segunda-feira, 16 de julho de 2012

Falta povo na Copa


3 entre 200 milhões de brasileiros se beneficiarão diretamente dos investimentos para a Copa durante os jogos. A enorme quantidade de recursos aplicados carece de fiscalização da sociedade.

Vale a pena acompanhar esses vultosos projetos.



Falta povo na Copa

Pedro Trengrouse
O Globo


Antes mesmo de realizar a Copa na África do Sul, a Fifa já tinha mais receitas para 2014 que 2010. Só no ano passado, a Fifa arrecadou com a Copa de 2014 cerca de R$ 2 bilhões, e a perspectiva é de que consiga mais de R$ 8 bilhões neste ciclo de quatro anos. A Copa do Mundo de 2014 já é um sucesso para a Fifa. E para o Brasil?

Segundo o último balanço publicado pelo Governo federal, mais de 80% das obras da Copa, incluindo todos os estádios, aeroportos e empreendimentos de mobilidade urbana, ficam prontos ainda em 2013. É verdade que todo esse investimento tem grandes impactos econômicos e sociais no país, com a geração imediata de emprego e renda e a melhora da infraestrutura nacional, principalmente nas áreas de transporte, turismo e do próprio futebol enquanto atividade econômica, mas e o custo de oportunidade? Será que este mesmo investimento em outros setores teria melhores resultados?

A decisão política de sediar a Copa e abrir os cofres públicos sem dúvida levou em consideração a paixão do brasileiro por futebol. O investimento público na Copa passa de R$ 25 bilhões. Só em estádios, mais de R$ 6 bilhões. O problema é que somos 200 milhões de brasileiros para cerca de 3 milhões de ingressos, dos quais metade se destina ao mercado corporativo, e os demais são vendidos para o mundo todo.

A única forma de participação direta do povo brasileiro na Copa do Mundo de 2014 é através de eventos de exibição pública, que a Fifa chama de Fan Fests e prevê organizar apenas um por cidade-sede. É muito pouco! A Copa da Fifa não é, necessariamente, a Copa do Povo, e os eventos de exibição pública dos jogos são ferramentas importantíssimas para inclusão social e segurança pública, indispensáveis ao controle das multidões e palcos para a promoção da cultura nacional.

Carnaval, São João, réveillon, são exemplos da vocação do Brasil para reunir grande número de pessoas em praças públicas regularmente. Com o devido planejamento e o poder de mobilização do futebol no país, os eventos de exibição pública dos jogos podem ser o símbolo da Copa 2014. Em 2010, a Fifa reconheceu que a Fan Fest da Praia de Copacabana foi a melhor do mundo, reunindo 600 mil pessoas com a melhor infraestrutura de todas.

Agora mesmo, na Eurocopa, enquanto 1,4 milhão de torcedores assistiam aos jogos nos estádios, 6 milhões de pessoas festejavam nos Fan Fests. Em Varsóvia a capacidade era de 100 mil torcedores por dia, e em Kiev o show de encerramento foi de ninguém menos que Elton John, para 85 mil pessoas. Se os estádios são prioridade para a Fifa, os Fan Fests devem ser prioridade para o Poder Público, que está pagando a conta da Copa e não pode deixar o povo brasileiro de fora.

PEDRO TRENGROUSE é consultor da ONU/PNUD para a Copa 2014.
.

Um comentário:

  1. Realmente, a Copa do Mundo deve ser direcionada ao povo, pois ninguém além do povo está pagando para que ela ocorra. 25 bilhões de reais poderiam ser convertidos em hospitais, segurança, educação, etc. Portanto, se o povo tem de pagar, o povo tem de usufruir dos benefícios citados pelo texto, que é de muito boa confecção, aliás.

    erranteopcional.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

GEOMAPS


celulares

ClustMaps