sexta-feira, 27 de maio de 2011

UM PAÍS DE DOENTES


JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Os brasileiros estão cansados de saber que a saúde pública é um dos maiores problemas nacionais. Um problema que atravessa os governos há séculos, enquanto o atendimento nos postos e hospitais continua precário, os medicamentos não chegam a quem precisa e o percurso do diagnóstico até a cura se transforma num calvário que resulta, em muitos casos, na perda de vidas que poderia ter sido evitada se o paciente fosse tratado com dignidade e a tempo.
Pesquisa divulgada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) veio acrescentar mais alguns dados a esta realidade. A pesquisa da OMS é contundente ao reforçar coisas simples. O que se investe em saúde pública aqui é menos do que a média nos países africanos. O custo com saúde arcado pelas famílias brasileiras é maior do que a média no planeta – e pior, maior até do que os gastos do governo no País. Mesmo se considerando o passivo de maus serviços e falta de investimentos, fica claro que a sociedade está pagando duas vezes em vão, já que os impostos não são suficientes e os planos privados são a cada ano mais restritivos. A propósito, foi identificado que, entre 2000 e 2008, ano-base do trabalho, a participação dos planos saltou de 34% para 41%, no vácuo do sistema oficial.
O aperto é generalizado, mas atinge dramaticamente as pessoas com menos renda. Com o setor público investindo um décimo do que na Europa, as famílias gastam mais com saúde do que africanos, asiáticos e latino-americanos. Com serviços de pior qualidade, o cidadão tira do próprio bolso o dobro do que tira um europeu para despesas com saúde. Dos 192 países pesquisados, apenas 41 apresentam situações piores do que a nossa – um vexame para uma Nação que se orgulha de estar entre as dez maiores economias do mundo. Entre a riqueza estatística do PIB e a qualidade de vida associada ao bem-estar dos indivíduos, a distância é enorme.
Enquanto quase 14% do orçamento de cada país foi destinado a gastos com o setor, no Brasil o número foi de 6% em 2008. Nos países desenvolvidos, a taxa verificada beirou os 17%. De acordo com a OMS, o percentual orçamentário é um indicativo do real comprometimento das políticas de saúde dos governos. O baixo índice brasileiro é um desastre em todos os sentidos, porque aponta o descompromisso numa área crucial que se encontra, há anos, virtualmente falido, quando se leva em conta a aplicação pífia em medicina preventiva e o quadro de descalabro do saneamento básico.
Ao participar da Assembleia Mundial da Saúde, no último dia 17, o Brasil referendou a posição do bloco dos BRICs (que inclui a Rússia, a Índia e a China) em defesa de políticas sociais coordenadas para o combate às doenças crônicas. Em 11 de julho, os ministros da saúde desses países têm encontro marcado em Pequim, na China. Seria bom se, até lá, o governo brasileiro levasse metas convincentes de elevação dos recursos destinados para a saúde pública, sem o que o discurso dos representantes de um País de doentes prosseguirá parecendo o placebo da retórica vazia. 
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