Folha de S.Paulo
Um time se torna forte, emocionalmente, aos poucos, com conversas diárias e silêncio
Não sou, nem nunca fui, jornalista, escritor, filósofo, psicanalista e, muito menos, intelectual. Escrevo isso porque me incomodo quando alguém diz ou escreve o contrário.
Sou apenas um ex-médico (dediquei-me muito à medicina durante uns 20 anos) e, agora, um colunista, metido a entender de futebol e que gosta de um filosofês e de um psicologês.
Para falar menos besteiras sobre isso, fiz cursos de psicologia, de psicanálise e de filosofia, sem nenhuma ambição profissional, acadêmica nem literária. Reuni minhas crônicas em um livro porque fica mais fácil lê-las.
Tentei escrever um livro de contos, de ficção, relacionados ou não ao futebol. Parei. Já li tantos contos excepcionais que fico constrangido em publicar coisas banais. Há também muitas coisas ruins nas livrarias. Não quero colocar mais uma.
Tento fugir dos lugares-comuns e, muitas vezes, não consigo. A vida, em sua maior parte, é um lugar-comum. Acabo de escrever mais um. Todos somos repetidores. Só os gênios são originais. E eles são cada dia mais raros.
Há anos, critico as óbvias e ridículas palestras de autoajuda, motivadoras, tão frequentes na sociedade e no futebol. Um time forte emocionalmente se forma aos poucos, nas conversas diárias, individuais e coletivas, nos olhares sinceros e no silêncio. Não com palestras de motivação.
Mudo de assunto. Nas férias, estive no sul da França. Em Nice e em Marselha, fui, várias vezes, de ônibus, para cidades próximas. Passava o dia lá e voltava à tarde. Pagava um euro para ir e um euro para voltar. Os ônibus, mais ou menos de meia em meia hora, confortáveis, com turistas e habitantes locais, paravam em vários pontos, rigorosamente nos horários. Será que teremos isso durante e depois da Copa de 2014? Não pode ser apenas no Mundial. A Copa é um grande evento, mas não é a coisa mais importante do mundo.
Mudo de assunto de novo. Os caríssimos ingressos no Brasil fazem parte do plano de elitizar o futebol. Aumentaram os preços, e os torcedores continuam mal tratados. As partidas da seleção no Brasil, como deve ocorrer também na Copa, já são assim, com ingressos mais caros, com torcedores que não são habituais nos estádios. Torcem balançando as bandeirinhas e cantando aquela música chata: "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor".
Espero que os novos estádios tenham setores com ingressos mais baratos e outros mais caros. Todos com conforto e segurança.
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