Permitam-me apresentar-lhes Ricardo Semler: CEO da SEMCO (Semler Company), paulista e produtora, também, de eletrodomésticos. Ele se notablizou com um excelente livro "Virando a própria mesa" onde relata sua experiência de passar o comando da empresa para os funcionários, onde eles não têm cartão de ponto. Se é sucesso até hoje não sei, mas ele é constantemente chamado para dar palestras no mundo.
Apesar de acompanhá-lo nem sempre concordo com o que ele escreve, contudo, a idéia dele, no texto abaixo, para mim é muito válida. Formar tutores aos moldes dos que formam os príncipes e estadistas europeus e asiáticos, todavia há que se ressaltar nossa latina idiossincrasia e nossas sérias limitações estruturais para a idéia ser hegemônica em todo o território nacional.
Enfim, é um texto muito bom para reflexão.
Professores são obsoletos
RICARDO SEMLER
OLHA DE SÃO PAULO
Investimentos deveriam criar novas soluções em educação, possibilitando a formação de tutores
A Westinghouse era um gigante nos anos 20. Numa fábrica com 12 mil funcionários, conduziram uma experiência seminal. Aumentaram a iluminação e a produtividade aumentou. Depois, voltaram ao que era. A produtividade aumentou mais! Esse experimento provou que a intervenção gera mudanças temporárias, e não difere dos empresários que intervêm em escolas.
No começo a diretora faz cursos de gestão, aparecem computadores e reciclagem para professores. Com o tempo, tudo volta ao que era. E os valores que são colocados nessas escolas "mexidas" tornariam o orçamento da rede publica inviável, portanto, são artificiais.
Duas boas entidades, Instituto Ayrton Senna e Todos Pela Educação colocaram pesquisadores para achar o denominador comum de centenas de estudos sobre melhorias na sala de aula -o resultado, logicamente, não passa de um conjunto de platitudes.
São quatro as conclusões: um, o professor tem que ser bom. Os 20% melhores ensinam mais do que os 20% piores. Ué...
Segundo, que turmas menores aprendem mais -ou seja, não é bom ter 48 alunos na classe. Certo.
Terceiro, que é melhor que a turma seja homogênea -se for para aprender mais matemática e português-, mas seria melhor que fosse heterogênea -se for para outras matérias. Ops...
Quarto, que alunos aprendem mais se houver mais aulas.
Hmmm... Sei que faço uma caricatura, mas não difere disso. A culpa não é dos empresários -têm boas intenções-, mas cabe lembrar que 92,3% das empresas quebram ou são vendidas a cada 20 anos, o que sugere que o empresário tem dificuldade de entender do seu próprio métier, quem dirá educação.
Que empresários escolheriam um professor de sociologia, depois um torneiro mecânico e por fim uma guerrilheira para comandar o país?
Teriam acertado na mosca, o país nunca andou tão para a frente.
Perguntei, numa palestra em Londres para 59 ministros de Educação: por que as férias são tão compridas no verão? Nem um deles sabia -é assim porque as escolas eram rurais, e os pais precisavam da criançada para ajudar na colheita, por dois meses. É assim até hoje.
Melhorias marginais na escola são como motor novo e pintura metálica num Fusca 77.
O papel do professor está obsoletado. Pede-se demais: que entenda de uma matéria, mas cruze com outras; que saiba manter 39 meninos quietos; que lide com as sacanagens da carreira, com diretoras ranzinzas e pais perdidos; e ainda aprendam tudo sobre bullying e "bullshit".
Os investimentos e estudos deveriam ir para formatos novos, com professores virando os tutores esclarecidos da paideia grega e chamando à escola os milhões de recém-formados e aposentados que poderiam partilhar suas paixões.
Ficar tirando a média de um conceito medíocre é inócuo. Correr atrás de resultados melhores no Pisa parece avanço, mas não passa de uma polida no capô do Fusca.
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