terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

DIFÍCIL TRANSPOSIÇÃO

EDITORIAL
JORNAL DO COMMERCIO (PE)



Uma coisa é ouvir falar da transposição de águas do Rio São Francisco, das dificuldades que o programa vem tendo, das reações contrárias, das denúncias de irregularidades, até do abandono das obras. Outra coisa, bem mais grave, é atravessar hoje as rodovias pernambucanas em trechos onde até meados do ano passado era possível ver homens e máquinas empenhados no que parecia realmente a obra redentora para milhões de pessoas que sofrem o impacto cíclico das secas.

Nossa reportagem foi ver esse cenário e o que viu é extremamente preocupante: percorreu vários canteiros de obras abandonados, áreas deterioradas, trechos iniciados e abandonados, desperdício de dinheiro público, dramas humanos. Isso pode ser facilmente visto e sentido em Floresta, Custódia, Sertânia, onde as obras do canal de transposição mostram rachaduras ou estão tomadas pelo matagal.
Aí o ouvir falar se transforma em espanto, tristeza, indignação, porque o que seria uma obra para dar mais esperança a 12 milhões de nordestinos que vivem no Semiárido está virando terra arrasada, mais uma das obras públicas que fazem a crônica histórica do desperdício de dinheiro do contribuinte, de todos os brasileiros que acionam a cada segundo aquele mecanismo criado pelas entidades de classe paulistas – o Impostômetro – que no começo deste mês já detectava uma arrecadação de tributos superior a R$ 170 bilhões.

O cenário documentado e mostrado por este jornal confirma os insistentes protestos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que encara a transposição como mais uma obra da indústria da seca, como as que vêm elegendo políticos há mais de um século. Acompanhando o abandono dos grandes canteiros de obras que iluminaram o Nordeste até o ano passado, a CPT denuncia o encarecimento da obra em 36%. 

Há, no caminho da transposição, incontáveis obstáculos que deveriam ter sido previstos, pela dimensão da obra e seu impacto na economia da região. São questões que deságuam no Tribunal de Contas da União (TCU) e, mesmo, na Controladoria Geral da União, ou que fazem as obras sofrer embargos por trâmites burocráticos, por questionamentos jurídicos.

O governo diz que as obras paralisadas e os desgastes daí decorrentes serão de responsabilidade das empreiteiras, que não haverá nenhum custo adicional para os cofres públicos. Não é o que parece o correr dessa história. O custo mais imediato é o mal que a paralisação da obra está fazendo a milhares de trabalhadores. O que vem a seguir é a expectativa da retomada das obras simultaneamente com a preocupação com o trabalho destinado a suprir de infraestrutura os dois grandes eventos esportivos internacionais que iremos sediar. É difícil imaginar que esses dois canteiros de obra gigantescos serão ativados ao mesmo tempo. Mas devemos, sim, aceitar a promessa do ministro Fernando Bezerra Coelho de que no segundo semestre teremos o impulso definitivo para a transposição. Uma promessa restauradora da esperança que o início das obras gerou no Nordeste.
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