PAULA CESARINO COSTA
FOLHA DE SP
Mais do que na novela das 21h que tem parado o país, drama, violência, tragédia e esperança se misturam nos 58 km da verdadeira avenida Brasil, que corta o Rio da zona norte à oeste e imobiliza a cidade de maneira mais literal.
Inaugurada em 1946 e pouco cantada em versos, a via simbolizou a industrialização dos períodos Getulio Vargas e JK, entre os anos 50 e 60, e a decadência econômica fluminense dos anos 80 e 90.
Carros, caminhões, ônibus e motos circulam, param e se acidentam em meio a uma paisagem lúgubre.
Pedestres esperam por transporte em pontos caindo aos pedaços, adornados por árvores semimortas. Bicicletas serpenteiam entre as vias ou ficam acorrentadas a postes.
No alto do morro, um castelo de contos de fadas abriga um dos principais centros de pesquisa do país, a Fiocruz. Instalações militares ocupam áreas imensas, abrigando as poucas áreas verdes que um dia chegaram a hospedar os craques da seleção de 70. São oásis de excelência.
Ao rodar por essa avenida, esburacada, violenta, bagunçada e feia, não dá para vislumbrar o renascimento que dizem que está a acontecer.
Às vezes, os números revelam antes uma realidade ainda invisível.
Quase não há mais áreas disponíveis, as poucas estão supervalorizadas. Estão em construção o Arco Metropolitano e o BRT TransBrasil -um corredor exclusivo para ônibus.
Só em 2010, segundo a Fecomércio do Rio, 1,7 mil estabelecimentos se instalaram, com a abertura de 8.921 vagas. No ano passado, dois grandes shoppings foram inaugurados, criando mais de 5.000 empregos. Empresas atacadistas e de e-commerce aproveitam a redução do ICMS de 19% para até 1%.
A avenida Brasil é a principal via de acesso ao Rio e tem encravada em si anos de descaso governamental, à altura de vilão de TV. Mas novela tem sempre final feliz.
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