O Estado de S.Paulo
As realizações sociais e econômicas que temos visto no Brasil nos últimos anos são notáveis. Precisamos incluir mais pessoas no futuro global. Não podemos estabelecer limites para o crescimento. Mas de que tipo de crescimento precisamos? Crescimento econômico a qualquer custo?
O crescimento, per se, não é nosso inimigo, nem nosso problema. É a maneira como crescemos - e a maneira como continuamos a crescer - que nos apresenta um desafio comum.
Uma criança nascida hoje é uma dentre 7 bilhões de seres humanos e, durante a sua vida, essa criança verá a população mundial crescer outros 3 bilhões. Mais pessoas terão acesso à classe média, inclusive no Brasil. São boas notícias.
Mas até essa criança nascida hoje fazer 18 anos, em 2030, o mundo precisará de, pelo menos, 50% mais alimentos, 45% mais energia e 30% mais água. Todo dia, o equivalente a 24 mil campos de futebol de florestas é desmatado ou queimado. Dentro de 20 anos nosso abastecimento de água atenderá a apenas 60% da demanda mundial. Esses são os tipos de desafio que hoje nos confrontam.
Quando levamos essas cifras em consideração, fica claro que continuar como vamos não é opção. E estaremos enganados se pensarmos que essa é a opção menos dispendiosa. Em verdade, não é. Ao contrário, é cara demais.
É por isso que precisamos de um modelo de crescimento mais sustentável. Essa é uma das recomendações-chave no novo relatório do Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global da ONU, do qual tive a honra de participar. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, criou esse painel e nos convidou a elaborar uma visão de longo prazo com vista à conferência Rio+20, a ser realizada em junho no Brasil.
Assim, precisamos redefinir o crescimento. E lidar com a mudança climática é uma parte crucial desse modelo de crescimento sustentável. A mudança climática é um multiplicador de ameaças e sem ação climática o próprio futuro estará em jogo.
O crescimento favorável ao clima deve ser inteligente para produzir mais com menos insumos. Obter mais usando menos. O que nos beneficiará a todos. Inclusive ao Brasil.
É importante que todos os países - incluindo as economias emergentes - contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa. É evidente que países diferentes, com economias diferentes, deverão fazer coisas diferentes. Mas o importante mesmo é que todos contribuam para um uso mais eficiente dos recursos.
Na Europa, já estamos reduzindo nossas emissões. Temos metas obrigatórias de redução de emissões e renováveis, um preço para o carbono e medidas de eficiência energética. E estamos procurando maneiras mais inteligentes de tributar menos o que se ganha e mais o que se queima.
Aprendemos duas lições importantes na Europa. Primeiro, que as metas obrigatórias funcionam. Ajudam os governos a manter o foco, mesmo quando surgem outras prioridades políticas. Em segundo lugar, que sinalizar com os preços ajuda. Impulsiona a inovação e os investimentos mediante a criação de incentivos permanentes à redução de emissões, mesmo durante a pior crise econômica em décadas.
É, por isso, crucial estabelecer um preço para a poluição ambiental, de maneira a construir um modelo sustentável de crescimento global. O Painel sobre Sustentabilidade Global recomenda que até 2020 todos os governos estabeleçam tais sinais/preços valorizando a sustentabilidade, de maneira a orientar as decisões de consumo e investimento dos lares, das empresas e do setor público.
Temos de fazer os poluidores pagarem. Mas fazê-lo de maneira inteligente, usando mecanismos de estabelecimento de preços e mercados de carbono. Assim, também poderemos levantar recursos adicionais para investimentos e desenvolvimento sustentável, especialmente nos países em desenvolvimento.
A Conferência do Clima em Durban (COP 17), na África do Sul, no final do ano passado, foi um passo importante no sentido de confrontar o desafio climático. E o Brasil foi uma força ativa e construtiva para se obter um resultado favorável: um acordo para se iniciarem negociações sobre um arcabouço jurídico global realmente novo para ação climática. Um acordo que reflita a realidade de mundo interdependente de hoje.
Isso é importante não apenas porque o Brasil é especialmente vulnerável a condições climáticas extremas, severas e frequentes, mas também porque a transição para uma economia global de baixo carbono representa uma enorme oportunidade de modernizar as nossas economias, estimular o crescimento e gerar empregos.
Assim, a boa notícia para todos é que a sustentabilidade não implica menor crescimento econômico. A sustentabilidade obtém-se mantendo e melhorando a qualidade de vida, enquanto garantimos que a poluição não solape o crescimento econômico. Sustentabilidade quer dizer maneiras mais inteligentes de produzir, cidades mais inteligentes, com ar mais limpo e menos poluição, menos barulho e menos congestionamentos. Sustentabilidade quer dizer lares mais eficientes do ponto de vista energético. Sustentabilidade significa contas de energia mais baixas.
Os líderes mundiais precisam utilizar a conferência Rio+20 para colocar o desenvolvimento sustentável no coração da agenda econômica global, que é o seu lugar, e não um meio ambiente isolado das decisões econômicas mais importantes.
Como fizemos em Durban, agora a tarefa da União Europeia e do Brasil é trabalhar, juntos, para encontrarem soluções realmente globais, confiantes e orgulhosos da nossa liderança nessa área. Usemos a reunião de cúpula Rio+20 para iniciar a transição global para um modelo de crescimento sustentável para o 21.º século. Essa é a transição de que o mundo tanto precisa.
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