terça-feira, 3 de maio de 2011

Brasil deve manter vigilância

Brasil deve manter vigilância, diz José Viñals
Valor Econômico 
  
O Brasil deve manter vigilância sobre o rápido aumento do crédito, retomada da alavancagem das empresas e riscos de superaquecimento da economia, afirma o diretor do departamento monetário e de mercados de capitais do Fundo Monetário Internacionl (FMI), José Viñals.

Em entrevista ao Valor, que segue, ele deixou bem claro que não vê desequilíbrios nem excessos. Viñals elogiou as políticas adotadas pelo Brasil nos últimos anos e afirma que o país se tornou um exemplo para outras economias da América Latina e resto do mundo.

Mas, ao falar da alavancagem das empresas, ele fez uma recomendação que vale para outras áreas num país que apresenta rápidas taxas de crescimento e enfrenta os dilemas do forte fluxo de capitais: "Fique de olho".

Valor: A alavancagem das empresas no Brasil preocupa?

José Viñals : Houve um significativo aumento da relação entre dívidas e capital acionário das empresas entre 2005 e 2008 e, depois da crise, houve alguma redução da alavancagem. Agora, está começando a crescer de novo. Não vemos nenhum risco imediato nisso. A questão é: fique de olho. Apenas fique de olho para se assegurar de que o endividamento não subirá muito. Mas acho que a coisa fundamental são as questões ligadas ao crédito.

Valor: O que está acontecendo?

Viñals : No caso do Brasil, se pegarmos a média dos últimos anos, de 2007 a 2010, o crescimento do crédito é bem acima do crescimento do PIB. Entendo que um país como o Brasil deve ter ao longo do tempo um aumento da penetração do sistema financeiro. Se o crédito cresce muito rápido, você tem que tomar cuidado porque empiricamente existe uma associação entre crescimento do crédito e a qualidade do crédito. Quando o crédito está crescendo muito rápido, você talvez esteja dando crédito para quem não tem risco muito bom. Não estou dizendo que esse é necessariamente o caso do Brasil. Mas quando você está crescendo rápido, você tem ficar de olho.

Valor: Preocupa o fato de os bancos estarem captando mais dinheiro no mercado de capitais em vez de depósitos?

Viñals : No caso do Brasil, você tem não apenas um crescimento rápido do crédito, mas também um aumento do percentual do crescimento de crédito que é financiado por meio dos mercados, quando comparado com depósitos. Os depósitos são mais estáveis. Do ponto de vista de estabilidade financeira, você não deve se apoiar muito nos mercados. Não estou dizendo que o Brasil está num território excessivo. Estou dizendo que isso é algo que, em qualquer outro país, deve ser acompanhado.

Valor: Quais são as opções nesse caso?

Viñals : A base de depósitos é normalmente estável, não é algo que muda da noite para o dia. Então uma questão que você deve fazer a si mesmo é, se você está dependendo tanto nos mercados de capitais do exterior para financiar seu crescimento, talvez seu crescimento esteja muito rápido. Talvez precise ser mais cauteloso no crédito. Mas, de novo, não existe regra única para isso. É algo que você vai querer manter vigilância.

Valor: Como o sr. vê o risco de superaquecimento no Brasil?

Viñals : O risco de superaquecimento é particularmente importante em algumas economias asiáticas. No caso do Brasil há também algumas preocupações, então é bastante importante que o Banco Central permaneça vigilante e tome as ações apropriadas em termos de taxas de juros para manter inflação e expectativas sob controle. Essa é uma recomendação geral, mas vale também para o Brasil.

Valor: Existe o risco de pouso forçado em países emergentes pelo atraso na alta de juros?

Viñals : Sim, na Ásia alguns países talvez estão ficando atrás da curva. É muito importante usar taxas de juros na Ásia em países onde os juros estão negativos.

Valor: O FMI não tem sido pouco crítico com as causas do fluxos de capitais, ou seja, com a emissão de dinheiro pelos Estados Unidos?

Viñals : Estamos olhando os Estados Unidos. Existe um impacto da política monetária das economias avançadas nos fluxos de capitais aos países emergentes. Mas se você procurar as razões exatas por trás dos fluxos de capitais, a maior parte está nos países emergentes. Os investidores percebem que, se eles forem para os mercados emergentes, terão retorno maiores. Mas o quanto antes as economias avançadas fizerem o trabalho necessário para consertar seus sistemas financeiros, mais rápido a confiança será restabelecida nessas economias. Se essas economias tiverem melhores perspectivas de crescimento, a diferença nos retornos não será tão obscena. As economias avançadas têm um papel a desempenhar no reequilíbrio dos fluxos de capital, mas o papel central cabe às economias emergentes.
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