quarta-feira, 16 de maio de 2012

Das embarcações à globalização



Luis Alberto Moreno e Haruhiko Kuroda
Valor Econômico



Em geral, nós entendemos a globalização como um fenômeno moderno. No entanto, há praticamente cinco séculos, Ásia e América Latina eram grandes parceiros comerciais.

As embarcações comerciais espanholas navegavam frequentemente pelo Oceano Pacífico, entre Manila e Acapulco, para comercializar especiarias e seda vindos da Índia e da China em troca da prata das grandes minas do México e Peru. A relação entre o que se conheceu como Índias Orientais e Índias Ocidentais era sólida e rentável.

Hoje estamos testemunhando uma intensificação nas relações históricas entre Oriente e Ocidente. Desde 2000, o comércio entre a Ásia, América Latina e o Caribe cresceu a uma taxa média anual de 20%, chegando a quase US$ 442 bilhões em 2011. Atualmente, a China é o segundo maior parceiro comercial na América Latina, disputando a liderança com os Estados Unidos.

Além disso, os fluxos de investimentos estrangeiros diretos entre as duas regiões aumentaram significativamente durante a última década, a partir do impulso de empresas da China, Japão e Coreia no território asiático, e Brasil e México na América Latina. Em apenas oito anos, foram firmados 18 acordos de livre comércio entre as economias de ambas as regiões. Há outros quatro acordos firmados e mais oito em fase de negociação.

Cada região está focada em sua vantagem comparativa. A Ásia exporta bens manufaturados em troca de produtos primários como minerais, recursos energéticos e agrícolas da América Latina.

Hoje estamos testemunhando uma intensificação nas relações históricas entre Oriente e Ocidente. Desde 2000 o comércio entre a Ásia, América Latina e o Caribe cresceu a uma taxa média anual de 20%, chegando a quase US$ 442 bilhões em 2011

Essa dinâmica relação de investimento e comércio ajudou a América Latina e Caribe a registrarem um crescimento médio de 4,8% na última década, e a Ásia, um crescimento de 7%. Isso reduziu a pobreza e elevará grande parte da população em ambas as regiões no segmento da classe média para a próxima década, o que ajudará a manter o dinamismo da nossa economia. De fato, hoje as nossas regiões são dois motores essenciais do crescimento, que dependem fortemente, e de maneira gradual, o restante das economias mundiais.

Um estudo publicado na última semana pelo instituto do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) oferece uma visão sobre esta nova parceria dinâmica.

O relatório "Construindo o futuro das relações entre América Latina, Caribe e a Ásia" não só descreve o grande potencial de aprofundamento dos laços econômicos, como também, e provavelmente isso seja o mais importante, descreve a variedade de oportunidades para compartilhar o conhecimento de desenvolvimento e as experiências que poderiam ajudar ambas as regiões a administrar o crescimento de uma forma que lhes permita maximizar a igualdade social e minimizar o impacto ambiental.

A América Latina pode aprender muito dos sistemas de educação de primeiro nível da Ásia, do alto nível de tecnologia e ciência, das políticas externas que levam à formação de cadeias de suprimentos regionais, das parcerias do setor público com o setor privado, e das iniciativas regionais de cooperação financeira.

A Ásia poderia se beneficiar da análise das experiências na América Latina para reduzir a pobreza, as políticas dos programas de proteção social, as práticas de produtividade agrícola e a promoção das cidades sustentáveis.

Devemos trabalhar juntos para ampliar o investimento e o comércio inter-regionais: a Ásia não é apenas China, Índia e Japão, assim como a América Latina é mais que Brasil, México e Argentina.

É necessária uma melhor conectividade. Devemos cooperar para melhorar a nossa infraestrutura, logística e facilitação de atividades comerciais inter-regionais. Há muito que podemos fazer para criar clima favorável para os negócios, e promover o investimento do setor privado em produtos, serviços e tecnologias com valores agregados mais elevados. Ambas as regiões precisam superar o atual modelo de "produtos primários por manufaturas" do comércio e investimento.

A combinação de estratégias de desenvolvimento externas, o clima propício para o negócio e o investimento contínuo em capital humano, ajudará a manter o progresso alcançado pela Ásia e América Latina.

Para garantir o máximo de impacto de conhecimentos inter-regional compartilhado, o Banco Asiático de Desenvolvimento e o Banco Interamericano de Desenvolvimento estabeleceram um acordo de cooperação Sul-Sul para ajudar a seus membros a lidar com questões complexas como integração regional, infraestrutura, energias renováveis, mudanças climáticas, desenvolvimento institucional e políticas sociais.

Como presidentes das instituições financeiras líderes de desenvolvimento em ambas as regiões, este ano participamos de nossos respectivos encontros anuais pela primeira vez, para destacar a importância das relações sólidas, que transcendem o estímulo ao comércio e ao investimento.

Como parceiros, nós compartilhamos a participação no crescimento sustentável, que protegerá os nossos recursos naturais e o meio ambiente, maximizará as vantagens comparativas de cada região e promoverá o desenvolvimento social equitativo.

Embora alguns de nós chamem este momento de "a década da América Latina e do Caribe", outros o chamam de o "século asiático". Acreditamos que se trabalharem juntas, as duas regiões compartilharão uma era de progresso e prosperidade que os capitães dessas antigas embarcações não poderiam sequer imaginar.

Luis Alberto Moreno é presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e participou da reunião anual do Banco Asiático de Desenvolvimento realizada na última semana em Manila

Haruhiko Kuroda é o presidente do Banco Asiático de Desenvolvimento
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