sábado, 28 de maio de 2011

Quem manda no mundo?

Tatiana Sabadini
Correio Braziliense 

Em discurso ao Parlamento britânico, o presidente americano reafirma a liderança global do Ocidente, apesar da ascensão de novas potências, como China, Índia e Brasil

Para Barack Obama, o momento de liderança para os Estados Unidos e as grandes potências não está no passado e precisa ser colocado à prova agora, especialmente com a ascensão de países como China, Índia e Brasil. Em discurso para as duas câmaras do Parlamento britânico, honra inédita para um presidente dos Estados Unidos, o visitante rebateu, diplomática mas firmemente, as pretensões dos emergentes a dividir com o Ocidente o comando global. A reafirmação do atual sistema de poderes no mundo coincide com a cúpula do G-8, que se reúne hoje, na França, sem a presença de nenhum país em desenvolvimento — ao contrário do que aconteceu nas três reuniões anteriores. 

O presidente americano fez questão de ressaltar que a liderança das grandes potências permanece “indispensável”, a despeito das mudanças na geopolítica mundial. “Os desafios chegam em uma época na qual a ordem internacional tem sido remodelada para um novo século. Países como China, Índia e Brasil estão crescendo aos saltos. Talvez (…) essas nações representem o futuro, e o nosso tempo de liderar tenha passado. Esse argumento está errado. O tempo para a nossa liderança é agora”, declarou Obama (leia trecho). 

Novo capítulo
O chefe de Estado americano enalteceu a importância dos grandes líderes mundiais e afirmou que, depois das operações no Iraque, da guerra do Afeganistão e da morte de Bin Laden, é o momento de começar “um outro capítulo na história”. “Como mais nações assumem responsabilidade na liderança global, nossa aliança permanece indispensável para termos um século mais pacífico, mais próspero e mais justo. Em um tempo onde ameaças e desafios obriga nações a trabalhar em sintonia, continuamos a ser os grandes catalisadores da ação global”, defendeu Obama. 

Para o embaixador Marcos de Azambuja, vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o discurso teve, de fato, o objetivo de valorizar as potências tradicionais. “Foi uma forma de chamar mais atenção para a Europa e os EUA e rebater a ideia de que o continente europeu está decadente. Obama quis injetar a ideia de que a história ainda passa por eles. O eixo do poder se deslocou, as grandes potências não deixaram de ser importantes, mas surgiram outros atores globais”, afirma ex-secretário-geral do Itamaraty.

O Brasil foi mencionado outra vez no discurso quando Obama referiu-se aos Brics como exemplo de crescimento econômico. “O Brasil está no mapa, é um país de grande significação quando se fala no desenho da sociedade internacional. Não é mais apenas um líder latino-americano, é um ator que importa globalmente. A referência é prestigiosa, afinal, de 190 países ele só mencionou três”, observa Azambuja. 

No discurso de 35 minutos, ao qual Cameron assistiu na bancada de honra, ao lado dos antecessores Gordon Brown e Tony Blair, Obama também falou na importância da intervenção internacional no processo de transição para a democracia no mundo árabe. “A verdadeira razão de nossa influência não é nosso poderio militar ou nossa economia, mas os valores que defendemos”, disse. 

Palestina
O presidente americano voltou a combater a iniciativa da Autoridade Palestina (AP) de levar a votação na Assembleia Geral da ONU, em setembro, seu reconhecimento como Estado soberano — “um erro”, na visão de Obama, que insistiu na necessidade de “um acordo negociado” entre os palestinos e Israel. O visitante, no entanto, não conseguiu o apoio de Cameron, que preferiu não opinar sobre o assunto do reconhecimento da Palestina. O respaldo da Europa à pretensão da AP ainda é uma incógnita e pode ter peso decisivo na reunião das Nações Unidas.

Trecho
» “Países como China, Índia e Brasil estão crescendo aos saltos (…). E, como essa rápida mudança ocorreu, virou moda em certos meios questionar se a ascensão dessas nações será acompanhada pelo declínio da influência americana e europeia no mundo. Talvez, prossegue esse argumento, essas nações representem o futuro e o nosso tempo de liderar tenha passado. Esse argumento está errado. 
O tempo para a nossa liderança é agora.”
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