguro social que simplesmente não estavam à altura da difícil tarefa de colher aspargos ou pepinos.

Mas o fato é que a maior parte da população economicamente ativa dificilmente seria capaz de fazer essas tarefas ou outras similares. Não há dúvidas de que um fazendeiro do século 18 era mais forte do que nós somos hoje, e que ele provavelmente era capaz de suportar a dor sem reclamar tanto (e, por isso, também tinha uma vida bem mais curta). Isso sugere que o declínio da humanidade deve ter começado com a invenção do maquinário agrícola movido a vapor, ou com o uso dos cavalos de carga.

Criticar o progresso tecnológico levando em conta as maneiras pelas quais ele facilita nossas vidas é tanto absurdo quanto reacionário. E, no entanto, esta atitude expressa de forma aberta e clandestina, está ganhando força mais uma vez. Isso acontece por causa da velocidade com a qual a tecnologia digital está mudando o mundo atualmente, o que alguns veem como uma experiência dolorosa.

A digitalização parece ser percebida como algo mais tortuoso quanto mais tarde ela entra na vida de uma pessoa. Apenas como um parêntese: está cientificamente provado que a capacidade do ser humano se ajustar às mudanças começa a declinar rapidamente por volta dos 35 anos.

O experimento masoquista de Keller
Bill Keller nasceu em 1949. À primeira vista, sua revolta contra o mundo digitalizado parece tão surpreendente porque, como ele mesmo escreve, seu próprio jornal, o New York Times, “abraçou as novas mídias com um estilo criativo e vencedor de prêmios”. O jornal foi um dos primeiros a criar o cargo de “editor de mídias sociais” para profissionalizar a interação entre o site do New York Times e as redes sociais como o Facebook e Twitter. Na verdade, o Times é visto como um modelo de jornalismo online.

O próprio Keller usa o Twitter. Para escrever o artigo, ele fez o que chamou de “uma espécie de experimento masoquista”, no qual tuitou “#OTwitterDeixaVocêBurro. Discuta”, e esperou para ver o que acontecia. Como era de se esperar, a maioria dos twiteiros discordaram de Keller. Essa, a propósito, é a mesma maneira como as pessoas no mundo offline na Alemanha reagiriam se dissessem a elas que são ou estão se tornando burras: elas ficariam irritadas. É um experimento fácil. Qualquer um pode tentar: basta entrar num bar esportivo, numa biblioteca, ou numa aula de samba e gritar em alto e bom som: “o futebol, a leitura ou o samba deixam as pessoas burras! Discutam!”

Em contraste com o resultado presumível desses experimentos do mundo real, o tweet de Keller, surpreendentemente, não desencadeou apenas rejeição. Na verdade, como ele escreveu, também “produziu alguns poucos momentos de ironia” e “alguns pontos honestamente óbvios”, incluindo a observação: “depende de quem você segue”. O professor de jornalismo Jeff Jarvis, a quem Keller não citou em seu artigo, respondeu a ele pelo Twitter: “Bill. O NYT não nos diz mais o que discutir. O Twitter sim. ;-)”

Entretanto, Keller concluiu, baseado em sua avaliação pessoal das reações ao seu tweet: “quer o Twitter deixe ou não as pessoas burras, ele certamente faz com que algumas pessoas inteligentes pareçam burras.”

O preço da inovação
Keller diz temer que desta vez o preço da inovação possa significar perder “uma parte de nós mesmos”, uma preocupação que ele descreve com as objeções usuais e costumeiras à comunicação digital: ela não é nada “social”, ela apenas nos distrai, promove formas de comunicação rasas e triviais e, pior que isso, ameaça “nossa capacidade de refletir, nossa busca por significado, a empatia genuína, um senso de comunidade conectado por algo mais profundo do que comentários sarcásticos ou afinidade política”.

