O que aconteceria então com este alinhamento e simpatia com o presidente Iraniano? E com os judeus, do mundo, fortemente influenciadores dos investimentos internacionais: Dar um castiguinho no Brasil: Perder uma expressiva quantidade de investimentos externos.
Como nossa capacidade de poupança está prejudicada em função da prioridade dada aos investidores externos, os programas sociais sofrerão um colapso. A estatização generalizada ganhará, por conseguinte, força no congresso por não haver espaço para a economia da mercado.
Aí será a nossa vez de termos o efeito Tequila, que não tenho certeza se a sociedade sequer se lembra ou talvez saiba o que foi isso. O México, menina dos olhos dos investidores internacionais quebrou, gerou a crise e hoje, quase vinte anos depois, ainda está aos cacos, apesar de, de vez enquando dar uma recuperada mas, dado à fraqueza das instituições, o que se assemelhará a nós em breve, o dinheiro de fora some de novo e eles ficam aos cacos novamente.
É só ler os jornais internacionais para ver como está o México no último mês.
O maior tema internacional da atualidade
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100225/not_imp515823,0.php
O Irã é hoje, sem dúvida, a maior ameaça à paz e à segurança do mundo.
Seu programa nuclear avança velozmente, sendo composto por milhares de centrifugadoras enriquecendo urânio a um nível de concentração que já atingiu os 4% necessários para gerar eletricidade. Seu presidente já afirmou que foi também atingido o nível de 20%. Dizem os cientistas que é mais difícil chegar a 20% do que aos 90% necessários para confeccionar uma bomba atômica. Não se sabe se é verdade ou bazófia, mas há indicações de que assim é. Em outras palavras, o Irã está próximo do limite da capacidade nuclear.
A forte movimentação diplomática das grandes potências (Estados Unidos, França, Alemanha, Rússia, Grã-Bretanha), especialmente na Organização das Nações Unidas (ONU) e na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, para evitar ou postergar a posse da arma nuclear pelo Irã indica que existe grande urgência e preocupação.
As negociações para evitar esse desfecho gravíssimo avançam lentamente, porém, seja porque o Irã negaceia, seja porque a pressão não é suficientemente contundente. As sanções econômicas que são ventiladas hoje, geralmente, não funcionam. É também sempre difícil trazer a China, potência com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, a concordar com sanções. Medidas que realmente atinjam interesses iranianos fundamentais - tais como o bloqueio de seus depósitos financeiros internacionais ou de compra de tecnologias sensíveis - são particularmente difíceis de reunir apoio suficiente para serem implementadas. De todo modo, o efeito de eventuais sanções é difícil de prever, já que, por vezes, não surtem o efeito desejado e acabam reforçando o sentimento nacionalista e a coesão em torno do governo de que são objeto.
Nas ruas de Teerã e de outras grandes cidades iranianas há uma contestação crescente ao regime, que se parece cada vez mais com o dos Estados autoritários tradicionais, ou seja, ditaduras nas quais o aparelho de segurança controla o Estado e a maior parte da vida pública. Na América Latina já vimos esse filme muitas vezes. A repressão está sendo cada mais severa à medida que a contestação popular aumenta. A oposição popular não se curva, malgrado a repressão sangrenta, mas tampouco abala decisivamente o governo dos aiatolás. O resultado é um impasse que não repercute sobre o progresso iraniano rumo ao armamento atômico.
O cronômetro está avançando nos três tabuleiros acima referidos e, se o caminho do armamento nuclear for o mais rápido, é possível que a Europa, os Estados Unidos e Israel sejam forçados a um dilema terrível, uma verdadeira escolha de Sofia: aceitar um Irã nuclear ou atacá-lo para evitar que ocorra esse desfecho. Não é possível que esse seja o desejo dos governantes de Washington, Jerusalém, Paris ou Londres. Qualquer das duas alternativas seria nefasta. Um ataque, além de militarmente difícil e incerto, semearia o caos total no Oriente Médio, onde já não faltam tensões e impasses. A arma nuclear daria ao Irã uma espada de Dâmocles sobre a cabeça de Israel, que seria compreensivelmente intolerável para um povo que já sofreu o que sofreu.
À medida que esse quadro se torna mais grave, a posição brasileira de aproximação com o regime de Mahmoud Ahmadinejad torna-se cada vez mais incompreensível e perigosa para os interesses nacionais. Não se trata de "não curvar-se aos desígnios das grandes potências", como argumentam os porta-vozes do governo. Trata-se, isso sim, de dar sustentação internacional a um país que hoje só a recebe da Venezuela e de mais alguns poucos Estados irrelevantes no cenário mundial. Consiste em cometer um gesto gratuito, cujo preço é incomparavelmente maior do que qualquer possível retorno comercial ou político. Apoiar um regime que reprime brutalmente nas ruas uma oposição desarmada contraria os princípios básicos dos direitos humanos, dos quais o Brasil é fiel defensor.
Como se não bastassem essas fortes razões, essa política provoca um risco de contágio ao programa nuclear brasileiro, que é respeitado por todos os compromissos que assumimos nos últimos 22 anos de renúncia às armas nucleares e avalizado por todas as inspeções internacionais que aceitamos. Algumas vozes isoladas ainda põem em dúvida o acerto dessas decisões - o que sempre causa espanto, pois não temos inimigos nem vivemos em região onde impere a insegurança militar. Não há dúvida, porém, de que o Brasil tem um programa nuclear exclusivamente pacífico e é considerado internacionalmente um país sério e sem ambiguidades nesse terreno. A nova intimidade com o Irã cria suspeitas - infundadas, por certo, mas difíceis de desmentir, dado o tom de algumas declarações oficiais de apoio a Teerã - que em nada atendem aos nossos interesses e só podem criar dificuldade de toda ordem para nós. Em matéria de tal gravidade, à medida que o quadro diplomático e militar se deteriora, persistir nessa linha e, por exemplo, visitar o inefável Ahmadinejad em Teerã só pode trazer-nos prejuízos materiais e políticos incalculáveis e completamente desnecessários.
Como dizia o grande ministro Antonio Azeredo da Silveira, com seu humor personalíssimo, apoiar o Irã é atravessar para pisar de propósito em casca de banana na outra calçada. Ainda é tempo, para o governo brasileiro, de refletir melhor e, discretamente, para não ser forçado a admitir a extensão do equívoco, deixar de atravessar a rua.
Luiz Felipe Lampreia, embaixador, foi ministro das Relações Exteriores (1995-2001)
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