domingo, 12 de fevereiro de 2012

Infraestrutura do Rio requer R$ 15,8 bi

Eis um trabalho responsável do jornal O Globo onde elabora uma radiografia da caótica situação de infra-estrutura da cidade do Rio de Janeiro.

Há de se considerar também, dentre outros fatores, os viventes eventuais da cidade apenas no horário comercial e, a noite, prosseguem para suas residências em cidades do entorno, mais de vinte distintas.

Este impacto, não devemos jamais nos esquecer, também advém da esperada e justa ascensão das classes E e D para os bens básicos e a C para bens e serviços mais sofisticados.

Ressalte-se, todavia, que este também é e será o problema de muitas outras cidades com mais de cinco milhões de habitantes, que não são poucas.

Vale a pena ler toda a reportagem e, eventualmente, até utilizá-la antes de se atribuir culpas aleatoriamente.



Infraestrutura do Rio requer R$ 15,8 bi
É este o investimento público e privado necessário para o Rio superar gargalos de infraestrutura

Luiz Ernesto Magalhães
O Globo


Para superar gargalos de infraestrutura expostos em casos como o desabamento e as falhas nos transportes de massa, o Rio vai precisar de R$ 15,8 bilhões em investimentos públicos e privados até 2020 R$ 15,8 bilhões em dez anos.

O Rio de Janeiro está na moda: em 2011, os hotéis fecharam o ano com 78% de média de ocupação, a cidade é cenário de filmes de Hollywood e a sensação de segurança melhorou com a ocupação das favelas. Mas a cidade também chama a atenção por colecionar tragédias e problemas nos últimos tempos, decorrência de uma infraestrutura ultrapassada. 

Panes frequentes nos trens se somam a problemas no metrô, nas barcas e aos intermináveis congestionamentos. Tendo como referência o ano de 2010, especialistas ouvidos pelo GLOBO estimam que, até 2020, serão necessários R$15,8 bilhões em investimentos públicos, privados e financiamentos para revitalizar e ampliar as redes de transportes, urbanizar favelas e modernizar galerias de gás e energia. Nesta conta não estão incluídas obras que particulares terão que fazer para reformar imóveis degradados

O descompasso entre investimentos e a recuperação do prestígio carioca ficou tão evidente quanto as recentes tragédias: nos últimos 18 meses pelo menos 38 pessoas morreram (23 apenas na queda do Edifício Liberdade, no Centro) e 120 ficaram feridas (50 no descarrilamento do bondinho de Santa Teresa). 

Para especialistas, populismo foi nocivo.

Para especialistas, a origem do problema está na crise econômica da década de 80. Na avaliação do coordenador do Observatório das Metrópolis do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional (Ippur/UFRJ), Luiz César de Queiroz Ribeiro, todas as grandes cidades brasileiras sofreram na chamada "década perdida". Particularidades do Rio, porém, agravaram as consequências. Para Queiroz, governos populistas não adotaram políticas públicas duradouras: - O Rio tenta, mas ainda não conseguiu recuperar a capacidade gerencial que tinha antes da década de 80. Os quadros que se aposentaram não foram repostos na mesma quantidade - observa Luiz César. 

Especialista em planejamento urbano, o professor do Instituto de Economia da UFRJ Mauro Osório também identifica falhas nas políticas públicas como a origem dos problemas. Segundo ele, a situação se agravou porque o estado conviveu, a partir da primeira administração Chagas Freitas (1971-1975), com um ciclo de governadores populistas, encerrado apenas em 2006. Na esfera municipal, o fim do poço chegou em 1998 quando o então prefeito Saturnino Braga, sem recursos para honrar seus compromissos, decretou a falência do Rio. 

A crise econômica atrapalhou

Nesses anos faltou planejamento para manter a cidade atrativa para investimentos - afirma Mauro. Moacyr Duarte, da Coppe, especialista em gerenciamento de risco, concorda. Para ele, salvo algumas exceções como a Geo-Rio (empresa da prefeitura especializada no monitoramento de encostas), os órgãos responsáveis por fiscalizar a cidade ainda trabalham como se estivessem nos anos 70. - Qualquer obra para ser licenciada pela prefeitura ainda exige a apresentação de plantas em papel. Os arquivos digitais não são utilizados - critica. - Exigir agilidade com a estrutura oferecida para fiscalizar uma cidade como o Rio é o mesmo que tentar esvaziar uma piscina olímpica com baldes em lugar de mangueiras de sucção. A falta de investimentos no transporte de massa é lembrada por especialistas. Investimentos públicos e privados não foram feitos nos períodos previstos nos contratos originais do metrô, barcas e trens. 

A privatização dos sistemas, nos anos 90, não surtiu o efeito desejado. 

Para o coordernador da Escola de Políticas Públicas e Governo da UFRJ, Luiz Alfredo Salomão, não se pode atribuir as deficiências no transporte apenas à falta de recursos. - Os trens da rede ferroviária fluminense chegaram a transportar 1 milhão de pessoas por dia. Correspondiam a 80% da demanda por transporte da cidade. No fim do governo Marcello Alencar (1998) eram 70 mil usuários. E na privatização, os critérios não levaram em conta a capacidade financeira dos investidores para modernizar o sistema, que continuou a depender de recursos públicos - analisa Luiz Salomão. Faixas exclusivas para o transporte de massa não entraram nos grandes investimentos feitos na malha viária da cidade - a construção das linhas Amarela e Vermelha, que ajudaram a desafogar os gargalos do trânsito. 

E a cidade também perdeu algumas chances mesmo quando teve oportunidades.

 Em 1992, ganhou seu primeiro Plano Diretor, considerado um dos mais modernos do país. No ano passado, um novo texto foi aprovado pela Câmara dos Vereadores sem que a maior parte das diretrizes previstas há 20 anos fossem regulamentadas. As autoridades, por sua vez, garantem que a situação já está sendo revertida com um papel mais ativo do poder público. - Os contratos foram renegociados e o estado estimulou a entrada de grupos na operação de transporte de massa com maior possibilidade de investimentos. Também investimos numa política de subsídios com o bilhete único. Os primeiros novos trens do metrô já chegaram e estão em testes. Corrigir um problema de décadas demora - argumentou o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes. O secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, observa que a prefeitura também está tendo um papel mais ativo. Um dos exemplos é o monitoramento de bueiros com risco de explosão. - A primeira questão que tivemos de enfrentar não era como iríamos recuperar os serviços da cidade, mas como fazer para que eles parassem de piorar.

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