quarta-feira, 25 de maio de 2011

Anestesia geral

Caros amigos, há tanta coisa de fundamental importância acontecendo em nossa sociedade nos últimos dias e constato que nem aqui nem em nenhum outro grupo que participo, que não são poucos, há algum tipo de conversa, inquietação, mobilização que se sustente, que denote, ao menos, uma direção a ser tomada.

Temas fundamentais para nosso futuro e desenvolvimento estão cedendo lugar para platitudes, para eventos fátuos e risíveis tais como perspectivas de direitos não reconhecidos, assédios, percepção de discriminação, enquanto saúde, saneamento, reincidência de surtos e epidemias, carestia nos sistemas de telefonia, volta da inflação, violência urbana e o que se vê são gritos e escândalos acerca de supressão de direitos sendo discutidos amplamente, ao invés de uma forte mobilização social entorno do Código Florestal, da Lei de Engenharia Reversa que auxilia o dano ao meio-ambiente, etc etc etc etc


Vejam vcs, a crítica abaixo foi publicada na Folha, logo na Folha, fiel escudeiro do PT de primeira hora...

O que está havendo com nossa sociedade, logo agora que temos um invejável acesso à informação e à interação.  O nível de apatia e aparvalhamento está enorme, assustador.
O que está havendo???



Anestesia geral
FERNANDO CANZIAN
FOLHA DE SÃO PAULO 




O projeto de poder do PT foi sistemático e abrangente na cooptação de vozes e partidos que poderiam vir a ser obstáculos para o seu estilo de governo e ambições.

Ele também blindou seus integrantes contra os escândalos da era Lula. O governo Dilma começa beneficiado por essa configuração.
Com impostos recolhidos pelo Estado, o PT reforçou o caixa das poucas estruturas minimamente organizadas, populares e midiáticas que já fizeram uma real e barulhenta oposição no Brasil.
De resto, CUT, MST, Força Sindical e demais sindicatos já eram ramificações do partido ou simpáticos a ele. O trabalho aqui foi fácil.
O "abril vermelho", temporada de invasões de sem-terra, tornou-se apenas um bom slogan. Já as centrais e sindicatos hoje se refastelam com recursos públicos para programas suspeitos; ou com o dinheiro das estatais que patrocinam as festas do 1º de Maio.
A "paz dos cemitérios" reinante, mesmo diante de escândalos de simples compreensão como o atual (o repentino enriquecimento de Antonio Palocci), foi reforçada pela apropriação de uma carga tributária crescente.
As classes médias e mais abastadas foram obrigadas a transferir, com a intermediação do Estado, parte da sua riqueza para os mais pobres. A expansão do Bolsa Família, a disseminação de aposentadorias rurais e demais benefícios da Previdência, assim como o financiamento de programas como ProUni e Pronaf (para universitários de baixa renda e agricultura familiar), são o resultado dessa troca.
Essa transferência de renda de poucos para muitos explica bastante a queda na desigualdade e o atual dinamismo da economia. O país pegou no tranco, e todos ganharam.
Por último, há o paradoxo de o Brasil ter sido beneficiado por uma crise de enormes proporções nas economias ricas.
E pela subsequente inundação de dinheiro barato e público no hemisfério Norte para tentar resgatar seus mercados.
Parte desse capital veio parar aqui e justifica a abundância e a facilidade atuais para tomar crédito; e a coragem renovada da conservadora banca nacional em assumir um pouco mais de risco.
É plausível que a apatia nacional diante dos pequenos e grandes escândalos envolvendo políticos e dinheiro suado de impostos venha da combinação de tudo isso.
As atuais manifestações na Espanha, com praças tomadas contra a corrupção política, são a outra face dessa mesma moeda. Com o desemprego acima de 20% e sem nenhuma perspectiva no horizonte, não custa muito ir reclamar na rua.
No Brasil, ao contrário, a proliferação de bolsas, empregos, bens importados e crédito faz parecer quase natural o clima de abobalhação e deslumbre novo-rico entre nós, financiadores disso tudo.
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