terça-feira, 31 de maio de 2011

Elio Gaspari

Apareceu a reserva de mercado eletrônica
ELIO GASPARI
O GLOBO 

A livraria da Amazon bloqueia a venda de e-books em inglês para títulos que foram editados em português

O MERCADO editorial brasileiro tropeçou numa lombada do atraso. Apareceu um misterioso bloqueio que impede a clientes da Amazon a compra de títulos em inglês de e-books que foram editados em português. É a reserva de mercado eletrônica.
Há mais de um século, os livros em português são mais caros que as edições estrangeiras. Jogo jogado, pois não se pode comparar a escala do mercado nacional com a do americano ou do francês. Com o surgimento de livrarias globais, e das tabuletas, a patuleia passou a dispor de fornecedores ágeis e pode comprar os livros (sempre em inglês) no dia do lançamento em Nova York, por metade do preço.
Um curioso achou três livros traduzidos para o português cujas edições eletrônicas estão bloqueadas na Amazon para clientes da América Latina e do Caribe. São os seguintes: "Fordlândia", "Caçadores de Obras-Primas - Salvando a Arte Ocidental da Pilhagem Nazista" (ambos da Rocco) e "Caçando Eichmann" (Objetiva).
Nenhuma das duas editoras lançou esses títulos em português no formato eletrônico. Só em papel. Disso resulta que o freguês brasileiro precisa pagar entre R$ 48 e R$ 57 por livros que na Amazon custam entre R$ 22 e R$ 24, no original, para a clientela livre do bloqueio.
Nem todos os títulos editados em português estão bloqueados nessas editoras. Podem ser baixados da Amazon, sempre em inglês, o monumental "Pós-Guerra", de Tony Judt, bem como "Conversas que tive comigo", de Nelson Mandela.
Quando os fabricantes de carroças viram a chegada do automóvel, disseram que aquelas máquinas provocariam surtos neurastênicos em mulheres. Depois, os fabricantes tentaram bloquear a produção de um sujeito chamado Henry Ford. Assim como os carros, os livros eletrônicos vieram para ficar. Eles já superaram a venda dos volumes em papel na Amazon.
A editora Objetiva assegura que não tem nada a ver com o bloqueio de "Caçando Eichmann". A Amazon quer se instalar no Brasil a partir de 2012. Tomara que não queira fazê-lo criando um mercado de segunda classe, formado por consumidores impedidos de comprar títulos na sua loja americana. Se o livro em inglês não pode ser vendido em Pindorama, basta que ela diga que isso acontece por determinação contratual do editor americano e de seu agente, com os nomes dos dois.

MESTRE TALLEYRAND
Uma lição do genial chanceler francês Talleyrand (1754-1838), para quem já ouviu falar em confidencialidade.
Diplomata, sedutor e amigo do alheio, recebeu uma oferta de propina de um empresário russo: "Darei 3.000 rublos a Vossa Excelência e ninguém saberá".
Talleyrand respondeu: "Dê-me 5.000 e conte a quem quiser".

OS TRÊS PS
O consultor Antonio Palocci sabia o risco que corria ao prestar serviços ao Banco Santander. As cláusulas de confidencialidade impedem que o banco conte quanto pagou e quem presenciou as palestras do doutor.
Em 2009, o Santander foi autuado pela Delegacia de Assuntos Internacionais da Delegacia da Receita Federal de São Paulo. Coisa de R$ 4 bilhões. À época, o banco recorreu e informou que tinha "plena confiança nas instituições brasileiras".
A então secretária da Receita Lina Vieira foi defenestrada meses depois. Com ela, saíram o superintendente de São Paulo e a delegada de instituições financeiras.
A banca brasileira gosta de transgredir uma regra das casas tradicionais inglesas e americanas, segundo a qual não se deve fazer negócios com os três Ps: Politicians, Press e Priests (Políticos, Imprensa e Padres).

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo está convencido de que toda a questão do patrimônio de Antonio Palocci resume-se a dois vazamentos, um para dentro da Projeto e outro para fora, coisa dos tucanos, segundo o doutor.
O idiota solidariza-se com o ministro e com o tucanato, à espera de que vazem alguma coisa em cima dele.

SIGA O DINHEIRO
De um escorpião:
"A consultoria Projeto, de Antonio Palocci, faturou R$ 20 milhões em 2010. Talvez se deva fazer uma nova pergunta: Para onde foi o dinheiro?"
Em 2005, viu-se que Delúbio Soares, ao contrário de Palocci, arrecadara "quantias não contabilizadas", mas boa parte dos maganos que estão denunciados no Supremo Tribunal Federal nada deram ao comissário. Apenas receberam.

13 ANOS
É dura a vida do cidadão. Em 1995, Jorge Nelson Ribeiro, analista de câmbio do Banco Central, foi responsabilizado por um vazamento de informações.
Retiraram-no do cargo, mandando-o para o serviço de atendimento de balcão.
Satanizado, ele foi à Justiça. Dois anos depois, ganhou direito a uma indenização de R$ 20 mil e à recondução ao posto que ocupava. No seu direito, o BC recorreu.
Passaram-se 13 anos, o caso já passou pela mesa de sete desembargadores federais e nada.
Enquanto isso, surgiram o Google, o iPod e o iPhone, Bin Laden detonou as torres gêmeas e foi passado nas armas, mas o processo do servidor continua à espera de quem faça o seu serviço.

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