O Globo
O Brasil foi escolhido em outubro de 2007, quase cinco anos atrás, para sediar a próxima Copa do Mundo. Logo em seguida à sagração, pela Fifa, da candidatura brasileira ouviram-se advertências sobre a necessidade de os organismos envolvidos na organização do evento, o poder público à frente, evitarem os erros que haviam sido cometidos ao longo da preparação do Rio para abrigar os Jogos Pan-Americanos daquele mesmo ano. Confirma-se agora que eram justificados os insistentes alertas, à época rebatidos como apressadas manifestações de catastrofismo. A pouco mais de dois anos do Mundial de 2014 (e a um do começo da Copa das Confederações, parte do pacote da Copa) já se passou mais da metade do tempo concedido ao país para se preparar, e muito pouco foi feito.
É cada vez mais preocupante o ritmo das obras que o país se comprometeu a fazer para a Copa. O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, minimiza os atrasos no cronograma, mas as certezas da mais alta autoridade do governo envolvida diretamente com o evento se assentam apenas em profissões de fé. A realidade escanteia seu otimismo: das 101 obras do Mundial, apenas cinco foram entregues. Esse quase insignificante naco das intervenções previstas reúne investimentos de R$ 200 milhões - menos de 1% dos 27 bilhões destinados para estádios, aeroportos, portos e mobilidade urbana. Até abril, 55 projetos ainda estavam em andamento e 41 (40%) sequer haviam saído do papel. Os números, divulgados pela Pasta do otimista ministro Rebelo, justificam as cobranças que a Fifa vem fazendo, com base em análises próprias do andamento das obras no país.
Nesse gargalo confundem-se incompetência gerencial do poder público, indícios de esperteza (de agentes envolvidos nos processos de liberação, contratação e realização de obras) e dogmatismo militante. No primeiro caso, fica patente que os governos envolvidos no projeto Copa (em maior escala, o federal, fonte da maior parte dos recursos a serem desembolsados) não estão dando conta de seus compromissos; no segundo, suspeita-se haver, em certos casos, o mesmo movimento verificado na preparação do Pan de 2007, de se criar embaraços para reduzir o tempo de execução de projetos, de modo a abrir o campo para a entrada de expedientes como a burla a legislações e revisões orçamentárias, em nome da premência do tempo (mesmo que as obras já se beneficiem de um regime especial); no terceiro, com empecilhos principalmente na modernização administrativa dos aeroportos, estão as digitais do preconceito ideológico contra a necessária privatização da gerência dos terminais.
Em relação aos estádios a preocupação parece menor. Mas, quando entra no disputa para sediar a maior competição de futebol do planeta, o país se compromete a arcar com os custos (financeiros e administrativos) de preparar as cidades-sedes (intervenções urbanísticas, melhoria do sistema de transportes, modernização dos meios de mobilidade urbana etc.) para os eventos. Ou seja, não basta garantir o conforto dos torcedores dentro das praças esportivas, mas assegurar-lhes facilidades (de locomoção, hospedagem e alfandegárias) para chegarem até os locais dos jogos - e nisso vamos mal. O otimismo do ministro dos Esportes o leva a criticar o preconceito com "obras no papel". A questão, no entanto, é outra: trata-se de determinar com que velocidade elas sairão das pranchetas.
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