EDSON LUIZ
Correio Braziliense
Nos últimos meses, mais de uma centena de municípios do Nordeste passam por graves problemas causadas pela seca, drama que se repete há muito tempo. Desta vez, alguns estados, como a Bahia, vivem uma situação que não se via há quase meio século. Em tempos modernos, dificilmente a estiagem causa milhões de vítimas, como ocorreu em outras épocas, quando cerca de 4% da população foi dizimada de forma cruel, entre 1877 e 1879. Também muita coisa mudou, e para melhor, com o passar dos anos. A miséria caiu bastante, os serviços públicos melhoraram e houve uma evolução no saneamento básico.
Mas era para ser diferente. A seca é um fenômeno da natureza e não depende de ano ou da ação do poder público. Se há a prestação de serviços para a população, a estiagem não chega a ser problema sério. Se existem, por exemplo, condições para manter a agropecuária, o gado e as plantações não mais perecerão. Mas, apesar da melhoria que houve nos últimos anos, há uma carência de atendimento, principalmente em algumas regiões nordestinas. No Piauí, o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) está restringindo a água de algumas barragens, quando seria necessário ter criado, lá atrás, alternativas para o futuro.
Também outras questões deveriam ser revistas no momento. No Rio Grande do Norte, cidades sob estado de emergência por causa da seca mantiveram os festejos juninos, cujas atrações são artistas renomados, tudo pago com recursos que poderiam ter sido investidos na prevenção dos efeitos da estiagem. Na Bahia, imperou o bom senso e diversos municípios cancelaram eventos. Mas, entre vários motivos, existe um que mantém o sertanejo refém da seca: a política.
Hoje, muito nordestino já trata a estiagem apenas como fenômeno da natureza, felizmente. Mas ainda falta muito para o momento em que o flagelo só existirá nas belas canções de Luiz Gonzaga. Até lá, água e festa junina representarão votos, principalmente daqueles atingidos pelo drama, que é a camada mais pobre da população, hoje nas mãos dos candidatos. A seca continua sendo a vilã e eles os salvadores da pátria.
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