MOISÉS NAÍM
FOLHA DE SP
Livro mostra como a empresa americana, na década de 1990, virou a gigante que é hoje
Na semana passada, a ExxonMobil, com receita de US$ 450 bilhões (isso mesmo, bilhões), desbancou a Wal-Mart na primeira posição da lista Fortune 500. A maioria dos países não tem receita dessas dimensões.
Também na semana passada, Stephen Coll, um dos jornalistas investigativos mais incisivos do mundo, lançou um livro sobre o qual vinha trabalhando havia anos: "Private Empire" (Império Privado).
O livro trata de como, na década de 1990, a ExxonMobil tornou-se a gigante que é hoje.
A essência dessa história é que a natureza do trabalho da ExxonMobil -encontrar óleo e gás em qualquer parte do planeta e levá-los a consumidores de energia em todo o mundo- é imensamente cara e requer investimentos de longo prazo.
Coll explica que "os investimentos da Exxon em um campo específico de óleo e gás podem ser baseados na premissa de um ciclo de vida produtivo de 40 ou mais anos. Durante esse tempo, os Estados Unidos podem mudar de presidente e de políticas externas e energéticas pelo menos meia dúzia de vezes."
No exterior, a situação é ainda pior, com golpes, revoluções e violência sendo ainda mais comuns. "Vemos governos irem e virem", observou certa vez Lee "Iron Ass" Raymond, legendário CEO da Exxon.
Esses grandes investimentos são muito vulneráveis à volatilidade, isto é, a mudanças nas regras impostas por governos, geradas pelas ações de empresas rivais ou de ONGs que lutam pelo meio ambiente, pelos direitos humanos e por outras causas sociais que podem se chocar com os interesses da companhia. A ExxonMobil tornou-se muito hábil em combater a volatilidade.
"Os lobistas da corporação moldaram e distorceram a política externa americana", escreve Coll, "além de sua regulamentação econômica, climática, química e ambiental". O livro também explica como a empresa foi bem-sucedida em limitar o êxito de cientistas e ativistas que lutaram para mudar regras relativas às emissões de carbono que levam ao aquecimento global.
As mudanças advindas nos anos 1990 foram muito boas para a companhia, na medida em que muitos países antes fechados a investidores estrangeiros passaram a lhes dar as boas-vindas. À medida que o alcance global da Exxon foi mudando, seus vínculos com o país de origem se tornaram ainda mais tênues.
"Em alguns momentos, os interesses amplamente dispersos da Exxon foram diferentes dos de Washington", observa Coll, e Raymond "não administrou a corporação como instrumento subordinado da política externa americana; seu império foi um império privado".
O próprio Raymond expressou isso com ainda mais franqueza: "Não sou uma companhia dos EUA e não tomo decisões com base no que é bom para os EUA".
"Conciliar não era o modo de agir da Exxon", afirma Coll. Uma de suas conclusões mais reveladoras é que "a ExxonMobil obedece às leis, sim. Estou convencido de que ela realmente se atém às regras."
É claro que é fácil para uma empresa ater-se às regras quando, como mostra este livro, em muitos casos é ela própria quem as redige.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário