quinta-feira, 1 de novembro de 2012

OBRA CARA E INTERMINÁVEL




JORNAL DO COMMERCIO (PE)


O governo federal vai lançar, até o final deste ano, mais cinco novas licitações para dar continuidade às obras de transposição das águas do Rio São Francisco. Este é mais um capítulo de uma crônica que vem sendo mal contada desde o princípio, lá pelos idos de 2007, quando acumulou avaliações negativas baseadas em razões técnicas e ambientais mas, por fim, foi consolidada pelas razões históricas que contam o martírio dos nordestinos. É indispensável sempre ter presente que desde o tempo de Pedro II técnicos e acadêmicos produziram montanhas de estudos, desaguando nesta obra monumental que já deveria estar dando frutos neste ano de mais uma seca, mas não está, e termina por ser anunciada para 2025, a um custo final muito difícil de prever, posto que iniciado em R$ 4,5 bilhões, já atingiu R$ 8,2 bilhões e até lá o céu é o limite.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional – ou simplesmente transposição das águas do São Francisco – é um empreendimento do governo federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, que chegou como solução definitiva para 12 milhões de nordestinos de 391 municípios do Agreste e Sertão de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, que sofrem regularmente com os efeitos das longas estiagens. Teoricamente, uma obra irrefutável, quando se tem nas mãos a histórica de sofrimento e de êxodo de nordestinos que foram forçados a fugir da fome e se abrigar em São Paulo, a exemplo do ex-presidente Lula. Contra ela houve muito clamor dos que questionaram sua fundamentação técnica, dos que viam na açudagem e na construção de cisternas a solução mais viável, dos que sempre defenderam a convivência com a seca como a única e definitiva solução. Mas prevaleceu o gigantesco projeto de transposição e tudo mais deveria ficar em segundo plano não fossem as pedras no caminho, de que resultaram canteiros de obras abandonados e testemunhando uma falha de projeto que é realçada agora, em mais um ano de seca.
Quando ainda era a “mãe do PAC” no governo Lula, a presidente Dilma Rousseff foi apontada como a grande gerente das obras públicas do País, exigindo cumprimento de prazos, transparência de preços, lisura nas licitações. Com a autoridade que tem e a responsabilidade de estar presente em todo o País, a presidente deve estar sabendo que o Nordeste vive mais um ano de desespero com a seca, assim como deve saber que a transposição das águas do São Francisco emperrou. É pertinente supor que a história poderia ser outra se ela fizesse valer a força e a determinação que estão associadas ao seu perfil e acompanhasse mais de perto essa obra cara e interminável. Até porque, considerando-se os ciclos de grandes secas na região, até 2025 viveremos outros anos de terror, com repercussão profunda na vida de uma geração inteira de brasileiros e brasileiras, e com gastos monumentais tirados de outras obras nas áreas de educação, saúde, transportes, habitação.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps