quinta-feira, 24 de maio de 2018

DNA liberal

Bruno Boghossian - Folha de S. Paulo

Influência do Planalto na redução do diesel revela peso da bandeira do ajuste

A redução do preço do diesel pela Petrobras revela o peso da bandeira do ajuste econômico liberal em momentos de estresse. Michel Temer aplicou o DNA do mercado à gestão da companhia, mas deixou impressões digitais políticas sobre a decisão anunciada pela empresa para conter a greve de caminhoneiros que se espalhou pelo país.

A Petrobras reconquistou a confiança de investidores ao adotar práticas da iniciativa privada, priorizar a recuperação de suas finanças e se desvencilhar de interferências constantes do governo. A intervenção temporária sobre o diesel, porém, expõe a inevitável tendência da estatal de agir como estatal em situações críticas.

Ainda que o Planalto se vanglorie de ter livrado a economia das amarras impostas por Dilma Rousseff, as pressões políticas e eleitorais voltam a atar alguns desses nós.

Minutos antes do anúncio do corte de preços por 15 dias, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) indicou que mesmo uma gestão alinhada ao mercado precisa de alguma flexibilidade nas horas difíceis.

“A política [de preços] é ditada pela direção da Petrobras, mas a presidência da Petrobras é de confiança da Presidência da República”, afirmou. Depois, o ministro se explicou: disse que constatara apenas que a empresa não é totalmente autônoma, dada a participação majoritária da União em sua composição.

O presidente da estatal, Pedro Parente, declarou que a independência da empresa não foi arranhada. Afirmou que segue firme na companhia e negou intenção de deixar a cadeira, mas transmitiu dúvida. “Não dá para falar, neste momento, em qualquer tipo de movimento como esse.”

Para contornar essa crise, o Planalto carregará o peso de outra bandeira do ajuste econômico. Em 15 dias, o governo precisará prorrogar o congelamento dos preços ou aprovar uma redução significativa de impostos sobre combustíveis. Se optar pela solução tributária, deverá comprar briga com governadores, que perderão receita em ano eleitoral.

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