Há alguns anos que venho denunciando aos distraídos cidadãos que, por ocasião da posse dos novos presidentes, deve-se dar atenção não a quem comandará ministérios e sim quem abocanhará cargos de segundo e de terceiros escalões, onde o dinhe
iro, de fato, rola. Só que a novela e o futebol são a preferência nacional e o cidadão, após ser pego com um mal serviço prestado de forma contumaz, limita-se a reclamar confortavelmente de dentro de sua zona de conforto, atribuindo a outrem, a responsabilidade por se mobilizar contra. As agências reguladoras, notadamente as de telecomunicações, aviação civil e de saúde, vem sendo encharcadas por nomeações políticas ao invés de técnicas, HÁ ANOS, sob o silente e atento cochilo de uma sociedade anômica e despreparada para vivenciar a democracia participativa. Mesmo com as redes sociais, a anomia é tão grande que eu não vejo perspectiva alguma de que melhore no futuro.
Resultado do aparelhamento das agências
O Globo
Logo ao assumir no primeiro mandato, em 2003, o presidente escolheu as agências reguladoras como alvo. Talvez pelo fato de elas terem relação direta com o programa tucano de privatização - tema explorado pelo PT -, não importou que fossem um instrumento inspirado nas boas práticas internacionais de modernização da administração pública.
Nada mais equivocado do que considerar que as agências "terceirizavam" o poder do Executivo. Ora, elas foram criadas como organismos independentes aos governos para, sem qualquer tipo de interferência, fiscalizar a prestação de serviços de concessionários de áreas em muitas das quais houve transferência de empresas públicas para o setor privado e concessão de exploração de serviços a empresas particulares.
Mas o governo Lula acabou, na prática, com a independência das agências, tratando-as como autarquias menores de ministérios, à disposição do jogo político fisiológico de troca de cargos e verbas por apoio no Congresso e em eleições.O mais novo escândalo patrocinado pelo grupo hegemônico no PT, deflagrado em torno da chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, é um caso de corrupção decorrente, entre outras causas, da degradação das agências reguladoras.Se elas não houvessem sido atraídas para a órbita do Palácio, continuassem a ser de fato independentes, dirigidas de forma profissional, Rosemary, ou Rose, desembarcada em Brasília na comitiva do primeiro governo Lula, de quem foi secretária pessoal, não teria montado um esquema de tráfico remunerado de influência a partir de agências reguladoras (ANA, de águas, e Anac, agência de aviação civil).
Um dos sinais do poder do esquema foi a pressão para a aprovação pelo Senado da indicação de Paulo Rodrigues Vieira, apadrinhado de Rosemary, para a ANA. Rejeitado uma vez, o Planalto reapresentou o nome e conseguiu aprová-lo. Na sexta-feira, a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, prendeu Paulo e o irmão, Rubens Carlos Vieira, encaixado na diretoria de infraestrutura aeroportuária da Anac - uma das mais aparelhadas das agências reguladoras.
A demonstração do alcance do esquema é o envolvimento do segundo no organograma da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber Holanda. Dilma agiu com rapidez e demitiu todos, ainda no sábado, como necessário. Mas é preciso se conhecer o mapeamento desta teia de negociação de pareceres e outros "negócios".
Por ironia, no mensalão, ainda em julgamento, e neste novo escândalo repetem-se dois personagens: José Dirceu, "chefe da quadrilha" do mensalão e de quem Rosemary foi secretária no PT antes de ir trabalhar ao lado de Lula; e o indefectível mensaleiro Waldemar Costa Neto (PR-SP), pilhado em negociações com o esquema. E mais uma vez surge um descuidado Lula, "traído" no mensalão e agora "apunhalado pelas costas" por Rose e protegidos.
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