O motivo real para essa posição surpreendente do jornalista em relação às redes sociais atuais foi aparentemente uma experiência com sua filha de 13 anos. Ele conta que ele e sua mulher recentemente permitiram que a garota abrisse uma conta no Facebook. “Dentro de poucas horas ela já tinha 171 amigos, e eu me senti um pouco como se tivesse dado à minha filha um cachimbo de crack.”

É possível imaginar como Keller pode ter recontado essa experiência para um grupo de editores sêniores do New York Times, que também devem ter tido experiências similares com seus filhos, e como o debate subsequente, permeado de piadas e interjeições, eventualmente levou alguém a sugerir que ele escrevesse algo sobre o assunto, porque isso simplesmente precisava ser dito.

É quase um fato reconhecido que os pais cujas filhas de 13 anos descobriram uma nova paixão, seja ela o hipismo ou Justin Bieber, geralmente observam algo semelhante ao que Keller, de 62 anos, experienciou com sua filha: um fascínio incompreensível e excessivo por um objeto aparentemente trivial. O fato de o editor executivo do New York Times ter usado isso como uma oportunidade para diagnosticar um efeito possivelmente destruidor da alma provocado pela mídia social sugere muita angústia guardada em relação ao presente (e relativamente pouca confiança em sua própria filha).

Geração internet
O jornalista não fornece provas para seus vastos temores, a não ser seu desconforto pessoal. A filha de 13 anos de Keller provavelmente conhece a maior parte de seus 171 amigos do Facebook pessoalmente. Muitos estudos nos Estados Unidos e Alemanha mostraram que, na maior parte dos casos, as redes sociais na verdade refletem os ambientes sociais reais dos usuários jovens. Isso não se aplica da mesma forma aos editores executivos de jornais de 62 anos de idade.

As pessoas acima de 50 anos têm uma desvantagem crítica em comparação com aquelas abaixo dos 40 (a grosso modo) no que diz respeito à internet comunicativa: a maioria delas as conheceu como uma ferramenta de trabalho sem alegria, escrevendo seus primeiros e-mails para colegas de trabalho ou para o chefe, e não para uma garota por quem estão secretamente apaixonados. Eles tiveram contas no Facebook antes de sentir que deveriam, não porque é ele um canal para seus amigos se comunicarem uns com os outros. E eles se comunicam, pelo Twitter, por exemplo, com completos estranhos. Não é terrivelmente surpreendente que esse tipo de comunicação produza conversas que alguns caracterizam como “vazias”, “não sociais” ou “triviais”.

O fato de que essas pessoas sintam que falta qualidade nas conversas provavelmente tem mais a ver com seu trabalho do que com a internet. É tão impossível tirar conclusões gerais sobre os efeitos da mídia social na vida espiritual da humanidade a partir dessa noção como é impossível tirar conclusões gerais sobre a utilidade das polias para o diâmetro médio do bíceps do homem moderno.
Tradução: Eloise De Vylder
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Furando as teias mafiosas


GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo


O chiste tem algum fundamento. Cabral inaugurou por estas bandas o toma lá dá cá. Vejam. Dois dias depois do Descobrimento do Brasil, em 24 de abril de 1500, o capitão-mor recebeu os tupinambás em sua caravela. Para causar forte impressão, pôs a vestimenta mais exuberante. Desconfiados, os índios provaram a água e o vinho que lhes foram oferecidos e cuspiram. Não aprovaram o velho líquido barrento, tirado do alforje, nem a bebida com gosto de vinagre. Só tinham olhos para o brilho das roupas e o imenso chapéu de abas para o céu, que dava ao descobridor a feição de deus das matas e das águas. O cacique e seus índios desceram da nau, sem arcos e flechas, mansos e felizes por ganharem os primeiros mimos na simbólica troca que plantou a árvore do fisiologismo em terras tupiniquins. Foi assim que os indígenas, cheios de bugigangas, e o cacique, com um pitoresco chapéu, abriram as páginas de nossa História de cinco séculos, em que tramoias mesclam coisas do Estado com negócios privados. Há poucas dúvidas de que a herança ibérica, carregando a tiracolo o patrimonialismo, tenha salpicado os ciclos históricos com as sementes da corrupção, particularmente na seara das teias criminosas que encobrem maquinações de servidores públicos, mandatários, grupos e indivíduos, todos girando na órbita do Estado.

Dito isto, vamos à assertiva que ganha força neste momento em que mais um episódio assoma no painel da perplexidade nacional: não há governo que não abrigue seu escândalo particular. Nos episódios mais recentes - consultoria do ministro Antônio Palocci com suspeita de favorecimento a terceiros e denúncias de peculato envolvendo servidores da empresa de saneamento de Campinas - o imbróglio gira em torno da linha que estabelece os limites entre legalidade e ilegalidade, a começar pela possibilidade de um detentor de mandato popular realizar serviços de consultoria. Pois bem, legalmente isso é possível. Na atual legislatura, alguns deputados se apresentam como consultores. Mas o servidor público, vale frisar, incluindo o mandatário, deve regrar-se por princípios de probidade e moralidade. É proibido usar o cargo ou a posição para obter vantagens indevidas (sejam econômicas ou até de natureza valorativa/sentimental). O detentor de mandato agrega, na escala do poder, condição mais elevada que a média dos cidadãos, ou seja, tem mais influência nas frentes onde presta, eventualmente, seus serviços. Donde se aduz que a consultoria desenvolvida por um parlamentar obtém, ao menos teoricamente, maior eficácia que a de outras pessoas sem poder de representação.

Agora, não há impedimento a que o mandatário se dedique às demandas de suas bases eleitorais e atenda aos pedidos de grupos que representa. A proibição é de que esse apoio redunde em tráfico de influência, significando o uso do poder para favorecer junto ao Estado os negócios de patrocinadores. Neste ponto, emerge a questão do lobby. Apreciável parcela da representação exerce o lobby, seja pela defesa de interesses de grupos, seja no apoio à causas coletivas patrocinadas por setores da sociedade. Veja-se o Código Florestal, cuja aprovação só foi possível pela força da bancada ruralista. Da mesma forma, a legalização da relação estável de pessoas do mesmo sexo passou pelo corredor de grupos organizados, que acabaram fazendo pressão sobre a Suprema Corte. Há algo de errado nisso? Não. Para deixar as coisas mais transparentes, o sistema de pressão e contrapressão deveria ser escudado por uma norma. A inexistência de legislação sobre lobby abre cortinas de fumaça. Sua prática condiz com o modelo contemporâneo de democracia, cuja configuração contempla núcleos e facções da sociedade.

Trata-se de uma cultura consolidada nos EUA, país cuja fundação se inspirou nos princípios pluralistas dos pais fundadores James Madison, John Jay e Alexander Hamilton. A tradição liberal e de organicidade - bem captada por Alexis de Tocqueville - sublinha a conquista permanente de reivindicações pela sociedade civil. A imbricação entre política e interesses grupais e coletivos tem-se acentuado na moldura das nações. Nos EUA, metade dos deputados e senadores que deixam as Casas parlamentares se torna lobista. De crachá no peito, eles agem dentro da lei, representando tanto os mais claros quanto os mais difusos interesses da sociedade. Os gastos por empresas e grupos de pressão para defender suas causas atingem, hoje, cerca de US$ 3 bilhões por ano. E as agências de lobby em Washington chegam a 35 mil. Já nos países europeus há distinção entre lobbies profissionais - e interesses financeiros - e lobbies da cidadania, sob patrocínio de ONGs e associações. Os avanços nessa área ocorrem ainda na esteira de conceitos como "relações institucionais" e "negócios públicos". A exigência é de que trabalhem com transparência e ética.

