O Estado de S.Paulo
Ao avaliar de acordo com novos critérios a evolução do processo de inovação na América Latina, o Insead, uma das principais escolas de negócios da Europa, chegou a conclusões animadoras e até surpreendentes. Em relatório que publica anualmente, em parceria com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), uma agência especializada da Organização das Nações Unidas, o Insead apontou uma notável evolução do Brasil no Indicador Global de Inovação (GII, na sigla em inglês). Entre 125 países analisados, o Brasil ocupa o 47.º lugar, 21 posições à frente da classificação obtida no relatório de 2010, e agora à frente da Rússia e da Índia. De acordo com o estudo do Insead e da Ompi, o Brasil cria muito com poucos recursos e, por isso, no quesito da eficiência dos governos em inovação e criatividade está em 7.º lugar, à frente das principais economias industrializadas.
No capítulo sobre os avanços recentes da América Latina no campo da inovação - isto é, o desenvolvimento de novos produtos, mudanças nos processos produtivos, métodos de marketing e evolução do ambiente econômico e do modelo de negócios -, o relatório afirma que o tema passou a ocupar uma posição destacada entre as principais preocupações dos governantes e dos dirigentes das empresas. O ambiente político e econômico da região ficou mais favorável para a atividade produtiva e para a inovação, em razão da adoção de políticas fiscais mais rigorosas e claras e, depois da crise global, de medidas que evitaram a estagnação econômica.
Sem deixar de considerar na devida proporção elementos conhecidos e essenciais para aferir o grau de inovação nas economias nacionais e nas empresas - como os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o número de patentes requeridas e registradas anualmente, a participação dos produtos de alta tecnologia na pauta de exportações de um país e a produtividade média da economia, entre outros -, o relatório do Insead/Ompi leva em conta outros fatores de grande relevância na América Latina.
Um deles é a inovação num país com abundantes recursos naturais. O exemplo de política pública eficiente nessas condições, citado pelo relatório, é o trabalho da Embrapa, que tem estimulado o cultivo das variedades mais adequadas a cada região do País. Outra política destacada pelo Insead e pela Ompi é a formação de nichos tecnológicos com apoio público ou privado, como os arranjos produtivos locais estimulados pelo Sebrae. Na inovação voltada para a preservação ambiental, o relatório cita o desenvolvimento do etanol no Brasil, que transformou a América Latina na segunda maior região produtora de biocombustível do mundo.
O relatório observa que, para melhorar sua posição no mundo, a América Latina precisa melhorar seu capital humano - pesquisadores, empreendedores, gerentes, empregados, fornecedores e clientes -, melhorando o sistema de educação formal em todos os níveis e o treinamento e retreinamento da mão de obra.
Os governos precisam assegurar ambiente adequado para a produção e a inovação, oferecer condições adequadas para o desenvolvimento da pesquisa científica e garantir a estabilidade das regras para a atividade econômica e a infraestrutura necessária, inclusive por meio de uma rede ampla de internet de alta velocidade. É preciso, também, que haja fonte de financiamentos para as empresas empreendedoras.
São condições conhecidas há muito tempo, mas que o Brasil ainda não consegue oferecer. Dos 125 países examinados, o Brasil ocupa a 95.ª posição no que se refere à qualidade do sistema de ensino superior. Quanto a ambiente para a realização de negócios, a posição brasileira é ainda pior: 118.ª. Além de ter uma carga tributária classificada entre as 5 piores entre os 125 países, o Brasil é o penúltimo em termos de rapidez na abertura de novos negócios. Tudo isso tem muito a ver com a ação do poder público.
Por isso, o avanço do Brasil no campo da inovação depende muito mais do governo do que do setor privado.
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