Vamos ver se há coerência nas ações da Chefe de Estado Brasileira.
Fabio Murakawa
Valor Econômico
O pedido de asilo feito ontem pelo senador boliviano Roger Pinto à presidente Dilma Rousseff criou uma saia justa para a diplomacia brasileira. Ele ocorre num momento delicado na relação bilateral, em meio a uma extensa agenda negativa que os dois países têm de resolver.
Roger Pinto, líder da opositora Convergência Nacional, chegou anteontem à Embaixada do Brasil em La Paz acompanhado de outros três parlamentares: as senadoras Jeanine Añez e Carmen Eva Gonzáles e o deputado Adrián Oliva. Autor de várias denúncias de corrupção contra o governo e de conexão de funcionários públicos com o narcotráfico, Pinto alegou ser vítima de perseguição política em seu país e disse estar sofrendo ameaças de morte. Aos diplomatas brasileiros, o senador afirmou ser alvo de 20 processos judiciais por "desacato", todos ligados às suas denúncias. Por esse delito, ele pode pegar até três anos de prisão.
Os demais parlamentares passaram a noite na representação diplomática brasileira "em solidariedade ao senador Pinto" e saíram ontem pela manhã. Pinto ficou e pediu asilo político ao Brasil, que faz fronteira com o seu Departamento (Estado), Pando.
A chegada do novo "hóspede" deixou o Itamaraty em uma situação delicada. Se o Brasil não concede o asilo, pode ser acusado de virar as costas para a situação dos direitos humanos no país vizinho. Se concede, pode irritar o governo Evo Morales em um momento em que os dois países têm uma agenda recheada de temas negativos. A Bolívia está prestes a devolver ao país cerca de 400 veículos roubados em território brasileiro, após intensa pressão de Brasília. Além disso, ainda não está totalmente solucionado o imbróglio envolvendo uma estrada financiada pelo BNDES no país. Morales retirou a obra da brasileira OAS em abril e ameaça executar a garantia bancária, o que sujaria o nome da construtora internacionalmente.
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que o "o Brasil acompanha de perto a situação". O Itamaraty afirmou que os contatos estão sendo feitos "no mais alto nível" entre os dois países. Mas a sensação é que o governo brasileiro não sabe ao certo o que fazer. O Brasil cogita pedir a La Paz um salvo-conduto para que o senador seja transferido da embaixada ao aeroporto - por conta dos processos judiciais, ele está proibido de sair do país. Caso isso seja negado, corre-se o risco de que a embaixada brasileira em La Paz viva uma situação parecida com a de Honduras em 2009, quando abrigou por mais de quatro meses o presidente Manuel Zelaya, deposto por um golpe militar.
A senadora de oposição Centa Rek, que esteve ontem na embaixada, disse ao Valor que há pelo menos outros 15 parlamentares na mesma situação de Pinto e que podem pedir asilo a outro país a qualquer momento, "talvez o Brasil". Já Jeanine Añez contou que esteve com Oliva na semana passada em Brasília e que denunciou a perseguição a parlamentares bolivianos aos senadores Fernando Collor (PTB-AL), presidente da Comissão de Relações Exteriores, Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos.
Eles foram ciceroneados por Sérgio Petecão (PSD-AC), que disse conhecer o senador Pinto de longa data. "Eu já o aconselhei várias vezes a fugir do país. Mas não sabia que ele iria à embaixada", afirmou.
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