domingo, 15 de maio de 2011

"Bolha" latino-americana

CESAR MAIA
FOLHA DE SÃO PAULO

A teoria da catástrofe, de René Thom, aplicada à política, diz que descontinuidades que se passam por surpreendentes são, na verdade, explicadas como uma corrente submarina, não percebida por quem só vê a superfície.
Nas últimas duas semanas, o FMI, em relatório sobre a América Latina, e a revista "The Economist" apontaram no mesmo sentido: forma-se uma "bolha" na região capaz de estourar em alguns meses.
O Brasil é citado como um dos casos mais delicados.
Lembram que não se pode tratar, simultaneamente, de controlar a inflação e desvalorizar o cambio. A presidenta Dilma Rousseff disse que está dando uma "guerra contra a inflação", expressão que denota insegurança -e mais coisas não ditas.
A crise de 2008-09, ao contrário da de 1997-98, não tirou capitais dos países emergentes. Ao contrário: com taxas generosas de juros e estando fora do epicentro dos países desenvolvidos, continuaram a atrair capitais, produzindo uma valorização quase generalizada do câmbio.
Hoje, para cada 10% de crescimento da China, o impacto na América Latina, via commodities, é de uns 4%. Viramos uma periferia da China.
Mas as autoridades chinesas falam em reduzir esse ritmo.
Sendo assim, o impacto continental seria significativo.
E a isso se agrega a crise europeia e a necessidade dos EUA enfrentarem seu deficit fiscal.
O paraíso das commodities não será o mesmo. Em mais um tempo, garantem, a taxa de juros nos EUA vai ter que subir, atraindo capitais que migraram para os emergentes.
As razões da "bolha" brasileira estar crescendo na frente das demais (com exceção da Argentina) estão nos próprios dados oficiais divulgados, com parcimônia, para não assustar os investidores.
A inflação já sinaliza para mais de 7%. O PIB, neste ano, deve crescer 3,5%. A expansão do crédito embute uma inadimplência potencial crescente. O deficit em conta-corrente vai para US$ 60 bilhões.
A balança comercial da indústria foi de um superavit de US$ 18 bilhões para um deficit de US$ 22 bilhões em cinco anos. O deficit comercial nos derivados do petróleo (um país autossuficiente!) passou de US$ 3 bilhões para US$ 18 bilhões em dez anos.
Como dizia Simonsen, "a inflação fere, mas o balanço de pagamentos mata". Ao que tudo indica, o terremoto de 2008-09 entrou com grau 8 nas economias desenvolvidas e vai chegando nas emergentes com graus um pouco menores. E, no Brasil, com mais um efeito: o político.
O "desconforto" de 2011 vai levar a base da sociedade a fazer comparações. Injustas, mas que vão afetar a popularidade da presidenta até o final do ano. E não se pode afrouxar em 2011 para 2012, pois a eleição que importa para ela e para eles será em 2014.
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