sexta-feira, 13 de maio de 2011

Acorda...Recife....Rio....Sp etc etc




Nossa formação social nos colocou alheios aos processos de desenvolvimento político e social desde o Império. Tivemos uma tênue chance de nos aprimorarmos com o advento da República, todavia, a conjunção com a Igreja necessária para vender o novo projeto ao longo de todo o território cobrou sua parte ao estimular o afastamento do cidadão comum da esfera de decisão: As coisas do Estado e da Igreja não se discutem... Com o passar do tempo adicionaram o futebol, comum em todos os rincões, sob a risível justificativa que cada um teria uma opinião e nunca se chegaria a um denominador comum. Pronto, a receita para o alheamento do cidadão com as coisas públicas e o bem comum teve um berço sólido no reino dos paradigmas importados.

O cidadão comum que hoje tem acesso a uma farta fonte de consultas e de informação continua confuso e alheio ao que acontece ao seu redor. Aliado ao fato de não se gostar de se envolver em atividades coletivas que venham cobrar responsabilidade direta, o indivíduo segue sua vida em sociedade evitando, ao máximo, reuniões de condomínio, associações e, infelizmente, até reuniões de pais em escolas. Discutir coisas públicas é discutir política...assim: Tô fora!!

Recentemente conheci um grupo que propunha um nome interessante: Acorda Recife. Mas por que “acorda”? Com base em que parâmetros o idealizador e seus seguidores achavam que todos estavam dormindo? O cenário, claro está, era a situação caótica dos bairros da capital sob alagamentos de toda sorte. Claro está que o alvo de todo o infortúnio era o prefeito.

As propostas dos membros denotavam que as coisas aconteciam porque o prefeito não queria corrigi-las. E por que se incomodavam tanto? Logo agora? Porque o alagamento chegou até eles, classes média e alta que estavam, enfim, vivenciando o mesmo caos que os bairros mais pobres enfrentam há anos. Os alagamentos e a lama chegaram até eles e, de pronto, iniciaram um movimento achando que, até então, ninguém tinha observado o problema e se tinha nenhuma atitude havia sido tomada. 

O que me chamou a atenção, logo de cara, foi uma não-intencional presunção da proposta logo no nome do grupo: “Acorda!!” Tá todo mundo dormindo e ninguém faz nada!! E, no mesmo caminho, que a mobilização virtual iria fazer com que o prefeito resolvesse trabalhar direito, arrumando dinheiro e meios para resolver todos os problemas. Poderiam ter tido a prudência de verificar antes de se sentirem do tipo "...nunca dantes nesse país...". Descobririam que, há muitos anos, associações de moradores de bairros menos favorecidos se articulam com precisão e objetividade para buscar suas reivindicações junto à prefeitura e órgãos públicos.

A análise que fiz, em seguida, foi a de que as pessoas do grupo possuem bom poder aquisitivo e inteligência para operar tecnologias midiáticas informacionais para se comunicarem, talvez na inocente esteira de se achar que somente o twitter e o facebook iniciaram uma revolução no Oriente Médio. Nada, novamente, mas inocente e longe da realidade.

Com poucas intervenções procurei fazê-los ver os problemas por outra ótica, notadamente a configuração topográfica da cidade, a evolução econômica das classes sociais menos favorecidas, o fato da cidade ser muito arborizada, o boom imobiliário presentes nos bairros e, sobretudo, o péssimo hábito do cidadão de jogar lixo nas ruas e galerias. Tudo isso em meio a uma infra-estrutura de saneamento público baseada em desenhos e projetos holandeses para ruas com largura para circular carruagens e poucos prédios comerciais. Claro está que a histórica falta de planejamento, ressaltando-se, nos últimos trinta anos, contribuiu, sobremaneira, para o problema.

No momento que os argumentos começaram a migrar para se esclarecer os rituais de orçamentos públicos, autorizados previamente e fiscalizados pelos tribunais de contas e ministério público, que engessam todo e qualquer prefeito no país, de pronto o limite do envelope operacional de se tentar explicar a tal público a essencialidade dessa realidade restritiva chegou ao batente e minha participação teve que se encerrar.

Por que enfatizo tal fenômeno? Porque poderia ser qualquer outra cidade a ser acordada: RJ, BH, SP, PA etc etc. Dentre as 5640 cidades do país, a expressiva maioria sofre de problemas de infra-estrutura.

O cidadão tem capacidade e acesso a uma miríade de fontes de informação mas ainda encontra-se absolutamente incapaz de entender o que ocorre a sua volta. O tal do paradoxo global proposto, em meados da década de 80, pelo cientista John Naisbitt, o mesmo da série dos “Megatrends”.

Enfim, os cidadãos daquele grupo devem estar, suponho, achando que apenas sentar com o prefeito, esclarecer o que eles acham que o gestor público não sabe ou ainda não viu, irá demovê-lo de sua teimosia e, por fim, ele se levantará, abrirá o cofre atrás do quadro da parede e chamará o assessor para, então, começar a trabalhar direito. Ledo engano.

Nessa hora é que a fatura iniciada no império e estimulada no alvorecer da república está sendo cobrada. A sensação de impotência e do famoso jargão da época do patropi... “é um absuuurrrdo!!” é o que resta aos motoristas e transeuntes, ilhados nas ruas, candidatos ao programa federal “balsa-família”.
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