quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cidadão quem

Tive a sorte de estudar OSPB, depois filosofia, sociologia e um pouco de teologia, isso em uma Academia Militar, a AFA. Lamento que hj tais matérias estejam perdendo espaço para as que se preocupam com diversidade, cidadania e responsabilidade social, pois elas nada mais são, em meu entender, do que variantes "corta cola" das matérias humanísticas clássicas que, por exigirem raciocínio mais denso e profundo, perderam espaço nos currículos por serem capazes de reprovar os menos aplicados. 


Quanto ao autor apesar de entender o que ele quer dizer, pareceu-me uma salada de fatos (i.e. Maluf e Roger Abdelmassih) em contextos diferentes, o que não facilitará o entendimento dos leitores mais novos, tampouco quem não mora na capital paulista. 


Também não concordo com o paradigma de que a formação se adstringe  à escola. Ela se completa em casa, na vizinhança, na interação parental, televisão, internet etc e esses atores "desensinam" em maior grau, intensidade e dano e, contra eles, nada pode ser feito. 


Cidadão quem

Falta aula de sabedoria. Onde, na escola, discute-se filosofia, amor, ética ou costumes a fundo?

DEVE ter passado pela cabeça estatística de Dominique Strauss-Kahn, durante o suposto ataque sexual, a chance de ele ser preso. Fez uma conta, mesmo que psicologicamente perturbada, e errou. Talvez pela primeira vez, já que é expert em matemática e deve ter tirado primeiro lugar na matéria desde o jardim de infância.
Não deve ter sido diferente com o "inseminador do futuro" Arnold Schwarzenegger, nem com a versão tupiniquim de Strauss-Kahn, o escorregadio Roger Abdelmassih.
A questão é a da matemática -e da probabilística. Como o Bill Clinton também, são pessoas que estavam no ápice de suas profissões, de impressionantes inteligências e que não conseguem manter o zíper fechado. Patologias? Certamente.
Doença mental? Também, com variações.
Mas tudo tem elo com a escola e a formação da pessoa como um todo.
Como não mede sabedoria, a escola não tem espaço para ela, apenas para equações de terceiro grau.
Nessas matérias, todos esses cidadãos imperfeitos e selvagens foram bem. Receberam ovação dos pais, da escola, dos Enem's.
E a formação no que realmente interessa para ser um cidadão pleno, com inteligências quantitativa e emocional equilibradas? Aparece no Pisa? Não. Então, por pressão dos pais e da sociedade, não se perde tempo com isso.
Falta aula de sabedoria. Onde, na escola, discute-se filosofia, amor, ética ou costumes a fundo? Onde há um projeto que poderia ser chamado de "Cidadão Quem"? Uma aulinha por dia -de "leitura do mundo", digamos, onde se questionem as manchetes e o professor confesse que não sabe tudo- bastaria.
Onde, no currículo, discutem-se as questões civilizatórias? O direito à eutanásia, o uso da burca ou os poderes que o dinheiro compra?
Valeria entender a corrupção como peça estrutural na engrenagem humana, ou a questão das centenas de japoneses que estão se contaminando na limpeza do reator nuclear -são eles, afinal, heróis, funcionários comuns em serviço ou simplesmente trouxas?
A arrogância de sexualmente submeter uma mulher pode ser evitada em aulas de sabedoria. Afinal, 497 mil paulistas elegeram um deputado que diz que, em havendo vontade sexual, pode-se estuprar, mas não matar (Strauss-Kahn teria seguido a orientação?). Faltou aos eleitores essa aula. A mesma que evitaria que experts em decoreba tornem-se essa multitude de líderes emocionalmente analfabetos.
O MEC já permite que se empurre aulas de trigonometria para dar espaço a aulas subjetivas como essas. 
Mas nenhuma escola o faz. Pensemos na implementação. As camareiras do mundo ficariam aliviadas.

RICARDO SEMLER, 51, é empresário. Foi scholar da Harvard Law School e professor de MBA no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Foi escolhido pelo Fórum Econômico de Davos como um dos Líderes Globais do Amanhã. Escreveu dois livros ("Virando a Própria Mesa" e "Você Está Louco") que venderam juntos 2 milhões de cópias em 34 línguas.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps