quinta-feira, 1 de março de 2012

O desafio da energia limpa


Rosana Hessel
Correio Braziliense

O Brasil precisará de muito mais energia para que sua economia cresça de forma sustentável. Com a elevação do poder aquisitivo da população, a procura por eletricidade tem crescido em ritmo maior que a economia do país. No ano passado, o consumo elétrico subiu 3,6%. Enquanto isso, dados do Banco Central que servem como prévia do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) mostram que a expansão da atividade econômica em 2011 foi de apenas 2,79%. Essa realidade impõe ao país a escolha entre "sujar" a matriz energética, uma das mais limpas do mundo, ou correr risco de apagão. Isso sem levar em conta a energia gasta para tirar óleo das profundezas do pré-sal, sujeito a desastre semelhante ao ocorrido no Golfo do México (EUA) em 2010, mais raso do que os poços que serão perfurados na costa brasileira. 

O acidente da usina em Fukushima, Japão, em 2011, também pôs em xeque o uso da energia nuclear. "Já estamos atrasados nessa discussão. Nenhum leilão de grande porte ocorreu em 2011", disse uma fonte do governo. O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mostra que 44,8% das fontes energéticas do país são renováveis. A expectativa é que esse índice chegue a 46,3% em 2020. Nos próximos dez anos, a demanda total de energia crescerá 60% e, em 2020, dois terços do consumo virão da indústria e dos transportes. O valor necessário para acompanhar essa demanda chega a R$ 190 bilhões. 

Desmatamento 
As hidrelétricas são a fonte mais limpa, mas recebem muitas críticas em razão do desmatamento, a exemplo do cenário vivido em Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu (PA). "O avanço da economia não precisa ser interrompido por questões ambientais. É possível encontrar solução harmônica para todos", comenta Cláudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, do WWF. Ele lembra que o país tem também a maior biodiversidade do planeta, embora ela não esteja completamente mapeada. "Com os desmatamentos, é possível que nunca conheçamos a totalidade das espécies", lamenta. O ambientalista também faz um alerta para o novo Código Florestal, em vias de ser aprovado pela Câmara. Às vésperas da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que ocorrerá em junho, no Rio de Janeiro, Maretti critica a "falta de uma visão da política de desenvolvimento sustentável". "A aprovação do código, na forma como ele está, será um retrocesso", comenta. Muriel Saragoussi, coordenadora no Brasil da organização não governamental britânica Oxfam, critica o perdão dado aos donos de terra que já desmataram e a falta de um planejamento para as áreas a serem preservadas. "Manter o sistema de produção é saudável, mas é preciso absorver a experiência de boas políticas públicas. O cadastro defendido pelos ruralistas para conseguir financiamento já era obrigatório. É só cumprir a lei antiga", diz. 

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, ressalta que muitos desses temas serão abordados durante a Rio+20. "Será o momento propício para avaliarmos os progressos do passado e o que queremos para os próximos 20 anos", sinaliza. O diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) em Brasília, Carlos Mussi, concorda sobre a necessidade dessas discussões. "A economia verde não é só uma questão ecológica, mas também um desafio para o desenvolvimento sustentável em meio à crise econômica atual", comenta. "As agendas urbana, de transporte, de logística e de infraestrutura precisam ser melhoradas", avalia.
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