quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

UM SINAL DE ATRASO

EDITORIAL
ESTADO DE MINAS


Brasil ainda está longe da meta de reduzir a mortalidade materna

"Menos pior" é comentário jocoso que traduz o pensamento do falante com economia de vocábulos. Em português formal, dir-se-ia melhorou, mas continua ruim, muito ruim. É o que ocorre com a mortalidade materna no Brasil. A taxa caiu 19% no primeiro semestre de 2011, mas ainda é muito alta — o dobro da meta estabelecida pelos Objetivos do Milênio, da Organização das Nações Unidas (ONU). No período, nada menos de 705 mulheres perderam a vida durante a gestação ou em decorrência de complicações do parto. No ano anterior, a cifra bateu em 870 óbitos. Segundo o Ministério da Saúde, os dados indicam que o Brasil pode atingir taxa média de 63 mortes para cada 100 mil nascidos vivos contra 68 por 100 mil em 2010. Se confirmados, os números significam que o país deu o maior salto qualitativo desde 2002. Mas é pequeno diante da defasagem agravada durante décadas. Mesmo que mantenha o índice de queda, não terá condições de cumprir a meta fixada pela ONU em 2000 — 35 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos em 2015. Especialistas estimam que não levaremos menos de 25 anos para atingir o objetivo.
É, sem dúvida, um atestado de incompetência. A morte materna se caracteriza por óbito ocorrido durante a gestação ou até 42 dias depois do parto. A hipertensão é o maior carrasco. Responde por 13,8 das mortes maternas (para cada 100 mil nascidos vivos em 2010). Seguem-na hemorragia (7,9), aborto (4,2), infecção pós-parto (4,2), doenças circulatórias (3). Causas externas, como acidentes ou homicídios, não são computadas na estatística. Observe-se que os grandes vilões se devem a complicações que só ocorrem na gravidez. Impõe-se, portanto, combatê-los sem trégua. O acompanhamento pré-natal deve ser ampliado. É fundamental a rede de atendimento do sistema de saúde estar ao alcance da população mais vulnerável – a maioria jovens sem informação e sem recursos para recorrer à medicina privada.
A esta altura, parece claro que o assunto não deve mais se restringir à esfera pública. O governo tem, sim, de promover ampla campanha de esclarecimento público. Candidatas à mãe precisam conhecer a responsabilidade de gerar um filho e as condições para obter sucesso no parto e pós-parto. As escolas não podem ficar à margem do processo. Nem os clubes de serviço. Nem a igreja. Nem a família. É importante a aliança de todos em busca do objetivo comum — salvar vidas. É desnecessário lembrar que a morte da mãe sem sempre deixa órfão apenas o recém-nascido. Em geral, outros filhos ficam no desamparo. Não só. É cada vez maior no país o número de mulheres arrimo de família. Perdê-las quando se pode poupá-las constitui prova de atraso e negligência. Não é esse, com certeza, o retrato que o Brasil persegue.
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