segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CAOS AÉREO NÃO SE RESOLVERÁ SÓ COM MULTAS



EDITORIAL
CORREIO BRAZILIENSE


O transporte aéreo nacional deveria estar voando alto, em céu de brigadeiro. No ano passado, 9 milhões de brasileiros embarcaram em um avião pela primeira vez. Em julho último, a taxa de ocupação nas viagens domésticas atingiu quase 80%. Reflexo da recuperação da economia nacional, com a expansão da classe média e o mercado de trabalho praticamente atingindo o pleno emprego, apesar da crise mundial. Mas o que decola pra valer é a insatisfação dos passageiros com as companhias. Para agravar, a infraestrutura aeroportuária mergulha no caos, pois as providências seguem no ritmo dos velhos bondes, em vez de espelharem-se na velocidade dos jatos. 

Está fresco na memória o ocorrido em meados do mês em um dos 10 principais aeroportos do país, Viracopos, em Campinas (SP). Com uma só pista — embora a segunda, que apenas deverá ficar pronta bem após a Copa do Mundo de 2014, esteja prevista há quase 10 anos —, passou quase dois dias interditado, diante da quebra de um cargueiro e da falta de um plano de desobstrução rápida. Resultado: cerca de 500 voos cancelados e mais de duas dezenas de milhares de usuários prejudicados. É natural que acidentes aconteçam, mas um mínimo de precaução teria agilizado a volta à normalidade operacional e os consequentes transtornos extras que a demora causou. 

A imprevisibilidade, contudo, é a marca que domina o setor. Ao comprar uma passagem aérea, o cidadão já está consciente de que os horários de saída e de chegada não passam de previsões. Se precisar remarcar o bilhete, deve preparar-se para pagar até o dobro do valor inicial. Outra aventura é encontrar vagas em estacionamentos, quase sempre lotados. Mais uma pode ser o check-in, com filas quilométricas, embora as facilidades oferecidas pela internet. No destino, dúvida cruel o acompanhará no trajeto entre a aeronave e a sala de desembarque: estará sua bagagem na esteira? E se precisar de informações? Bom, dificilmente terá atendimento adequado.

Só em 2011, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) registrou 25 mil reclamações. Este ano, apenas no primeiro semestre, o Procon de São Paulo recebeu 438 queixas contra empresas aéreas. Agora o órgão regulador do setor tomou decisão drástica. Na próxima terça-feira, definirá multas que podem chegar a R$ 20 milhões, mil vezes mais do que as atuais, em casos em que os serviços de transporte aéreo comprometerem a ordem ou a segurança pública, incluindo falhas no check-in. De imediato, as duas maiores companhias brasileiras, a TAM e a Gol, passarão por auditoria operacional para conferir os procedimentos de emissão de bilhetes. Não basta, nem se sabe se a medida vingará, mas passava da hora de ação mais enérgica.

A demanda crescente eleva a expectativa de venda de passagens aéreas no Brasil este ano a 80 milhões de unidades. Sem corrigir falhas das empresas, o país não dará conta do recado. Mas as precariedades do setor ultrapassam largamente o aspecto comercial. A precariedade da infraestrutura pública é gargalo que cabe ao Estado enfrentar com o mesmo rigor que aplica às companhias. Havia a esperança de avanços radicais para o atendimento às exigências da Copa do Mundo e das Olimpíadas, mas a letargia do governo a transformou em frustração. Com as obras atrasadas, soluções paliativas — em que a construção de puxadinhos deu vez a ampliações modernas e definitivas — podem ser a dor de cabeça futura.
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