Ao invés de investir na melhor gestão dos recursos para a Educação e capacitação, o governo, com seu perfil totalitario, investe naquilo que idiossincrasia do cidadão brasileiro tem de melhor: A paciente espera que o Estado tudo lhe dê e proveja.
Pode, até, parecer politicamente correto e inclusivo, mas medidas assim somente ampliam a desigualdade social e entorpecem o que venha a ser o conceito de justiça social.
Os riscos das cotas
Correio Braziliense
O Brasil ainda está longe de superar os gargalos que governos e sociedade permitiram que se formassem na educação. Além de refletir e ajudar a agravar a desigualdade social, a dificuldade de acesso à escola de boa qualidade de nível universitário soma-se à precariedade do ensino médio público, para formar um quadro preocupante. Os resultados deixam mal o país em todos os rankings internacionais de qualquer nível de ensino e já afetam a qualidade da mão de obra disponível para a manutenção do crescimento econômico do país.
Dados do Censo da Educação Superior, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) na terça-feira, um dia depois da publicação das regras de cotas sociais e raciais impostas a todas as universidades e escolas técnicas federais, não deixam dúvida quanto à lentidão com que o país vem promovendo a universalização do ensino superior. Segundo o MEC, entre 1997 e 2011, o percentual de negros e pardos de 18 a 24 anos matriculados ou que já haviam concluído um curso universitário passou de 4% para 19,8%. E a quantidade de estudantes de nível superior de famílias de baixa renda evoluiu de 0,5% para 4,2%.
É muito pouco para período tão longo (14 anos). Pior: essa proporção de negros e pardos no universo dos estudantes ou portadores de diploma de nível superior não guarda relação aceitável com a realidade da população. Segundo o IBGE, esse segmento racial é majoritário no país, respondendo por 51% dos brasileiros.
Os problemas não param aí. Ainda é muito pequena a população brasileira de 25 a 34 anos com diploma de nível superior: 12%. O dado coloca o Brasil em desvantagem em relação a pelo menos 37 países, conforme relatório divulgado em setembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ficamos bastante abaixo da média, de 37%, e perdemos feio para emergentes como a Rússia (55%) e vizinhos, como o Chile (35%).
Mas nem mesmo esse quadro negativo autoriza o país a correr o risco de atalhos duvidosos. Decisões nesse campo são estratégicas, têm a ver com o futuro de várias gerações. O preço que o país paga pelas deficiências do presente precisa servir de alerta para o perigo de escolhas precipitadas e voluntariosas. Especialistas de várias tendências não se cansam de indicar o ensino médio como o endereço do pior e mais urgente dos gargalos. Afinal, é devido à péssima qualidade da escola pública desse nível que os mais pobres não conseguem vaga nas universidades públicas, as melhores do país.
Em vez de desatar o nó do ensino médio gratuito, investindo na elevação do nível da escola pública, eliminando a distância que a separa dos bons colégios particulares, preferimos transferir o problema para as universidades, na forma de cotas sociais. Os riscos vão desde a dificuldade de acompanhamento das aulas pelos menos preparados — o que pode motivar desistências —, até a tentação de baixar o nível da universidade para atender a esse aluno — o que, em médio prazo, valoriza no mercado de trabalho os jovens que cursaram faculdades particulares que investem na qualidade do ensino.
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