Por aqui, como se sabe, o lobby é mascarado. Existe na prática, mas dorme nas gavetas do Congresso, sob o desprezo de alguns que o consideram incompatível com nossa realidade. Visão capenga. Basta contemplar a proliferação de entidades que fazem intermediação social. Portanto, já temos uma base formada. E, por falta da lei, vive-se o paradoxo, caracterizado pela ausência de contrapesos no sistema de pressão. Alguns setores contam com lobbies poderosos em detrimento de outros que ficam à margem do processo. Como pano de fundo, temos uma democracia representativa vivendo uma crise crônica. Partidos mais parecem massas amorfas. As bancadas corporativas, essas, sim, ganham projeção. As doutrinas são nuvens difusas dentro de discursos homogêneos. As bases cedem lugar aos setores organizados. O palco institucional, nessa configuração, sugere o ingresso de novos atores. Sob um lobby legalizado, transparente, ético, imbróglios como o do ministro Palocci deixariam de causar tanto estardalhaço. E a planilha de episódios farsescos não seria tão densa.
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Gestão X Administração

Gestão vem de Gesto, Gesticulação.


Gestores eram aqueles que gesticulavam, que apontavam com o dedo indicador onde o carregamento de alimentos deveria ser deixado ou estocado.

"Coloque este fardo aqui." "Coloque este outro ali."

Muitos acreditam que qualquer um pode ser um bom gestor. Basta dar as ordens certas.

'É simplesmente uma questão de bom senso". 

Toda pessoa inteligente acha que pode Gerir um Ministério.

Eles se vêem na cadeira principal, ouvindo seus assesores que apresentam várias alternativas, e decidem qual é a melhor "para o país", "para o social", "para o trabalhador".

É muito fácil ouvir duas alternativas de solução, e perceber que em uma os Bancos irão levar 2% de comissão, e na outra não levam nada. "A segunda é a melhor".

Só que na primeira o dinheiro irá render 12%, na outra o dinheiro será gasto imediatamente.

Administração não é isso. Não tem nada a ver com decidir. Administrar é criar empresas que andem sozinhas, que se adaptem aos novos desafios que surgem, "sem supervisão".



Tanto, que o nosso sonho é colocar os pés na mesa e fazer nada.
Talvez sejamos a única profissão que tem este sonho. Fazer nada, ao contrário do Economista cujo sonho é intervir em tudo, vide Serra. Ou do Empresário que bota o bedelho em tudo.

Pé na mesa, significa que os sistemas que implantamos estão funcionando a mil maravilhas.

O que obviamente nem sempre acontece, e alguém nos chama para colocar os pés no chão novamente. 

É o que chamamos de "administração por exceção". Somos chamados não para dar as ordens do dia a dia, mas para resolver uma crise. 

E ao resolver esta crise, estamos pensando que medidas adotar para que crises como esta nunca mais ocorram no futuro. Para que ninguém precise nos chamar de novo, tirando-nos da nossa confortável posição. 

Portanto, existe uma enorme diferença entre Gestores e Administradores.

Não acreditamos em dar ordens e tomar decisões pelos outros. Um sistema que funciona é quando a nossa equipe tem as condições de tomar as decisões sozinha, com segurança, com autonomia, o que aumenta a autoestima.

Não temos empregados nem trabalhadores que nos obedecem e nos puxam o saco.

Temos membros de uma equipe que nos respeitam porque estamos lá prontos para socorrê-los quando a situação ficar complicada. Não temos subordinados que nos obedecem.

Gestores não são formados em administração, nem acham isto necessário.

Nem sabem o que significa criar Complex Adaptive Systems ou Self Learning Systems. Não são do ramo.

Pelo contrário, berram quando o serviço não foi feito, cobram resultados sem saber das dificuldades. Vide Dilma. 

Administrar vem de servir, como em ministério religioso.

Administrador é aquele que serve, gestor é aquele que é servido com obediência, uma bela diferença!
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